Vulcão do Equador rouba recorde do Everest
Medição por GPS confirma que o topo do Chimborazo é o ponto mais distante do centro da Terra
Uma terceira missão geodésica francesa cumpre seu périplo pelas Terras do Equador. Assim era conhecido o Equador no século XVIII, aonde chegaram os cientistas da primeira missão geodésica que ajudou a determinar a forma achatada do globo terrestre. Agora que se completam 280 anos do trabalho dos franceses Charles-Marie de La Condamine, Louis Godin e Paul Bouguer , junto com os espanhóis Jorge Juan e Antonio de Ulloa, que foram enviados pelo rei Felipe V, seus herdeiros científicos se propuseram a medir, com precisão de centímetros, o ponto mais distante do centro da Terra, o vulcão Chimborazo, de 6.268 metros de altitude, e que se encontra a 6.384 quilômetros de distância do centro terrestre, dois quilômetros a mais que o topo do mundo, o Everest, por causa da diferença no diâmetro do planeta em latitudes diferentes.
“Pela herança que [os primeiros cientistas] nos deixaram, sabemos que os pontos que ficam perto da linha equatorial estão mais afastados do centro da Terra, mas faltava um valor, medir a maior distância a partir do centro”, explica Jean Mathieu Nocquet, do Instituto para a Pesquisa e o Desenvolvimento (IRD), da França. Com esse objetivo em mente, um grupo de expedicionários franceses e equatorianos escalou em fevereiro o vulcão Chimborazo, a montanha mais alta do Equador, e instalou no topo um sistema de posicionamento global (GPS) de alta precisão, que, com a ajuda de uma antena de 60 centímetros, recebe o sinal de 15 satélites de diferentes países. “Para obter dados precisos, deixamos o GPS durante duas horas, e depois processamos a informação armazenada nesse intervalo”, explica Mathiew Perrault, do Instituto Geofísico (IG).
Os resultados dessa medição acabam de ser divulgados, concluindo que o cume do vulcão está a 6.384.415,98 metros do centro da Terra. O novo cálculo confirma que o Chimborazo é o ponto mais distante do centro da Terra, e portanto mais próximo do Sol, superando em 40 metros nesse ranking o topo do monte Huascarán, no Peru, que seria o segundo ponto mais afastado do centro terrestre.
280 anos depois
O uso do GPS, que tem uma margem de erro de 10 centímetros, já havia dado em 2001 três metros adicionais à montanha mais alta da Europa, o Mont Blanc, cuja altitude sobre o nível médio do mar passou de 4.807 para 4.810,4 metros, segundo esse sistema. O Everest, no Nepal, também foi medido com o sistema GPS. Oficialmente, tem 8.848 metros sobre o nível do mar, mas, segundo esse outro processo, é um pouco mais baixo, 8.846,4 metros. Apesar de ser a montanha mais alta da superfície terrestre, o Everest está dois quilômetros abaixo do Chimborazo quando a medição parte do centro do planeta. A Terra, um globo achatado, tem um raio maior no Equador do que nos polos, o que joga a favor do Chimborazo em sua disputa honorífica com o Everest.
A comemoração dos 280 anos da primeira missão geodésica foi um pretexto para recordar a história comum do Equador e da França. A expedição ao Chimborazo foi um primeiro passo, mas a embaixada francesa no país andino planejou atos comemorativos até julho. Haverá mesas-redondas científicas, jornadas pedagógicas em escolas e exposições que reconstroem o contexto sociocultural e científico das missões francesas em território equatoriano. Uma das atividades mais curiosas será um jantar de época em que serão servidos os pratos que os cientistas possivelmente provaram ao chegar ao país em 1736.
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