Internet para todos, mesmo que seja com gatinhos
Mark Zuckerberg quer levar o acesso à rede para 4 bilhões de pessoas
A foto que ilustrava a primeira página deste jornal na terça-feira é uma boa imagem do que está acontecendo com as novas tecnologias. Enquanto dezenas de pessoas permanecem sentadas atentas aos óculos de realidade virtual que estão usando e os impede de ver qualquer outra coisa, um rapaz de tênis, calça jeans e camiseta avança sorridente, enquanto os ultrapassa. Todos estão felizes. Os que usam os óculos, porque fazem parte de um grupo seleto que experimenta a mais recente tecnologia que lhes permite desfrutar de uma realidade alternativa. O rapaz do tênis, porque não precisa de óculos para ver realidades que ainda não existem. Os que estão sentados, sem óculos, perdem todo esse mundo. Aquele que caminha nem sequer precisa dos tênis para avançar. Claro que tampouco é um estranho ao que está acontecendo, pois é o dono da empresa que fabricou o software que permite que todas aquelas pessoas sentadas tenham acesso a um mundo até agora fora do seu alcance.
A estas alturas da observação da imagem todos nós tomamos partido de uns ou de outro. Lógico. Como vivemos num mundo onde parece que todos nós somos juízes do Supremo Tribunal, não podemos ficar sem emitir um julgamento. Então, para não ficarmos com delicadezas, julguemos a última proposta do rapaz de camiseta.
Mark Zuckerberg se tornou um dos homens mais ricos do mundo (condenado) por ter inventado o Facebook, uma rede social (absolvido) usada tanto pelas pessoas comuns (absolvido) quanto pelas grandes empresas (condenado) para expressar suas opiniões (absolvido). Trata-se de uma rede livre (absolvido), mas gera lucros gigantescos (condenado) porque possui uma enorme base de dados de usuários (condenado). O Facebook não depende de nenhum Estado (absolvido), mas proíbe os mamilos (condenado). Agora Zuckerberg tem um plano que pode levar os benefícios da informação a grande parte do planeta (absolvido), mas, ao mesmo tempo provavelmente o fará ganhar muito dinheiro (condenado). Trata-se de levar a Internet aos 4 bilhões de pessoas que não têm acesso a ela no mundo para que elas possam aumentar substancialmente seu acesso à informação e ao conhecimento (absolvido). O acesso será gratuito (absolvido), mas deverá ser feito por meio do Facebook, o que gera mais lucros para Zuckerberg (condenado) e não significa que o acesso à Internet seja completamente livre, mas para aqueles sites que a empresa do rapaz da camisa decidir (condenado).
Muitos desses 4 bilhões de pessoas vivem sob regimes e estruturas para os quais a liberdade de informação e o intercâmbio de conhecimento é uma perspectiva assustadora. E essa falta de liberdade muitas vezes coincide com depauperadas estruturas educacionais. O acesso à Internet — ainda que sob uma chuva de gatinhos e frases intensas do Facebook — pode ter enormes consequências em grande parte do mundo. O rapaz da camiseta quer fazer negócios, mas o verdadeiro lucro será de milhões de pessoas. (Absolvido).
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