Revezamento no Reino Unido
Em apenas 20 dias Londres fecha a crise política causada pelo Brexit e May vai substituir Cameron

Dando uma louvável lição de eficácia e pragmatismo britânicos — que, como todos os tópicos, têm uma base de verdade —, os conservadores do Reino Unido estão prestes a superar uma das armadilhas mais perigosas que surgiram após sua derrota no referendo sobre a permanência do seu país na União Europeia. Nesta terça-feira, algumas horas após três semanas da votação que deu a vitória ao Brexit, David Cameron — artífice da arriscada e desastrosa convocatória — vai apresentar sua renúncia para ser substituído como primeiro-ministro e líder do partido Tory pela até agora ministra do interior, Theresa May.
Assim, Londres vai enfrentar o espinhoso e complicado mecanismo da sua saída da União com um novo governo, evitando assim a paralisia política. Um processo para o qual foram necessários apenas 20 dias e que torna inevitável as comparações com situações mais próximas e que se prolongam além do razoável.
May, partidária — com condições — da permanência do seu país na União Europeia, já deixou claro sua lealdade ao mandato resultante das urnas. “Brexit significa brexit e vamos transformá-lo em um sucesso”, ressaltou essa ministra caracterizada por seu perfil técnico e pouco dado ao exagero.
Não devemos confundir as simpatias de May — ou melhor, sua não beligerância — em relação ao projeto europeu com um presságio de que Londres está pensando em mudar de postura. De maneira nenhuma. A futura primeira-ministra sempre foi muito enfática sobre a imigração procedente da União Europeia, e este é um dos pontos mais espinhosos a serem abordados na saída britânica das instituições europeias.
Em qualquer caso, o Reino Unido aposta na estabilidade e isso é uma boa notícia, pois o Parlamento britânico pode solicitar a ativação do procedimento formal de retirada da União Europeia e começar as negociações da saída.