Você mandaria um ‘nude’ para o seu melhor amigo?
O ‘frexting’ faz mais pela aceitação do corpo que os livros de autoajuda
Como nos explicaram no primário, o ser humano tem três funções vitais básicas: comunicação, alimentação e reprodução. E, na medida do possível, tentamos realizar todas elas on-line.
A comunicação é a única que pode chegar ao clímax através de nossos polegares e de um smartphone, mas para a alimentação e a reprodução temos aplicativos. O Glovo, por exemplo, leva a comida que você quiser à sua porta, e o Tinder leva à sua porta... bem, acho que você entende o que quero dizer. É cada vez maior a parte de nossa vida que se desenvolve on-line.
Assim nasceu o sexting (sex + texting,ou sexo + troca de mensagens), isto é, manter “relações sexuais” através do celular, seja em aplicativos de paquera (como Tinder, Grindr e Brenda) ou com a apropriação de alguns de outra índole (como Instagram e Snapchat).
Há uma crença popular de que compartilhar a nudez de nossos corpos é um ato de egocentrismo, mas essa teoria tristemente tão aceita não resiste a muita análise. A linguagem evolui, e a verdade é que o celular e as redes sociais são o nosso novo espelho. E quem nunca se olhou pelado no espelho?
Movimentos como #FreeTheNipple (que busca a igualdade entre mamilos masculinos e femininos) e #Nutscapes (belas fotos de paisagens em que aparecem testículos desfocados) tentam normalizar e encontrar um canto válido para a nudez on-line.
Dessa forma, temos no nosso celular uma pasta com nudes, permitindo uma investigação sobre ângulos, poses e iluminação. Todos nós buscamos também lugares onde nos mostrar sexualizados, a autopornificação, e onde melhor para isso do que num ambiente seguro. É aí que entra o frexting.
O frexting (de friends [amigos] + sexting) é a prática de enviar aos amigos fotos com certo conteúdo erótico, com nudez, mas sem nenhum objetivo sexual.
Espera-se que os amigos respondam com curtidas e emojis, especialmente o do fogo, o gato com olhos de coração e o aplauso.
O termo frexting foi cunhado pela escritora Kelly Williams Brown, que aconselhava em seu perfil do Tumblr, chamado Adulting, enviar nudes só para amigos íntimos, em vez de divulgá-los a estranhos nas redes sociais. Seu protocolo do frexting prevê que os nossos amigos devem responder com manifestações de apoio e emojis, “muito especialmente, mas não só, o fogo, o gato com olhos de coração e o aplauso”, para que essa experiência seja tão divertida e libertadora como deve ser.
A prática foi adotada especialmente entre mulheres, mas não só, porque é uma forma de elas se sentirem sexualmente atrativas e ao mesmo tempo protegidas, algo bastante difícil de obter na Internet.
Embora o uso do frexting seja há bastante tempo assunto de conversas no underground da rede, o termo só chegou ao mainstream poucas semanas atrás, graças a Chelsea Handler. A polêmica apresentadora e humorista ignorou a principal regra dos frexts, a de enviá-los em modo privado, e publicou no Instagram uma foto em que aparecia nua, como forma de comemorar o aniversário da atriz Reese Witherspoon, sua amiga íntima. Com esse episódio, muita gente finalmente soube o nome de algo que já pratica há bastante tempo.
Consegui que alguns amigos meus falassem sobre seus frexts e tirei algumas conclusões. Fiquei surpreso por encontrar, ao contrário do que diz a crença popular e a informação disponível na Internet, praticantes de todos os gêneros e orientações sexuais, não só mulheres como também homens, e inclusive homens heterossexuais. Todos preferem permanecer no anonimato para honrar a prática, já que o frexting deve ser privado. Entre duas pessoas ou nos grupos de Whatsapp de amigos íntimos, mas com difusão controlada e tendo a confiança como base.
Não há razão para idealizar o corpo, pelo contrário. Quanto mais descuidado, ridículo ou normal... melhor
Embora o objetivo aparentemente seja exibir imagens em que parecemos maravilhosos, para receber elogios e melhorar nossa autoestima, esse uso afinal acaba sendo minoritário, e há um grande número de pessoas que usam a prática para se livrar da tirania dos códigos típicos do sexting: o frext não tem razão alguma para mostrar uma idealização do seu corpo, pelo contrário, serve para que você consiga se desfazer da pressão dessa representação. Quanto mais descuidado, ridículo e normal... melhor.
O frext nunca se parecerá com um sext. Um frext tem certa graça, é algo que você solta no meio de uma conversa séria para rir dos seus amigos ou de você mesmo. Se todas as suas amigas estão mandando suas fotos da sexta-feira à noite, e você está doente na cama... conte isso com um mamilo! Um frext é uma piada, funciona como um peido numa conversa real: algo ridículo e imprevisto, que gera riso.
E o mais importante: frextear vicia. Todos os praticantes que encontrei sentem uma grande liberação ao compartilhar seu corpo de uma forma natural e sem pressões. Será que o pudor é afinal a última barreira digital a derrubar? A resistência contra os corpos photoshopados se esconde nas conversas privadas do Whatsapp? Será o início de uma revolução de baixo para cima que fará todos entenderem, de uma vez por todas, que mamilos são inofensivos?
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