Lava Jato aponta que Odebrecht pode ter pago suborno em porto no Rio e estádio de São Paulo
Nova etapa da investigação mostra tentáculos da corrupção muito além da Petrobras Arena Corinthians, inaugurada durante a Copa, e aeroporto de Goiânia estão na mira
A 26ª fase da Operação Lava Jato desencadeada nesta terça-feira começou a desvendar o funcionamento de um "setor de operações estruturadas" no Grupo Odebrecht especializado no pagamento de propinas. A força-tarefa jogou luz sobre um modelo de corrupção “profissional” que, ao que tudo indica, é modus operandi da empresa e se aplicaria a seus negócios para além dos contratos com a Petrobras. Diretores da empreiteira responsáveis por várias obras de grande porte teriam feito requisições de pagamento ao departamento de subornos do Grupo. As novas descobertas colocam sob suspeita as obras do estádio do Corinthians, em São Paulo, do aeroporto de Goiânia, da SuperVia, responsável pelo sistema de trens urbanos do Rio de Janeiro, e da Trensurb, que administra as linhas de trens no Rio Grande do Sul. Também foram identificados pagamentos irregulares referentes a obras do Projeto Porto Maravilha, de revitalização do cais do Rio. Oito executivos da empresa foram presos nesta manhã.
Se confirmadas as suspeitas, existe a expectativa de que os tentáculos da operação se espalhem por vários Estados e níveis de Governo. “Há indicativos de que os recebedores [de propina] se referem a obras e serviços do Governo Federal e de diversos Governos estaduais e municipais”, afirmou o procurador da força-tarefa Carlos dos Santos Lima. Segundo ele, a investigação será aprofundada, e as informações serão remetidas para as polícias e ministérios públicos dos respectivos Estados onde estão circunscritas as obras mencionadas. Até o momento, esta etapa da operação não apontou políticos envolvidos no esquema.
Foram identificadas ao menos seis contas correntes que eram utilizadas pelo setor de operações estruturadas apenas para o pagamento de propinas. Uma delas chegou a ter saldo de 69 milhões de reais, e algumas operavam em dólar. A construção da arena Corinthians, palco da abertura da Copa do Mundo de 2014, por exemplo, teria envolvido o pagamento de propinas de 500.000 reais para uma pessoa identificada nas planilhas apenas pelo codinome “Timão”. O valor teria sido requisitado pelo diretor de contrato da Odebrecht Infraestrutura, Antônio Roberto Gavioli, encarregado das obras no estádio em Itaquera, zona leste da capital. O procurador Carlos Fernando dos Santos Lima disse que existem indícios de pagamentos irregulares envolvendo outras arenas da Copa, mas que as apurações “ainda estão em andamento”.
Já as propinas pagas para a viabilização das obras do aeroporto de Goiânia foram mais vultosas: 1,4 milhão de reais. Pela investigação, havia solicitação de recursos para subornos em outros países. Diretores responsáveis por negócios da empreiteira na Argentina e em Angola também teriam feito requisições de pagamentos ao departamento de propinas. A suspeita de que executivos da empreiteira que atuavam no exterior tenham pago propina para autoridades locais levanta a suspeita de que obras feitas lá fora seguiram o mesmo padrão de subornos encontrado no Brasil – e reafirma a tese do modus operandi corrupto da Odebrecht.
A procuradora da força-tarefa Laura Gonçalvez Tessler afirmou que os integrantes do setor de propinas eram escolhidos a dedo pela presidência da empresa: “Eram funcionários de confiança da diretoria, com muito tempo de casa”. De acordo com ela, esse setor tinha hierarquia própria, um corpo específico de secretários, diretores e uma equipe inteira voltada exclusivamente “para essas práticas ilícitas”.
Tudo feito, segundo a procuradora, com o aval e a participação do presidente afastado da empresa, Marcelo Bahia Odebrecht, condenado a 19 anos por seu envolvimento no esquema de corrupção da Petrobras. A sigla "MBO", que os investigadores acreditam se referir às iniciais de Marcelo, foram encontradas em planilhas de requisição de propinas e também nas planilhas de controle do setor de subornos. “Não há duvidas da ação direta dele nesses pagamentos”, confirmou a delegada da Polícia Federal Renata Silva Rodrigues.
O ponto de partida desta nova fase da Lava Jato foi uma série de planilhas apreendidas nos escritórios da Odebrecht, mais especificamente no computador da secretária Maria Lucia Tavares. Atualmente ela colabora com as investigações, e era uma das responsáveis pela distribuição dos “acarajés” – nome utilizado dentro da Odebrecht para se referir à propina. Um dos receptores dos “acarajés” seria identificado nas planilhas como “Feira”, e os investigadores acreditam que se trata do marqueteiro João Santana, responsável pelas campanhas dos petistas Luiz Inácio Lula da Silva (2006) e Dilma Rousseff (2010 e 2014) e preso desde o final de fevereiro.
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