Murray para Nadal em Madri
O escocês, soberbo, terá a oportunidade de revalidar seu título depois de bater o espanhol Djokovic ou Nishikori será seu rival na final
Depois de 13 vitórias consecutivas no saibro, de erguer dois troféus e de assinar a sequência mais esperançosa dos últimos tempos, Rafael Nadal cedeu. O tenista de Manacor caiu diante de Andy Murray (7-5 y 6-4, depois de duas horas e 11 minutos), ante um esplêndido Murray que no domingo terá a oportunidade de revalidar o título obtido no ano passado em Madri. O britânico, número dois do mundo, enfrentará o vencedor da outra semifinal, a ser disputada na tarde deste sábado entre o número um, Novak Djokovic, e o japonês Kei Nishikori.
Na Caixa Mágica de Madri se percebia desde o início um ambiente de tensão. Porque o senhor Murray, com todo o respeito, não é nem Andrey Kuznetsov (inconsistente), nem Sam Querrey (registro único) nem Joao Sousa (fraco), os rivais anteriores nesta edição. O britânico, jogador com maiúsculas, deu um salto qualitativo sobre o saibro durante o último ano. Já não concebe a arena como um território estranho. Decifrou sua linguagem, a patinação e a interpretação dos tempos, a pausa; aprendeu a elaborar o ponto com um registro diverso, sob o firme propósito de dar o golpe este ano em Roland Garros.
Ele, campeão no ano passado, foi quem teve a iniciativa na primeira parcial. Tentou cercar Nadal para impedir que ele alçasse voo. Examinou vez ou outra o tenista espanhol com direitas planas e reveses profundos, com golpes liftados que fizeram o espanhol andar em seu perímetro de um lado a outro. E Nadal não teve o melhor despertar na partida. Um voleio claro que tropeça e permite um ponto do escocês; várias bolas muito curtas; um golpe que leva a bola ao céu e aterrissa em um dos camarotes... nem estava sagaz, nem Murray lhe permitia estar.
O britânico quebrou o quarto set (3-1) e tomou distância. Não oferecia nem uma só fresta, um flanco por onde lhe pudesse causar dano. À sua ofensiva se uniu sua solidez defensiva, sua capacidade para recuar e devolver a bola nas posições mais forçadas. Nadal não encontrava uma única brecha, e apesar da circunstância não ficou de joelhos. Animicamente recuperado, rebateu o escocês à base de audácia e o que parecia irremediável (5-2 contra) foi se transformando em um cenário bem mais esperançoso. O tenista de Manacor remou e remou, até fender o muro com um break e conseguir o equilíbrio.
Erosão sem efeito
Ocorre que Murray, este novo Murray que desfruta do saibro, atua em Madri como o Nadal de antes. Domina e impõe, e é capaz de reverter uma inércia negativa, tanto no plano puramente técnico como da perspectiva mental. Por isso logrou escapar da confusão, do Nadal que o fustigava (5-5) e o oprimia pouco a pouco, de um público que o empurrava para fazer com que seu herói sentisse um impulso extra: “Rafa, te amoooo!”, se declarou uma jovem da arquibancada. No entanto, nem o amor nem a erosão surtiram efeito. Murray se livrou do apuro, arrematou o primeiro set e na prolongação do enfrentamento manteve a mesma linha de autoridade e bom governo.
Nadal, batido no ano passado na final pelo tenista de Dunblane, não via nada claro. Suas opções passavam por tirar do escocês o bastão do mando, tocar-lhe no nervo e alterar o perfil psicológico da partida. Não esteve muito longe, com esse último fiozinho de esperança (break para 5-4), mas no final não teve jeito. Não acertou (2/13 em opções de quebrar, demasiada indulgência nesse sentido) e encerrou a sequência vitoriosa que trazia desde Montecarlo –dois troféus e 13 vitórias sucessivas. Não houve um último trem para o tenista de Manacor.
Não houve porque Murray jogou de modo majestoso, com elegância e inteligência, como se já fosse um especialista na terra batida. Seu repertório de golpes, em formato variado, foi delicioso. Com essa diversidade de estilo acelerou a marcha (4-2) e açambarcou a vitória, que o conduz diretamente a uma nova final em Madri. Adiante estará o número um, Novak Djokovic, ou o japonês Kei Nishikori.
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