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Trump questiona o compromisso dos Estados Unidos com a OTAN

Republicano condiciona defesa dos aliados a uma maior contribuição financeira deles à organização

Donald Trump, nesta quarta-feira, na convenção republicana de Cleveland.Foto: reuters_live | Vídeo: MICHAEL REYNOLDS (EFE) / REUTERS
Marc Bassets

Se o candidato republicano Donald Trump ganhar a eleição presidencial de novembro, os dias dos Estados Unidos como aliado leal aos seus parceiros europeus podem estar contados. Antes do discurso de encerramento da convenção republicana em Cleveland, Trump declarou que, se for presidente, não se sentirá obrigado a defender os países da OTAN em caso de ataque externo, como prescreve o tratado da aliança militar ocidental. As declarações do magnata nova-iorquino evidenciam o abismo que o separa das mais arraigadas tradições republicanas, da economia à política externa.

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“Há muitos membros da OTAN que não pagam as contas”, diz Trump em uma entrevista ao The New York Times, numa alusão à baixa contribuição financeira de vários sócios em comparação ao valor pago pelos EUA.

Quando o Times lhe pergunta se os Estados bálticos, que são membros da OTAN, poderiam confiar na ajuda dos EUA em caso de um ataque russo, Trump responde: “Eles cumpriram suas obrigações conosco? Se cumprirem com suas obrigações conosco, a resposta é sim”.

“E se não?”, rebate o Times.

“Bem”, responde Trump. “Não digo ‘se não’. Digo que há atualmente muitos países que não cumpriram suas obrigações conosco.”

A convenção termina, na noite desta quinta, com muitas dúvidas sobre a capacidade de Trump para unir um partido que o enxerga com ceticismo. O discurso do senador Ted Cruz, no horário nobre televisivo da quarta-feira, expôs as divisões em carne viva. Cruz, pré-candidato derrotado por Trump nas eleições primárias, se absteve de pedir voto para o candidato, o que motivou sonoras vaias por parte dos delegados.

A obrigação da defesa mútua é o núcleo da OTAN, o que em última instância lhe dá sentido. Um ataque contra um membro é um ataque contra todos. Desvincular-se dessa obrigação rompe com quase sete décadas de envolvimento dos EUA na segurança europeia. E rompe também com o internacionalismo militar do Partido Republicano, cuja liderança assumiu oficialmente Trump em Cleveland. Este é, afinal de contas, o partido de Eisenhower, Reagan e Bush pai, políticos que situaram o vínculo transatlântico no centro da sua política externa.

Na mesma entrevista, Trump ameaça retirar os Estados Unidos do Acordo de Livre Comércio da América do Norte (TLCAN ou NAFTA, na sigla em inglês) com o México e o Canadá. “Se não consigo uma mudança [no tratado] sairia imediatamente do NAFTA”, diz.

Um ataque contra um membro da OTAN é um ataque contra todos. Desvincular-se dessa obrigação rompe com quase sete décadas de envolvimento dos EUA na segurança europeia

Não é a primeira vez que Trump expressa dúvidas sobre a validade da OTAN. Mas a clareza com que formula essas ameaças, e o fato de fazê-lo na véspera do discurso de encerramento da convenção –certamente o mais importante de sua campanha– que torna inevitável sua candidatura, multiplica o impacto de suas palavras. A possibilidade de que Trump seja presidente, que até poucos meses atrás poucos levaram a sério, é real, e os parceiros e aliados medem milimetricamente cada palavra.

“Ele não tem um conhecimento sofisticado da política de segurança americana, então segue seus instintos e diz esses absurdos. Agora que é candidato não pode haver mais tolerância com isso”, diz em Cleveland ao EL PAÍS Mike Murphy, ex-assessor de políticos republicanos como John McCain e Mitt Romney, candidatos à presidência em 2008 e 2012, respectivamente. “Potencialmente pode se tornar num problema”. De acordo com Murphy, “minar a aliança da OTAN refletirá o julgamento pobre de Trump e ele será prejudicado”. Murphy cogita que, no discurso de encerramento, Trump poderia tentar retificar.

O argumento de Trump é que os EUA gastam uma quantidade enorme de dinheiro protegendo os países ricos e que estes poderiam pagar a conta. Não se refere só aos países europeus, mas também aos aliados asiáticos, outro pilar da política externa norte-americana desde o fim da Segunda Guerra Mundial. São países, diz Trump, “com uma riqueza imensa. Estamos falando de países que estão numa situação muito boa. Então, sim, estaria absolutamente bem preparado para dizer a esses países, ‘Parabéns, vocês vão se defender sozinhos’”.

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