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Apenas um terço dos chineses planeja ter segundo filho

Uma pesquisa revela o enorme ceticismo diante do fim da política do filho único

Macarena Vidal Liy
Avós passeiam com a neta em Pequim (China), em 30 de outubro.
Avós passeiam com a neta em Pequim (China), em 30 de outubro.ROLEX DELA PENA (EFE)

O Mickey, cuja proprietária Disney planeja inaugurar um parque temático em Xangai no ano que vem, está batendo palmas com suas grandes orelhas. Outras empresas de produtos infantis na China, que viram suas ações subirem como espuma na Bolsa, também. O Governo chinês considera a abolição da política do filho único como uma iniciativa que irá beneficiar a economia do país, e que poderá ser aproveitada por 90 milhões de casais, após quatro décadas de fortes críticas contra sua estratégia de controle da taxa de natalidade. Mas os cidadãos comuns, que seriam os responsáveis por gerar esses quatro milhões de crianças por ano segundo cálculos das autoridades, se mostram bastante céticos.

Uma pesquisa on-line realizada nesta sexta-feira pelo site Sina, da qual participaram mais de 160.000 pessoas, revelou que apenas 29% estão dispostos a tirar proveito do fim da política. Cerca de 43% afirmaram categoricamente que não terão outro filho.

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"Ter um segundo filho é muito caro", diz Wang Weiyi, de 32 anos, que trabalha no departamento de recursos humanos de uma multinacional. "Teria de procurar um apartamento maior, pagar duas mensalidades escolares... Nem penso nisso."

Em geral, especialistas concordam que a mudança da política chegou tarde demais. Segundo Jeremy Lee Wallace, da Universidade Cornell, "é pouco provável que a taxa de fertilidade aumente drasticamente de tal forma que reduza o rápido envelhecimento da China. A taxa de natalidade já estava caindo antes dessa política ser colocada em prática, e pesquisas mostram que poucos pais acreditam que atualmente possam arcar com mais um filho nas caras áreas urbanas".

A flexibilização das regras em 2013 teve resultados decepcionantes e foi utilizada por menos de 1,5 milhão de um total de 11 milhões de potenciais casais até junho passado. No total, em 2014 foram registrados 16,78 milhões de nascimentos, um número não muito acima dos 15,92 milhões em 2010.

O demógrafo He Yafu acredita que será mais fácil convencer os casais a terem um segundo filho se forem adotadas medidas adicionais, que poderiam facilitar a vida das famílias urbanas. “Os impostos para as famílias com mais de dois filhos deveriam ser reduzidos, bem como aumentar as licenças-maternidade", diz.

Mas a Comissão Nacional de Saúde e Planejamento Familiar preferiu trabalhar com cálculos otimistas. Segundo suas estimativas, a medida poderia incorporar mais 30 milhões de pessoas ao mercado de trabalho até 2050, o que ajudaria a compensar os cerca de 400 milhões de aposentados estimados pela ONU no país nesse período.

"Espera-se que, depois do ajuste, o número de nascimentos aumente, com mais de 20 milhões de nascimentos esperados em um dos anos de maior concentração", disse o subdiretor da Comissão, Wang Pei’ an. A agência calcula que, até 2030, a população chinesa, de 1,36 bilhão de pessoas em 2014, alcance 1,45 bilhão no período, em vez dos 1,39 bilhão apontados pelas estimativas da ONU.

Em parte, os cálculos baseiam-se no fato de que a maioria dos quase 90 milhões de casais ainda limitados pela proibição mora no campo, onde culturalmente sempre houve maior interesse em ter mais filhos.

Em entrevista ao jornal do Governo Securities Times, Liang Jianzhang, professor da Universidade de Pequim, calcula um aumento anual de 2,5 milhões de nascimentos nos próximos anos, o que significaria uma injeção econômica — considerando uma despesa média por filho de 19.000 reais por ano — de 47 bilhões de reais, em meio a um cenário em que o crescimento do PIB chinês perde força.

Mesmo admitindo que as estimativas do professor sejam otimistas, a possibilidade de um aumento, ainda que relativo, da taxa de natalidade fez disparar a cotação das ações de fabricantes de produtos infantis. As ações da empresa de alimentos e produtos lácteos Bright subiam 5,23%, enquanto a fabricante de leite infantil Beingmate mostrava alta de 10%.

E ninguém poderia estar mais feliz do que a Disney, que em 2016 vai inaugurar nos arredores de Xangai seu primeiro parque temático no território da China continental. O diretor-presidente da empresa, Robert Iger, disse nesta sexta-feira, em tom de brincadeira e ao mesmo tempo um pouco sério, que o anúncio veio "em boa hora. As crianças são boas para a Disney".

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