Ultracatólicos barram a exibição de ‘Azul é a Cor mais Quente’ na França
Justiça revoga distribuição depois de demanda feita por uma associação conservadora
A justiça francesa revogou na última quarta-feira, dia 9, a autorização de distribuição do filme Azul é a cor mais quente (La vie d'Adèle), do diretor francês de origem tunisiana Abdellatif Kechiche, que estreou em 2013 depois de ganhar a Palma de Ouro no Festival de Cannes. O longa, que conta a história de amor entre duas meninas (interpretadas pelas atrizes Léa Seydoux e Adèle Exarchopoulos) e inclui sequências gráficas de sexo entre duas mulheres, chegou aos cinemas, na época, proibido para menores de 12 anos.
O Tribunal Administrativo de Paris decidiu retirar essa classificação do filme, ao considerar que o Ministério da Cultura cometeu, na época, “um erro de julgamento”. O tribunal exige que a titular do ministério, Fleur Pellerin, conceda outra classificação mais adequada por causa das numerosas “sequências de sexo entre duas mulheres jovens apresentadas de forma realista”, que considera susceptíveis de “ofender a sensibilidade do público jovem”.
Esta decisão judicial chega depois da denúncia apresentada em 2014 pela associação Promouvoir, de perfil ultracatólico e próxima a alguns círculos da extrema direita francesa perfil, que estimou que Azul é a cor mais quente não deve ser visto por menores de 18 anos. O Ministério da Cultura francês anunciou na quarta que vai apresentar um recurso contra a decisão judicial no Conselho de Estado, última instância da jurisdição administrativa na França.
Por enquanto, Promouvoir marca mais um gol na defesa de seus valores. A organização foi fundada em 1996 pelo advogado André Bonnet, que militou até a década passada junto ao político de extrema-direita Bruno Mégret. Esse pai de oito filhos e fervoroso defensor da missa em latim já tinha tomado medidas legais para impedir que os menores assistissem filmes como Jogos Mortais 3D, Ninfomaníaca ou Love, o novo trabalho do diretor francoargentino Gaspar Noé, que foi reclassificado no meio do ano como proibido para menores de 18 anos quando já estava nos cinemas. Os efeitos desta proibição não são simbólicos, já que significam a retirada de certos cinemas e a redução do custo do filme antes de sua transmissão na televisão.
Bonnet diz que diferentes diretores “sem escrúpulos” pretendem “reintroduzir a pornografia para o grande público”, declarou em agosto para o site Allociné. “Muitas vezes, este cinema tem como objetivo declarado participar na destruição das estruturas sociais e familiares em nome de um libertarianismo sem limites”, disse o advogado. “Temos a impressão de que [Bonnet] tem mais influência do que a ministra de Cultura ou o CNC [Centro Nacional de Cinema]. É o homem que decide a classificação dos filmes na França”, respondeu na época o produtor e distribuidor de Love, Vincent Maraval. Gaspar Noé, por outro lado, teme que as ações de Promouvoir terminem provocando uma “autocensura” nos criadores franceses e comparou seu “anacronismo absoluto” com “o do Estado Islâmico”.
Fundada em 1996 e composta por cerca de 400 membros, Promouvoir luta pela “promoção dos valores judaico-cristãos” e costuma enfrentar a representação cinematográfica da homossexualidade, que Bonnet considerou em 2001 “antinatural” e “ligada à pedofilia, de acordo com uma correlação estatística”. Em 2013, o advogado participou de uma manifestação contra o casamento gay na França, na qual comparou o texto que o legalizava com “a ascensão do nazismo e do marxismo-leninismo”. Sua primeira grande batalha foi a que venceu, em 2000, contra o filme Baise-moi, da escritora (e diretora ocasional) Virginie Despentes. A justiça obrigou a retirada do filme dos cinemas apenas dois dias depois da estreia. O Governo francês decidiu criar a classificação de “proibido para menores de 18 anos” em consequência daquela decisão judicial.
Tu suscripción se está usando en otro dispositivo
¿Quieres añadir otro usuario a tu suscripción?
Si continúas leyendo en este dispositivo, no se podrá leer en el otro.
FlechaTu suscripción se está usando en otro dispositivo y solo puedes acceder a EL PAÍS desde un dispositivo a la vez.
Si quieres compartir tu cuenta, cambia tu suscripción a la modalidad Premium, así podrás añadir otro usuario. Cada uno accederá con su propia cuenta de email, lo que os permitirá personalizar vuestra experiencia en EL PAÍS.
En el caso de no saber quién está usando tu cuenta, te recomendamos cambiar tu contraseña aquí.
Si decides continuar compartiendo tu cuenta, este mensaje se mostrará en tu dispositivo y en el de la otra persona que está usando tu cuenta de forma indefinida, afectando a tu experiencia de lectura. Puedes consultar aquí los términos y condiciones de la suscripción digital.