Petrobras encolhe ainda mais e corta um quarto dos investimentos até 2019
Queda do barril e desvalorização do real levam a empresa a ajustar mais uma vez os planos. Mercado reage mal e ações da companhia, que responde por quase 10% do total investido no país, caem
A petroleira estatal Petrobras anunciou nesta terça-feira mudanças em seu plano de negócios a fim de se adaptar a um cenário mais realista em que o barril do Brent é vendido barato e o dólar, caro. A empresa, imersa nas consequências da investigação de um monumental escândalo de corrupção, decidiu reduzir seus investimentos em 24,5% até 2019, de 130,3 bilhões de dólares (529 bilhões de reais) a 98,4 milhões (400 bilhões de reais).
Os cortes afetarão a produção de petróleo durante os próximos anos e a meta de produzir 2,8 milhões de barris por dia em 2020 cai para 2,7. No entanto, a empresa revisou a alta dos investimentos para este ano, os quais passaram de 19 bilhões de dólares para 20 bilhões.
Seja como for, o encolhimento da Petrobras deve ter grande impacto na já combalida economia brasileira, para qual o mercado espera recuo de 2,99% em 2016. Estudo do Ministério da Fazenda no ano passado atribuiu aos cortes na Petrobras e à Lava Jato ao menos 2 pontos da retração brasileira em 2015. De 2010 a 2014, ressaltou o estudo, a companhia foi responsável por 8,8% do total dos investimentos no país, o que equivale a 1,8% do PIB.
As mudanças anunciadas pela Petrobras não foram bem vistas pelo mercado e as ações da Petrobras caíram até 6 reais, o valor mais baixo desde 2003. “O ajuste não deu nenhuma tranquilidade, pelo contrário”, lamenta Flavio Conde, da consultora WhatsCall. “A expectativa do mercado era que a empresa reduzisse o valor dos investimentos deste ano em pelo menos 15 bilhões de dólares. Ao aumentar os investimentos está dizendo que não vai economizar para pagar sua dívida”, explica Conde. “Podem reduzir em um quarto seus investimentos em quatro anos, mas 2019 está muito longe para os mercados, e a preocupação afeta tanto o investidor em ações como o da dívida.”
Com uma dívida bruta de 506 bilhões de reais, a petroleira é a segunda empresa de capital aberto mais endividada da América Latina e Estados Unidos, segundo a Economatica, especialista na análise de dados no mercado de capitais. “O valor máximo de dívida que uma empresa deveria ser de até três vezes seu EBTIDA, e A Petrobras tem o dobro. A única solução definitiva para o endividamento é conseguir um mega-aumento de capital”, afirma Conde. “Mas, em primeiro lugar, o Governo não tem dinheiro para fazer isso e, em segundo lugar, que investidor apostaria em uma empresa que está sendo investigada por um imenso escândalo de corrupção em um país em que, além do mais, sua presidenta corre o risco de um processo de impeachment?”, questiona o consultor.
Petróleo barato, dólar caro
A nova versão do Plano de Negócios e Gestão 2015-2019 considera agora que o preço do barril do Brent, referência dos mercados europeus, rondará em 2016 os 45 dólares, e não 55 dólares, como foi levantado em projeções anteriores. A revisão, no entanto, difere em quase 15 dólares do valor atual do produto, cotado nesta terça-feira a 31,5 dólares. A taxa de câmbio do real, em contínua desvalorização em relação ao dólar, também teve de ser ajustada de 3,80 reais por dólar para 4,06. Somente o efeito do câmbio teve um impacto negativo de 10,7 bilhões de dólares nas contas da empresa.
A exploração do pré-sal, a jazida de petróleo em grande profundidade diante das costas do Sudeste do Brasil, continuará sendo prioridade da empresa, apesar dos cortes. Por isso, a exploração e produção de petróleo receberão 81% dos investimentos, segundo informou a empresa à Comissão Nacional de Valores Mobiliários (CNVM).
A preocupação de alguns especialistas é saber onde passarão a tesoura. “O tamanho dos cortes não é tão importante enquanto a indústria nacional do setor tiver planos com certa credibilidade para poder investir. É importante saber que empreendimentos continuarão e quais serão suspensos. É enorme o prejuízo das empresas que não receberam por serviços prestados ou cujos projetos não saíram do papel”, diz Alberto Machado Neto, professor de Mestrado em Administração de Negócios em petróleo e gás da Fundação Getúlio Vargas.
O preço da corrupção
As vendas de ativos da empresa serão mantidas no período 2015-2016 em 15,1 bilhões de dólares. “Esta empresa será menor em quatro anos, mas estará muito mais centrada em sua gestão e eficiência, e será, sobretudo, mais rentável. Estamos trabalhando intensamente para reduzir gastos operacionais e a eficiência da empresa é muito maior graças a isso”, disse em dezembro o presidente da estatal, Aldemir Bendine.
Em abril do ano passado, a Petrobras calculou que havia perdido cerca de 6,1 bilhões de reais na trama de corrupção que envolveu altos funcionários e políticos e que distribuía subornos em troca de contratos milionários superfaturados. O prejuízo causado pelas irregularidades reveladas durante a Operação Lava Jato, porém, pode ser muito mais alto e alcançar os 42,8 bilhões, segundo um relatório da Polícia Federal.
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