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Moeda chinesa entra no clube das grandes divisas internacionais

FMI incorpora yuan à cesta que usa como referência para suas operações Moeda soma-se assim ao dólar, o euro, o iene e a libra esterlina

Amanda Mars
Funcionário do Banco da China contabiliza notas e moedas.
Funcionário do Banco da China contabiliza notas e moedas.EFE/Arquivo

O yuan se transformou na segunda-feira no mais novo membro de pleno direito do clube das grandes divisas do mundo, uma moeda de reserva, o que representa um reconhecimento da pujança que a China demonstrou como potência econômica e financeira nos últimos anos, apesar da desaceleração pela qual passa agora. O conselho executivo do Fundo Monetário Internacional aprovou a inclusão da moeda na cesta de divisas que utiliza como referência para suas operações de financiamento, apesar de o país ainda determinar a taxa de câmbio da moeda. Soma-se assim ao dólar norte-americano, o euro, o iene e a libra esterlina.

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O yuan, ou renminbi, ou “moeda do povo”, começou a circular na China em 1949 e agora vive um grande ponto de inflexão em sua história. O Fundo realiza suas operações por meio de uma espécie de divisa própria, os chamados Direitos Especiais de Saque (ou SDR, na sigla em inglês), cujo valor é determinado por um grupo de moedas do qual agora o yuan faz parte. A medida que o FMI acaba de anunciar entrará em vigor em 1 de outubro de 2016. Assim, um banco central ao qual sejam entregues essas SDRs poderá trocá-las pelas moedas que estão incluídas nessa cesta.

A decisão do Fundo era tida como certa depois de obtido o parecer positivo dos técnicos da instituição, conhecido justo antes da última cúpula do G20, em novembro, na Turquia. Uma aprovação que não foi de todo simples. Isto porque o yuan cumpre com requisitos técnicos que o FMI exige: é uma moda “amplamente utilizada” nas transações internacionais e também “amplamente negociada” no mercado de divisas, mas causa muita controvérsia porque Pequim ainda determina a taxa de câmbio e aplica controles de capital que limitam sua conversibilidade. O que de fato a China fez ao longo dos anos foi ampliar a margem de flutuação da moeda.

A inclusão do yuan “é um marco importante na integração da economia chinesa ao sistema financeiro mundial e é também um reconhecimento do progresso que as autoridades chinesas desencadearam nos últimos anos ao reformar seu sistema monetário e financeiro”, disse a diretora-gerente do FMI, Christine Lagarde, por meio de um comunicado no qual a decisão foi anunciada. Mas, ao mesmo tempo, enviou a mensagem de que nem todo o trabalho foi concluído, ao acrescentar que “a continuidade e o aprofundamento desses esforços trará um sistema mais robusto”, um sistema que “respaldará o crescimento e a estabilidade da China e da economia mundial”.

A medida entrará em vigor em 1 de outubro de 2016

O Governo chinês havia anos reivindicava a inclusão da moeda no clube de divisas do FMI, que reforça a credibilidade internacional de sua economia. Os EUA, principal contribuinte do FMI, foram reticentes durante anos, mas finalmente deram o braço a torcer se a divisa cumprisse com os critérios técnicos. A demanda tinha sido rejeitada em 2010 e, em agosto, quando a questão parecia mais encaminhada, sofreu um adiamento. O FMI decidiu esperar um pouco mais justo depois de a China aprovar uma desvalorização do yuan, que justificou como busca de flexibilização da taxa de câmbio para aproximá-la mais do valor de mercado.

O fato de o yuan se converter agora em uma moeda de reserva deverá traduzir-se em um maior apetite dos investidores por ela, embora permaneçam as críticas à falta de transparência do banco central e haja um consenso em torno da ideia de que a China ainda tem reformas pendentes em matéria financeira e econômica. Estimativas citadas pela Reuters indicavam nesta segunda-feira que isso poderá estimular a demanda em 500 bilhões de dólares (1,93 trilhão de reais) e levar a quota de participação da moeda asiática a até 5% das reservas mundiais, o que significaria ficar à frente dos dólares do Canadá e da Austrália.

O mercado reagiu sem espalhafato a uma inclusão que já era esperada. Desde 13 de novembro, quando Lagarde e os técnicos do Fundo deram o respaldo ao yuan, seu valor caiu ligeiramente, passando de 6,39 a 6,42 yuanes por dólar dos Estados Unidos, que se encontra em fase de fortalecimento. Em relação ao euro, porém subiu, passando de 6,89 a 6,78 yuanes por euro no mesmo período.

Onde haverá, de fato, uma reação imediata é no peso que cada divisa tem nessa cesta que determina o valor dos direitos especiais de saque. O critério se baseia no valor das exportações ou no volume de reservas denominadas em cada moeda em mãos de outros membros do FMI, entre outras tabelas de referência. Com essa revisão, o yuan pesará a 10,9% na cesta, enquanto o euro baixará de 37% para 30,9%.

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