CEO do Tinder: “Acabamos com o estigma que tinha usar um aplicativo de encontros”
O CEO do mais popular aplicativo de paquera não impõe limites ao uso. A política e o comércio eletrônico entram em seus planos. Estão lançando o Tinder Social
Sean Rad (Los Angeles, 1986) é um dos gênios do momento. Filho de imigrantes iranianos, cresceu perto de Beverly Hills. Em 2012 lançou um aplicativo que transformou o celular na melhor ferramenta para encontrar parceiros e parceiras. O criador e CEO do Tinder quer que não seja usado só para encontros. Já funciona em 196 países. A cada dia se concretizam mais de 26 milhões de encontros, embora as opções sejam muitas, mostram até 1,4 bilhão de encontros potenciais por dia. São os usuários que as tornam realidade ou não arrastando a foto do aspirante à esquerda, para recusar, ou à direita, para aceitar. Esse gesto é o famoso swipe (deslizar). Na Espanha se repete até 25 milhões de vezes por dia.
Rad chega ao restaurante no centro de Londres atordoado pelo jet lag, mas animado. Conversa com um sorriso e não deixa de mostrar seu celular. Permite seu iPhone para testar as últimas novidades do Tinder com toda a confiança.
Pergunta. Por que Tinder Social?
Resposta. Percebemos que se aproveita melhor em grupo. Para quebrar o gelo, socializar e ter experiências mais ricas. Não é obrigatório participar. Cada membro do evento pode aceitar ou recusar. Damos o poder aos usuários. Eles decidem se arrastam à direita (swipe right) para aceitar o plano e depois podem dizer de maneira individual se gostam de cada membro. O que queremos é que façam novos contatos, amizades e planos. Desde seu nascimento, o Tinder propiciou mais de 20 bilhões de conexões.
P. Que atividades oferecem?
R. Várias: karaokê, piscina, viagem de carro... Vamos acrescentar mais e, principalmente, adaptar a cada lugar para que encaixe nos gostos locais. Na Espanha as atividades serão diferentes dos Estados Unidos.
P. Podem se comunicar entre si?
R. Depois que aceitam participar da atividade, sim. Quando termina o evento, o grupo caduca e desaparece. Manter o vínculo depende deles, do que tiverem vivido no mundo real.
P. Como definiria o Tinder?
“Solucionamos o problema atual da falta de tempo”
R. É um aplicativo para encontrar gente nova e sair. Serve para socializar, ampliar o círculo. Não é só encontrar parceiros, tem muito mais possibilidades.
P. Arrastar o polegar à esquerda ou à direita para recusar ou aceitar se tornou um gesto popular, de uso comum...
R. Já é parte da cultura popular. Para nós significa muito, é uma honra. Acabamos com o estigma de usar um aplicativo de paquera. Agora é normal, porque é eficiente. Quem usa Tinder não é mais o esquisito.
P. As pessoas não vão mais paquerar nos bares?
R. Vão, claro, mas paqueram mais pelo Tinder. Acontece que o mundo mudou. Agora as pessoas passam mais horas no trabalho, é preciso ir de um lugar a outro, as agendas são mais apertadas. O Tinder soluciona esse problema social de falta de tempo. Torna-o mais simples e próximo.
P. Nos Estados Unidos é possível comprar pizza pelo Tinder, vão transformá-lo em uma loja?
R. Vimos que é muito cômodo comprar uma pizza com um único gesto. A partir daí as portas estão abertas. Temos um público numeroso e as ações são simples. Estamos abertos a acrescentar o que for bom para nossos usuários.
P. Também o usaram para ajudar a escolher o candidato eleitoral. Por que?
“Ajudamos a escolher o candidato eleitoral porque queremos um público ativo”
R. Porque queremos que o público seja ativo e tome decisões. O Tinder quer resolver problemas.
P. O Facebook criou vários aplicativos a partir da rede social, como o messenger. É uma moda que começa a ser comum, vamos ver um Tinder para cada coisa?
R. Não, vamos melhorar o Tinder. Vamos oferecer serviços adicionais, mas tudo com a simplicidade que nos caracteriza e no mesmo aplicativo.
P. Uma das críticas mais frequentes a seu serviço é a segurança. O que recomenda aos usuários para que estejam seguros?
R. Para começar, o Tinder é mais seguro que o mundo real. Você tem o controle de quem vê seu perfil, o que você publica e compartilha. Também diz se alguém te interessa ou não. É claro que sempre há pessoas mal-intencionadas. É preciso cuidado, mas sobretudo bom senso. Ficar em um lugar público com mais pessoas é muito recomendável. Não informar o celular ou o e-mail, por exemplo...
P. Vocês oferecem Tinder Plus, um serviço pago com mais de um milhão de assinantes. Por que alguém pagaria por isso?
R. Porque consideram que agrega valor. Não tem publicidade, podem usá-lo sem um limite de pessoas para escolher e, caso se arrependam de recusar alguém, têm uma nova oportunidade.
P. Os SuperLikes são outra novidade, para que servem?
R. Sua aceitação nos surpreendeu. Servem para dizer que você gosta realmente de alguém, que está mesmo interessado em contatar. São limitados e os adicionais são pagos precisamente para isso, para que tenham valor. Quem recebe um superlike é notificado.
“O Tinder é mais seguro que o mundo real. Você está no controle”
P. O campo dos encontros online está muito concorrido. Tem o Match.com, o OkCupid… o que pensa disso?
R. Existem cada vez mais, mas pequenas. Somos os únicos com escala global, com uma proposta interessante para todos. O fato de não nos limitarmos nos tornou melhores.
P. Há uma tendência que dá mais poder de decisão às mulheres, como Adopta un tío na Espanha e o Bumble nos Estados Unidos. O Tinder não é para elas?
R. Pensamos muito em agradar ao público feminino. No público todo sempre há duas partes envolvidas. No futuro vão ver mais mudanças.
P. Por outro lado, foram um dos primeiros a ser inclusivos com opções LGBT...
R. Acreditamos que todos somos iguais. O correto é que todo mundo tenha acesso ao mesmo espaço, Tinder, e uma vez ali dentro definam o que procuram, o que querem, o que lhes interessa...
P. Qual seria a alta temporada no Tinder?
R. Ninguém quer estar sozinho no dia dos namorados. Entre o Ano-Novo e o Valentine’s Day (14 de fevereiro) notamos um grande pico. E também no verão (junho a agosto no hemisfério norte). Compartilhar as férias com alguém especial também é um incentivo para usar nosso app.
P. Chama a atenção o fato de o Tinder estar sediado em Los Angeles e não no Vale do Silício. Por que?
R. Sou dali. Não acredito que seja necessário ir a São Francisco para vencer. Com a tecnologia é possível construir uma grande empresa em qualquer lugar, Madri, Londres… Não importa onde você está.
P. Como estão indo no mundo latino?
R. Gostamos de pensar de maneira global, não por países. No fundo, as necessidades são comuns. Mas reconheço que temos dois países especiais. A Espanha, onde percebemos que adoram viajar e estão entre os mais ativos da Europa. E o México, que está entre os cinco primeiros em atividade mundial.
P. O que consideraria um sucesso para o Tinder?
R. Possibilitar conexões que agreguem valor, que marquem sua vida.
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