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Editoriais
São da responsabilidade do editor e transmitem a visão do diário sobre assuntos atuais – tanto nacionais como internacionais

A heroína está de volta à Europa

Autoridades devem tomar medidas antes que o problema se espalhe

Carregamento de cocaína apreendida pelos policiais catalães em 2014.
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A oferta cria a demanda. No mundo das drogas, essa é uma máxima bem conhecida. Os dados publicados neste sábado por este jornal indicam que as redes de tráfico de drogas estão reintroduzindo grandes quantidades de heroína na Europa. O aumento nas apreensões sugere que, se não forem tomadas medidas preventivas, o aumento da oferta pode voltar a transformar a heroína em um grave problema de saúde pública. O fenômeno ainda não teve incidência sobre as estatísticas de consumo, mas, se não for contido, é uma questão de tempo até que isso ocorra.

Desde que as tropas norte-americanas e as forças de paz da Organização das Nações Unidas deixaram o Afeganistão, a produção de ópio voltou a crescer fortemente. De lá, vai para a Turquia e é distribuído na Europa, tendo a Holanda como um grande centro de distribuição. O fato de terem sido encontrados na Espanha dois laboratórios clandestinos de processamento de morfina indica que os traficantes esperam desenvolver um mercado forte no país. O que já se observa nos Estados Unidos serve como um aviso aos navegantes. O uso de heroína cresceu nesse país e as mortes por overdose se multiplicaram: 8.200 pessoas, na maioria jovens, morreram nos EUA em 2013 por esse motivo, quatro vezes mais do que em 2000.

O problema é que o aumento do consumo ocorre ao mesmo tempo em que cresce o padrão de dependência de várias drogas simultaneamente. Na verdade, os centros de reabilitação têm observado, em ambos os lados do Atlântico, que a heroína é utilizada com frequência para compensar o efeito excessivamente de euforia da cocaína e das anfetaminas. O fato é que o problema das drogas tinha saído nos últimos anos das prioridades da agenda política, mas nos Estados Unidos a dependência de diferentes substâncias, incluindo medicamentos opiáceos de prescrição médica, já causa mais mortes do que os acidentes de trânsito.

Não se trata de ser alarmista, mas de alertar sobre o problema e mobilizar recursos de prevenção quando ainda há tempo de evitar as piores consequências. A heroína é uma das drogas mais devastadoras para a saúde física e mental dos usuários. A dependência resulta em um rápido processo de degradação social que leva a uma exclusão total. Pelo que sabemos da sociedade norte-americana, o uso de heroína deixou de ser concentrado em áreas carentes e agora alcança jovens de todos as classes.

A lembrança do que aconteceu na década de 1980 deveria nos levar a avaliar muito seriamente esses dados. Felizmente agora temos evidências para evitar os erros que cometemos no passado, incluindo a aplicação de políticas criminalizadoras que agravaram o problema, pois permitiram que muitos dependentes contraíssem AIDS e propagassem a doença. Agora sabemos que a prevenção é fundamental e que as políticas de redução de danos são mais eficazes para resgatar os dependentes. Mas temos de fazer o possível para não precisarmos aplicá-las.

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