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Editoriais
São da responsabilidade do editor e transmitem a visão do diário sobre assuntos atuais – tanto nacionais como internacionais

Obama faz história

Presidente dos EUA abre uma nova era com sua visita a Cuba

Barack Obama entra com sua esposa Michelle, a mãe da primeira-dama e sua filha Sasha no avião que o transportou a Havana.
Barack Obama entra com sua esposa Michelle, a mãe da primeira-dama e sua filha Sasha no avião que o transportou a Havana.JOSÉ LUIS MAGANA (AP)

Certamente um dos maiores legados do mandato de Barack Obama, quando em janeiro de 2017 ele entregar no Capitólio de Washington a presidência para a pessoa que for sucedê-lo, terá sido o fim de um conflito que inflamou as relações internacionais dos séculos XX e XXI, e que chegou a colocar o mundo à beira de um conflito nuclear. A chegada neste domingo em Havana do presidente norte-americano representa o final de mais de meio século – exatamente 54 anos – de distanciamento entre Estados Unidos e Cuba.

É uma visita de grande valor simbólico, mas também de grande importância estratégica, tanto bilateral quanto latino-americana. Obama é o primeiro presidente dos Estados Unidos que viaja a Cuba em visita bilateral desde a independência da ilha da Espanha. Houve outro presidente, Calvin Coolidge, que visitou Cuba há 88 anos por ocasião de uma reunião de cúpula internacional. Foi a bordo de um navio de guerra. Obama está em Cuba acompanhado por sua família e em um clima absolutamente impensável há apenas um ano e meio, quando o presidente dos EUA e de Cuba, Raúl Castro, surpreenderam o mundo com o anúncio da normalização das relações.

É verdade que ainda há um longo caminho a percorrer dos dois lados. Washington deve levantar definitivamente o embargo, uma medida que se mostrou ineficaz para derrubar a ditadura na ilha. É uma decisão que não depende de Obama, mas do Congresso que, apesar de ser dominada pelo partido republicano – e em ano eleitoral – deveria ter altura suficiente para acabar com um anacronismo que prejudica o povo de Cuba, mas não seu governo.

Por sua parte, Raúl Castro precisa impulsionar progressos concretos na abertura do regime e no respeito pelos direitos humanos. A oposição deve parar de ser perseguida e assediada. Nesse sentido, é muito significativo o encontro que Obama vai manter amanhã com representantes da sociedade civil cubana, entre eles vários opositores. O processo de normalização das relações deve ter como efeito palpável um aumento das liberdades reais e não simbólicas. E em nenhum caso deve se tornar um cheque em branco para o regime.

A estadia de Obama em Cuba é a melhor prova de que os dois países vivem um processo irreversível de aproximação, uma mensagem clara de que as coisas não vão voltar a ser as mesmas nos Estados Unidos quando se falar de Cuba. E que tampouco pode continuar sendo o mesmo na ilha.

O significado histórico deste evento é ainda mais realçado pelo cruzamento com outro fato de extraordinária importância política que está acontecendo em Havana, as negociações de paz entre o Governo colombiano e a guerrilha da FARC. Obama vai conversar com Castro sobre essa negociação que já está em seus estágios finais para acabar com a guerrilha mais antiga da América Latina. Os dois países, Cuba e EUA, apoiaram durante décadas os adversários para fazer a guerra. Agora devem ajudar a que a paz seja assinada.

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