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“Quero milhões de beijos por essa ação heroica”, disse o capitão

No WhatsApp, o militar apontado como infiltrado disse que manifestantes estavam sendo perseguidos Willian Pina Botelho também contou por que não foi detido e se gabou por isso

Marina Rossi

Antes de ser banido do grupo de manifestantes que teve 21 participantes detidos no domingo 04, o militar Willian Pina Botelho - ou Balta, como se identificava nas conversas do aplicativo - disse que estava seguro de que o grupo estava sendo perseguido. "Eu tenho certeza que fomos seguidos", disse, às 17h27. As detenções ocorreram cerca de duas horas antes daquela mensagem e os manifestantes apontam Botelho, que é capitão do Exército, como infiltrado.

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No momento da detenção, Botelho estava com os 21 manifestantes. Quando eles foram levados para a delegacia, o militar já não estava mais. No WhatsApp, justificou sua ausência entre os detidos dizendo que portava um documento de identidade falso. "Falei pro PM que eu não tava com ninguém [do grupo]. Que estava ali porque ia sair com uma mulher casada", escreveu. Usou um termo criminal para se explicar. "Menor potencial ofensivo", disse ele. De acordo com o Código Penal, quem for pego portando identidade falsa pode ser punido com três meses a um ano de pisão, ou apenas pagar uma multa "se o fato não for constituído como crime mais grave".

Ainda no grupo de WhatsApp, Botelho pediu para que os demais não falassem dele. Ele afirmava ter medo de retaliações no trabalho - ele dizia ser gerente de projeto para as meninas que conhecia no Tinder, outra rede que usava para se aproximar de manifestantes. "Não falem de mim. Se meu chefe saber [sic] ele me demite", escreveu.

Enquanto todos os demais estavam preocupados com os detidos, ele dizia que queria se infiltrar nas manifestações dos grupos a favor do impeachment. "A gente tá querendo [se] infiltrar na manifestação dos coxas", disse, se referindo de maneira jocosa aos manifestantes anti-Dilma.

Ao longo das duas horas, entre a detenção dos 21 e o banimento do militar do grupo - quando os demais perceberam que ele seria o infiltrado - Botelho também se gaba por ter se safado. "Gente. Eu quero milhões de beijos por essa ação heroica", escreveu.

Ele disse que os policiais perguntaram o que é black bloc, e ele teria respondido que em Minas Gerais - ele é da cidade mineira de Lavras - eles não sabem. Também disse para que os demais não se preocupassem com ele. "Eu to separado deles [o grupo que foi para a delegacia]", afirmou.

Em dado momento, o grupo discute enviar a notícia das detenções para a rede de notícias Mídia Ninja. O militar então questiona o por quê. Um dos participantes diz que é porque estão prendendo pessoas sem "alegação coerente". É quando Botelho afirma que "tem coisa na mochila das meninas".

Nos pertences dos detidos, a polícia encontrou máscaras usadas em construção civil, equipamentos de primeiros socorros, capacete, máquina fotográfica, pilha, bateria e um extintor de incêndio. É o que consta no Boletim de Ocorrência registrado no momento em que o grupo deu entrada na Delegacia Estadual de Investigações Criminais (Deic).

Até o fechamento desta reportagem, a secretaria de Segurança Pública de São Paulo não havia respondido por que Botelho, que foi enquadrado com os demais no Centro Cultural naquele domingo, não foi levado para a delegacia com o grupo.

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