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Impulso do setor serviços freia a queda da economia chinesa

PIB anualizado do gigante cresceu 6,9% no terceiro trimestre, 0,1 ponto abaixo do previsto

Mulher passa em frente a cartaz em Pequim.
Mulher passa em frente a cartaz em Pequim.M. Schiefelbein (AP)

Pela primeira vez desde o estouro da crise financeira internacional, a economia chinesa registrou um crescimento inferior a 7%. A taxa anualizada do terceiro trimestre ficou em 6,9%, 0,1 ponto percentual a menos do que o resultado do primeiro semestre, segundo dados divulgados nesta segunda-feira pelo Escritório Nacional de Estatísticas. A cifra está aquém da meta estabelecida para este ano pelo Governo, que é de 7% – exatamente o resultado alcançado no primeiro semestre.

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Nos últimos cinco anos, a China sofreu uma paulatina desaceleração do seu crescimento, refletindo a mudança de modelo econômico que busca reduzir sua dependência do investimento público e das exportações, dando mais protagonismo ao setor de serviços e ao consumo interno. A essa árdua reestruturação, que exige uma profunda alteração em determinados setores industriais, soma-se o esvaziamento da bolha acionária em meados deste ano. Nos seis primeiros meses de 2015, os lucros das corretoras de ações e do setor financeiro em geral puxaram uma forte alta do setor serviços, que cresceu 8,4% em relação ao mesmo período do ano anterior. Essa taxa se manteve invariável até setembro, razão pela qual, segundo os dados oficiais, o desabamento dos mercados de renda variável teve um impacto mínimo na economia real, apesar de ter deixado o país no olho do furacão das recentes turbulências financeiras. Ou, se o impacto existiu, foi compensado por altas em outros setores.

A cifra é ligeiramente superior ao crescimento de 6,8% que os analistas previam. Além da crise nas Bolsas chinesas, vários indicadores econômicos dos últimos meses deram sinais de esfriamento, tanto na demanda interna como na externa. A queda do comércio exterior (de quase 8% desde janeiro) e da atividade industrial são alguns exemplos. Nesta segunda-feira, foi confirmada também uma redução do crescimento da produção industrial (6,2%, contra 6,3% dos seis primeiros meses), mas surpreendeu a ligeira recuperação das vendas no varejo (10,5%, frente a 10,4% no primeiro semestre). “A recuperação mundial é menor que a esperada, e a China enfrenta uma crescente pressão para baixo. Apesar dessas duras condições, o crescimento econômico do país é estável e vai em boa direção”, assegurou o porta-voz do Escritório Nacional de Estatísticas, Shen Laiyun.

Esta desaceleração adicional era esperada, mas nem por isso é menos significativa para um país que se tornou a principal locomotiva do crescimento mundial neste século. Os líderes chineses tentaram convencer os investidores de que serão capazes de administrar essa mudança, mas a tormenta mercantil e a surpreendente desvalorização do yuan meses atrás ampliaram as suspeitas de uma freada mais pronunciada do que se previa. Esse cenário preocupa não somente pela estabilidade no país, mas também pelo possível contágio a outras economias emergentes – especialmente aquelas que fornecem matérias-primas à China, como é o caso do Brasil – e a nações desenvolvidas que têm a China como principal sócio comercial – algo de que o Japão já se ressente. As principais Bolsas asiáticas receberam os novos dados com resultados mistos: Tóquio caía 0,6%, Hong Kong recuava 0,3%, e Xangai subia 0,5%.

É preciso recuar ao primeiro trimestre de 2009 para encontrar um crescimento econômico menor que o atual na China. Pequim respondeu na ocasião com um plano de estímulo maciço, calculado em quatro trilhões de yuanes (2,47 trilhões de reais, pelo câmbio atual), que permitiu ao gigante asiático se esquivar da crise financeira internacional, mas que deixou como herança enormes desajustes financeiros e aumentou o problema da capacidade ociosa em várias indústrias chinesas. A administração liderada por Xi Jinping e Li Keqiang descartou uma atuação semelhante desta vez, já que uma intervenção jogaria por terra todos os esforços reformistas realizados até agora.

Isso não significa, entretanto, que as autoridades estejam de braços cruzados. A inflação é relativamente baixa, e isso abre portas para novas políticas monetárias expansivas. Desde o começo do ano, os juros já foram reduzidos em quatro ocasiões, e houve uma injeção de liquidez graças à redução do coeficiente de caixa das instituições financeiras. Houve também incentivos fiscais a pequenas e médias empresas, aumento do gasto público em infraestrutura e uma flexibilização das condições para a compra de imóveis. O consenso entre os analistas é de que os estímulos continuarão.

A China decidiu modificar a forma de cálculo do PIB de modo a se submeter aos critérios estatísticos do Fundo Monetário Internacional, numa tentativa de eliminar as dúvidas sobre a veracidade das suas cifras macroeconômicas. Ocorre que outros indicadores amplamente utilizados para medir a saúde da sua economia, como o aumento do consumo elétrico ou do transporte ferroviário de mercadorias, oferecem resultados decepcionantes: o primeiro cresceu apenas 1%, ao passo que o segundo caiu 11% entre janeiro e agosto. As autoridades argumentam que esses dados já não refletem de forma fidedigna o estado da economia, porque o setor serviços ganhou peso sobre o total do PIB (passou de 44,2% em 2010 para 51,4% hoje), em detrimento da indústria.

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