Lava Jato abre etapa internacional com prisão de operador em Portugal
Raul Schmidt Felipe Junior seria responsável pelo pagamento de propinas a ex-diretores da Petrobras
A Operação Lava Jato realizou na madrugada desta segunda-feira sua 25ª fase, a primeira internacional, em Lisboa, Portugal. Batizada de Polimento, a nova etapa da investigação teve como alvo Raul Schmidt Felipe Junior, que seria responsável pelo pagamento de propinas aos ex-diretores da Petrobras Renato de Souza Duque, Jorge Zelada e Nestor Cerveró (todos já presos pela força-tarefa). Sobre ele pesam as acusações de fraude, desvio de verbas públicas e corrupção. A prisão de Schmidt só foi possível em função do apoio de autoridades locais, que cumpriram mandados de busca e apreensão e prisão preventiva do investigado, que é brasileiro mas também possui naturalidade portuguesa. Ainda não há prazo para sua extradição, que começará a ser negociada esta semana.
O investigado teria sido preso em um apartamento de luxo na região central de Lisboa. O jornal português O Público afirmou que a propriedade está avaliada em 3 milhões de euros (cerca de 12 milhões de reais), e estaria em nome de uma empresa offshore da Nova Zelândia. De acordo com o periódico, foram necessárias várias diligências até que Schmidt fosse localizado.
A parceria com autoridades estrangeiras tem sido importante para a Lava Jato. O juiz responsável pelos processos da operação na primeira instância, Sergio Moro, já pediu auxílio de Holanda, Japão, Ilhas Caymann e Coreia do Sul para ouvir testemunhas do caso ligadas ao lobista Fernando Soares, vulgo Fernando Baiano, delator do esquema de corrupção. Até o momento, no entanto, o país que mais tem colaborado com a força-tarefa é a Suíça, cujas informações cedidas foram fundamentais para embasar o processo contra o presidente da Câmara dos Deputados, Eduardo Cunha (PMDB), que é réu no Supremo Tribunal Federal. Além disso, os suíços prenderam, em fevereiro, Fernando Migliaccio da Silva, suposto operador da empreiteira Odebrecht no país.
O objetivo das autoridades brasileiras é, a partir de agora, aprofundar ainda mais a colaboração com procuradorias de outros países, em especial com as autoridades suíças, onde estão localizadas várias das contas usadas no esquema de corrupção da Petrobras. Na semana passada o procurador-geral da República, Rodrigo Janot, esteve no país europeu negociando o acordo que deve facilitar a remessa de dados e o congelamento de ativos dos suspeitos. Milhares de documentos referentes a correntistas e empresas off-shore localizadas na Suíça devem ser enviados para o Brasil em breve.
A procuradoria suíça informou que 800 milhões de dólares (3,2 milhões de reais) depositados em cerca de mil contas de 40 bancos locais estão congelados para análise. Os ativos estariam em nome de doleiros, políticos e empresários, e as autoridades acreditam que o montante pode ter relação com o esquema investigado pela Lava Jato. A análise dos dados, de acordo com as autoridades, deve levar meses. Deste valor, 70 milhões de dólares (210 milhões de reais) devem ser repatriados para o Brasil em breve.
Segundo o Ministério Público Federal (MPF), Raul Schmidt vivia em Londres, onde é dono de uma galeria de arte, mas se mudou para Portugal após o início da Lava Jato. Ele estava foragido desde a 15ª fase da Operação, realizada em julho de 2015, quando o juiz federal Sergio Moro determinou sua prisão preventiva e o bloqueio de 7 milhões de reais que estariam em contas ligadas a ele. Seu nome chegou a ser incluído na lista de alertas da Interpol em outubro do ano passado.
Além de ter intermediado o pagamento de propinas do esquema de corrupção da Petrobras, acredita-se que o investigado também atuava como representante de empresas internacionais em negociações de contratos com a estatal. Schmidt é sócio de Zelada na TVP Solar do Brasil,empresa da área de tecnologia sediada em Genebra, e que pode ter sido usada para lavar dinheiro desviado da Petrobras. Além disso, o investigado teria ligações com a Samsung, dona do estaleiro responsável pela construção de dois navios-sonda utilizados pela Petrobras: o Petrobras 10.000 e Vitória 10.000. Ambas as embarcações estão sob suspeita no MPF, já que possivelmente teria havido sobrepreço de até 12 milhões de dólares na aquisição dos dois.
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