O museu dos horrores da arte
O MOBA exibe, em Massachusetts, mais de 500 obras que acabaram sendo um desastre
Algumas das principais atrações turísticas das grandes cidades são os seus museus. O Louvre, em Paris, onde está exposta a Mona Lisa, o Museu do Prado, em Madri, onde As Meninas encantam os visitantes, ou o Museu de Arte Moderna de Nova York (MoMA), que expõe a obra Latas de Sopa Campbell, de Andy Warhol. Mas, no Estado de Massachusetts (EUA), nos arredores de Boston, há uma galeria que, em vez de obras-primas, expõe os piores fracassos artísticos. Bem-vindos ao MOBA (Museum of Bad Art), que desde 1994 mostra as criações mais desastrosas em nome da arte. “Tudo começou quando um dos fundadores encontrou a primeira peça, Lucy in the Field With Flowers, em uma pilha de lixo na rua. Em seguida, encontraram outras, e foram exibidas no porão de uma casa. A coleção foi crescendo na mesma medida que o número de visitantes, e assim nasceu o MOBA”, diz o curador-chefe, Michael Frank, ao EL PAÍS.
“Não escolhemos obras de arte malfeitas de propósito ou sátiras. Focamos em trabalhos realizados com uma intenção profissional, mas que, durante o processo, algo deu terrivelmente errado”, diz Frank. As peças do museu são compradas em lojas de segunda mão, achadas no lixo ou doadas por colaboradores. Mas, geralmente, não se gasta mais do que 20 ou 30 dólares (entre 65 e 96 reais) nas obras — o MOBA exibe principalmente pinturas e algumas esculturas —, e Frank enfatiza que é pouco provável que elas cheguem a valer mais do que “alguns dólares” no futuro. “A primeira coisa que observo ao receber uma peça é a má aplicação da técnica utilizada, elementos muito exagerados e qual mensagem o artista quer transmitir. Isso me ajuda a decidir se aceito ou recuso algo para nossa coleção”, comenta Frank, que está há mais de 12 anos no MOBA: “Sou guitarrista profissional, e me escolheram como responsável por ser o que mais fazia doações de quadros”.
O museu conta com três galerias em Somerville, South Weymouth e Brookline, todas cidades próximas a Boston, e mais de 500 peças na coleção. “Com o grande número de obras que temos, buscamos comemorar os fracassos dos artistas de uma forma saudável. Não zombamos ou ofendemos os trabalhos, e sim fornecemos um espaço para que sejam expostos ao público”, afirma. Às vezes, alguns pintores pedem para retirar suas pinturas por medo de que suas carreiras sejam prejudicadas. “Todo o mundo da arte nos conhece e sabe quem somos, até mesmo nos vê como algo cool’, diz Frank, orgulhoso.
"Buscamos comemorar os fracassos dos artistas de uma forma saudável", diz o curador-chefe, Michael Frank
Como muitos museus mais famosos e por incrível que pareça, o MOBA também tem sido vítima de uma série de roubos ao longo de sua história. Em 1996, uma das obras mais importantes do museu, Eileen, foi roubada da antiga sede principal. Depois da queixa à polícia e da publicação da notícia nos meios de comunicação locais, o museu conseguiu arrecadar 37 dólares (120 reais) como recompensa para qualquer pessoa que soubesse o paradeiro da pintura. Apenas 10 anos depois alguém ligou com informações sobre a obra, pedindo uma recompensa de 5.000 dólares (16.000 reais). O museu rejeitou a chantagem e conseguiu um acordo entre as autoridades e o criminoso: se devolvesse a obra intacta, não seria acusado de qualquer crime. Pouco tempo depois, o quadro foi devolvido.
Em 2004, outra obra foi roubada do museu: Self-Portrait as a Drainpipe. Na cena do crime, foi deixado um bilhete pedindo uma recompensa de 10 dólares para a devolução do quadro. O MOBA novamente ignorou a proposta. E, finalmente, o quadro foi devolvido com uma doação de 10 dólares pelo ladrão. Os roubos fizeram o museu reforçar seu esquema de segurança: foi instalado um sistema de câmeras falsas com uma placa explicando que não funcionavam.
Apesar de não ter as exposições milionárias dos grandes museus, o MOBA conseguiu sobreviver por mais de duas décadas com o descartado e ignorado pelo mundo da arte. “Nunca vou entender o mercado da arte. Veja como há algumas coisas que valem milhões, e temos coisas igualmente interessantes no museu que, com muito esforço, conseguem custar alguns dólares”, avalia Frank. Apesar da entrada ser livre, o museu tem independência econômica graças às doações de dinheiro e artísticas de seus colaboradores, o espaço físico cedido para as galerias e vendas de souvenires. O MOBA recebe, aproximadamente, 2.000 visitantes por ano, tem cerca de 40.000 seguidores no Facebook e já realizou exibições em outras cidades dos EUA, Canadá e Taiwan. Para fazer a doação de uma obra de arte para o museu, basta enviar uma fotografia da peça por e-mail: MOBAcurator@gmail.com.
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