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Editoriais
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Sangue frio

É preciso empregar todos os instrumentos de segurança contra o terror

Um grupo de pessoas, entre elas um menino, colocam flores e velas nas proximidades da sala Bataclan, em Paris, um dos cenários dos ataques jihadistas cometidos na noite de 13 de novembro de 2015.
Um grupo de pessoas, entre elas um menino, colocam flores e velas nas proximidades da sala Bataclan, em Paris, um dos cenários dos ataques jihadistas cometidos na noite de 13 de novembro de 2015.FRANCK FIFE (AFP)

Sem a complexidade do ataque realizado contra os Estados Unidos em 11 de setembro de 2001, o jihadismo voltou a utilizar homens-bomba para causar em Paris uma das matanças mais odiosas de todos os tempos. O alcance mortífero desses novos atos de barbárie é o maior em solo europeu desde os atentados de 11 de março de 2004 em Madri.

As palavras de solidariedade com a França e o choro pelas vítimas são necessários para realizar a obrigatória tarefa de luto pelos mortos. Como não se comover diante das pessoas que caíram ceifadas pelas balas e destroçadas pelos homens-bomba em Paris. Como não se horrorizar diante das imagens de corpos destruídos às cegas, e como não sentir a fraqueza de nos vermos impotentes frente ao terror.

A história recente da Espanha, entretanto, demonstra precisamente o contrário: é possível vencer o terrorismo com as armas da democracia, à custa de muita dor e sempre que formos capazes de manter o sangue frio diante dos ataques terroristas. E isso vale não só para os Governos, mas para as sociedades das quais fazem parte, sabendo que o inimigo não se prende pelas fronteiras tradicionais, usa os instrumentos de comunicação da globalização e não hesita em enviar os seus a uma morte certa com o propósito de causar mais estrago.

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Essa guerra insidiosa nos fala do fanatismo totalitário que se esconde nas cabeças dos que comandam o chamado Estado Islâmico, sem dúvida decididos a prosseguir com sua onda de crimes. As democracias têm o direito e a legitimidade de utilizar todos os instrumentos de segurança necessários contra o terror – incluindo os militares – por mais incômodos e riscos que as medidas possam causar à vida cotidiana. E as sociedades devem compreender e apoiar.

A França é um país muito comprometido nesse combate, e os pregadores da guerra santa a escolheram como um objetivo a abater. Isso fica demonstrado com os atentados realizados contra a revista Charlie Hebdo e uma loja de produtos kosher em Paris, além da tentativa posterior de provocar a explosão de uma usina de gás industrial em Lyon, todos em 2015. Nas vésperas de uma Cúpula do Clima que reunirá na capital francesa numerosos chefes de Estado e de Governo, e com a perspectiva da realização da Eurocopa em 2016, não podemos nos enganar sobre a lógica que guia a loucura assassina com a qual se comportam os fanáticos.

Os métodos para executar as matanças são diferentes, mas contam com um denominador comum: provocar o máximo de estrago indiscriminado e fazê-lo com a maior crueldade. São tantos e tão graves os atos da Al Qaeda e do chamado Estado Islâmico que ninguém pode fechar os olhos diante daqueles que inventam mil formas de mostrar a vulnerabilidade das sociedades submetidas aos seus desígnios.

A condição necessária para enfrentá-los é não se deixar levar por arroubos que possam confundir a defesa frente aos jihadistas com a convivência das comunidades muçulmanas onde existirem, nem questionar as liberdades com as quais nós europeus devemos nos diferenciar dos selvagens que nos atacam.

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