Delcídio, novo ‘homem-bomba’ da Lava Jato capaz de afetar até oposição?
Suposto acordo de delação premiada do parlamentar cita Dilma, Aécio, Lula e Temer
Nas últimas semanas o senador Delcídio do Amaral (PT-MS) está assumindo o papel de novo homem-bomba da Operação Lava Jato. Após amargar quase três meses de prisão preventiva por suspeita de tentar obstruir as investigações do escândalo de corrupção na Petrobras, o parlamentar aos poucos se torna protagonista no caso. Tudo começou quando a revista IstoÉ vazou, na semana passada, partes de um suposto acordo de delação premiada, no qual o petista implica a presidenta Dilma Rousseff e o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva no esquema. Ao que parece, a história não acaba aí. O senador petista supostamente também citou irregularidades que envolvem o colega Aécio Neves (PSDB-MG), o vice-presidente Michel Temer (PMDB), o presidente do Senado, Renan Calheiros (PMDB-AL), entre outros, segundo informações adiantadas pela imprensa ao longo da semana e detalhadas nova edição da IstoÉ. O conteúdo da delação foi até agora negado pelo advogado de Delcídio — algo esperado uma vez que, caso confirmasse, seu depoimento não poderia ser homologado pelo STF. Caso seja verdadeiro e homologado, o depoimento do senador petista pode dividir o foco da operação, até agora majoritariamente sobre o PT e parte do PMDB. Em suma, pode também sobrar para a oposição. O clima é de especulações e incertezas em torno da Lava Jato, ainda mais tendo em conta uma possível delação de Marcelo Odebecht, condenado a 19 anos de prisão.
O suposto envolvimento de Aécio
Aécio Neves negociou com o senador petista durante a CPI dos Correios, em 2006, segundo a revista IstoÉ desta semana detalha. A comissão foi um embrião das investigações que culminaram com o caso mensalão. Em concreto, Delcídio do Amaral, então presidente desta CPI, pediu a quebra do sigilo do Banco Rural. No entanto, atendeu os pedidos do banco de aumentar o prazo para a apresentação das informações da quebra do sigilo bancário. Com isso, sempre segundo a revista, a entidade financeira “ganhou tempo” para “maquiar” os demonstrativos internos do Banco Rural para evitar que o “mensalão, que é mineiro de nascença, atingisse o governo de Minas Gerais”. Nesta época, Aécio Neves era governador, tendo como seu vice Clésio Andrade.
A assessoria do hoje senador tucano afirmou que “Aécio Neves nunca tratou de assuntos relacionados à CPI dos Correios com o senador Delcídio do Amaral”. O presidente do PSDB já foi citado por outros delatores da Lava Jato, mas os processos contra ele foram arquivados pelo procurador-geral da República, Rodrigo Janot.
Temer entra na dança
O vice-presidente Michel Temer também entrou na dança da suposta delação de Delcídio. Segundo a IstoÉ, no anexo 16 da delação, Delcídio afirma que Temer apadrinhou João Augusto Henriques, que participou de um esquema de compra ilícita de etanol entre 1997 e 2001, quando o presidente da República era Fernando Henrique Cardoso (PSDB). Augusto Henriques hoje está preso, mas segundo Delcídio, Temer pressionou para que fosse nomeado pela presidenta Dilma na diretoria internacional da Petrobras, em substituição de Nestor Cerveró. A presidenta vetou.
Já a coluna Painel, da Folha de S. Paulo, informou que o senador petista teria afirmado que Temer também foi “o grande patrocinador” da indicação de Jorge Zelada para assumir a diretoria da área internacional da Petrobras. Apontado como o elo do PMDB no esquema de corrupção da estatal, o ex-diretor foi condenado pelo juiz Sérgio Moro a 12 anos de prisão.
A assessoria da vice-presidência da República afirmou que Zelada foi indicado pela bancada mineira do partido. Não foram divulgados detalhes sobre a suposta citação a Renan – em que contexto o nome do presidente do Senado foi mencionado e se ele teria cometido alguma irregularidade. O peemedebista é alvo de diversos inquéritos que investigam sua suposta participação nos desvios da Petrobras.
PMDB do senado
Ainda segundo a IstoÉ, Delcídio também relatou a influência do senador Renan Calheiros e de sua bancada, formada pelos também peemedebistas Romero Jucá, Edison Lobão, Jader Barbalho, Eunício Oliveira e Valdir Raupp, para emplacar os principais dirigentes da Agência Nacional da Saúde (ANS) e da Agência Nacional de Vigilância Sanitária (ANVISA). Estas duas entidades são responsáveis por regulações no setor da saúde e poderiam, por exemplo, perdoar as dívidas dos planos de saúde com o SUS. “Com a decadência dos empreiteiros, as empresas de plano de saúde e laboratórios tornaram-se os principais alvos de propina para os políticos e executivos do governo”, explicou Delcídio em sua delação.
Delcídio também explicou que esse grupo de senadores influencia outros postos do Governo, no Ministério de Minas e Energia, Eletrosul, Eletronorte, diretorias de Abastecimento e Internacional da Petrobras, além das usinas de Jirau e Belo Monte. Além disso, teriam apadrinhado a manutenção de Paulo Roberto Costa e Nestor Cerveró na Petrobras.
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