O cantor congolês Papa Wemba morre em show na Costa do Marfim
Conhecido como o rei da rumba congolesa, sua morte comoveu todo o continente africano
O rei da rumba congolesa morreu. Aos 66 anos, Papa Wemba – uma verdadeira lenda da música africana –, faleceu em plena apresentação no sábado à noite, dia 23, enquanto fazia um show em Abiyán, Costa do Marfim. O artista, que caiu no palco, sofria há alguns meses de malária cerebral, que pode ser a causa de sua morte. Durante alguns segundos, seus músicos continuaram tocando, até que se deram conta e interromperam a apresentação, que ocorria no Festival de Músicas Urbanas de Anoumabo. Não poderia ser de outra forma para um artista tão prolífico e intenso. Morrer em ação.
Na verdade, chamava-se Jules Shungu Wembadio Pene Kikumba e nasceu em Lubefu, em 1949, no antigo território do Congo belga, hoje República Democrática do Congo (RDC). Desde pequeno começaram a chamá-lo de Papa, porque era o primogênito de sua mãe, uma carpideira profissional e ex-vocalista que o levava aos enterros, nos quais o menino começou a atrair atenção interpretando canções fúnebres. No entanto, seu pai, um ex-soldado que lutou no Exército belga durante a Segunda Guerra Mundial, queria que o filho estudasse Jornalismo ou Direito.
Nos anos sessenta, já instalado na capital e com o pseudônimo de Jules Presley, Papa Wemba começa a sobressair-se nos ambientes musicais de Kinshasa e participa da criação do Zaïko Langa Langa, um dos grupos mais famosos da RDC que, em um grito de rebeldia, vira do avesso a rumba tradicional congolesa e a leva para passear pelos palcos de todo o país e do continente. Depois de participar de outras bandas, como Isifi Lokole e Yoka Lokole, já transformado em figura nacional, monta sua própria marca, Viva la Música, e se entroniza como o rei do movimento musical da República Democrática do Congo.
África e Caribe se abraçam em suas canções. Não foi só a sublimação de um estilo tradicional, mas a inclusão dos ritmos de Cuba e Costa Rica, tão africanos em sua origem como se fosse uma viagem de ida e volta, para o nascimento de algo novo. No entanto, nos anos oitenta e noventa, depois de se instalar na Europa, é que chega o reconhecimento internacional. Colabora com artistas como Peter Gabriel, Manu Dibango, o senegalês Youssou N’Dour, Alpha Blondy, Aretha Franklin, Stevie Wonder e Angelique Kidjo. Sua discografia é enorme e recebe prêmios em todo o mundo, seus discos vendem aos centenas de milhares na França, Estados Unidos, Espanha, Grã-Bretanha...
Se a rumba foi a plataforma de lançamento com a qual triunfou não só em seu continente como nos ambientes africanos de Paris ou Bruxelas, outros estilos como o rock, o ndombolo ou a world music o enalteceram como artista global. Mas, para além da interpretação musical, Papa Wemba foi um homem multifacetado.
Descobridor de uma infinidade de cantores e artistas, como Koffi Olomidé, tornou-se uma das grandes referências da Sociedade de Criadores e Pessoas Elegantes, um movimento nascido em Brazzaville, do outro lado do rio Congo, nos anos vinte do século passado e que se estende rapidamente também por Kinshasa, no qual seus membros se vestem imitando olook dândi da época colonial. É a elegância como estilo de vida e o artista congolês multifacetado, um de seus gurus. Além disso, fez suas pontas no cinema como ator e compositor.
O capítulo mais obscuro de sua vida começou em 18 de fevereiro de 2003, quando Papa Wemba teve um entrevero sério com as autoridades francesas. Condenado por imigração irregular depois de constatar-se que em suas turnês introduzia pessoas na Europa em troca de dinheiro, passou três meses e meio na prisão francesa de Fleury-Merogis. Tal era sua fama que o Governo congolês pagou uma exorbitância para libertá-lo. No entanto, o incidente nunca apagou a fulgurante carreira do rei da rumba. A África toda e boa parte do mundo choram sua morte hoje.
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