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Coluna
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Na cama com o rival da política

Tudo estava indo muito bem, até que ela resolveu fazer uma graça erótica com uma lingerie vermelha para o maridão

O amor nos tempos do cólera. Se as amizades e o almoço domingueiro de família foram abalados, o arrulhar dos pombinhos também sofre ruídos e desafinações perigosas.

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Sim, entre marido e mulher que estão em lados opostos na contenda -valha-me Nossa Senhora Desatadora dos Nós!-, o risco de ruptura se renova a cada edição do telejornal noturno. Que sufoco. Nunca foi tão fácil o divórcio depois de uma D.R. ideológica. Um legítimo pé-na-bunda dialético. E cada um para a sua manifestação partidária.

Um casal amigo de São Paulo foi obrigado a fazer um pacto de sobrevivência amorosa. Interessante. Graças à sugestão de uma alma diplomática, combinaram não discutir mais política na presença um do outro. Até o noticiário da televisão passaram a ver em cômodos separados. Nas refeições, ficavam restritos ao protocolo mais elementar - “passa a salada”, “passa o azeite”, “passa a farofa” etc.

Tudo estava indo muito bem, até que ela resolveu fazer uma graça erótica com uma lingerie  vermelha para o maridão. A noite foi um fracasso na cama. O episódio virou folclore entre os conhecidos da dupla. A incendiária jura que não havia provocação alguma além da sedução caliente. Não o convenceu até agora. E não se fala mais nisso. Preservemos o amor, antes que seja tarde demais.

Turma do deixa disso

Você há de dizer, amigo zen e deboísta, bom mesmo era o tempo em que o país ainda não se dividia entre petralhas e coxinhas. Não havia sequer os isentões. Todos portavam apenas uma bronca: com o técnico da seleção Brasileira. Ninguém pensava em derrubar, golpear ou impichar o presidente. E o Chico Buarque, pasme, era unanimidade nacional. Nessa época, a nossa instituição mais firme e respeitável era a turma do deixa disso, a TDDD. Funcionava em regime de 24 horas. Uma garantia constitucional.

Vestisse vermelho ou verde-amarelo, você contava com a TDDD para eventuais pendengas de botequim, peladas de futebol ou quermesses. No Brasil dividido desde as eleições de 2014, a turma saiu de cena. Restou apenas a tropa que ora distribui porrada nos estudantes, ora tira sorridentes selfies com os “patriotas”.

Como faz falta tal turma nessa hora. Pela volta imediata dessa brava gente pacificadora. Agora teria um trabalho extra: mediar os confrontos nas listas do whatsapp das famílias. Aqui o bicho pega tanto quanto nas ruas. O almoço de domingo anda esvaziado ou servido em dois turnos -primeiro os parentes do “Fora Dilma”, depois a galera do “não vai ter golpe”. Tem filho por aí que não vê a mãe desde a fase I da Operação Lava Jato.

Os avós, de certa forma, ainda tentam encarnar a turma do deixa disso. Sem sucesso com os adultos. Irmão desconhece irmão. O risco bíblico de reedições caseiras de uma tragédia tipo Caim & Abel é constante. Que tempos. Calma, pessoal. Não há acordo nem em relação ao Eduardo Cunha, o inimputável presidente da Câmara que comanda o processo de impeachment. Este elemento, aliás, sobreviverá até mesmo a uma eventual guerra atômica. Restará apenas ele e as baratas.

Xico Sá, escritor e jornalista, é autor do romance Big Jato (Companhia das Letras) e comentarista do programa Papo de Segunda (GNT).

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