Rebelião
É preciso reivindicar a conquista de uma morte digna como um direito pessoal e inalienável
Se você morre aviltado por uma agonia cruel é como se tivesse sofrido essa degradação todos os dias da sua vida. Nossa última condição ainda está nas mãos do destino, que segundo seu capricho poderá te outorgar a graça de morrer de repente ou durante o sono ou mediante um declínio suave sem dor até a dissolução na ilimitada obscuridade ou então poderá te maltratar até o extremo da máxima perfídia sem que ninguém se atreva a opor-se diretamente a essa tragédia. Diante desses clérigos obscuros que se julgam com autoridade para decidir a forma como você deve sair deste mundo, é preciso reivindicar a conquista de uma morte digna como um direito pessoal e inalienável. Hoje as pessoas começam a dividir-se entre as que são capazes de escolher o próprio final e as que não podem ou não se atrevem a fazê-lo. Ninguém merece uma agonia cruel, por mais vulgar, conflituosa e sem sentido que tenha sido a sua vida. Você chega por mero acaso a este mundo cão onde te obrigam a dançar conforme a música de uma orquestra embriagada, que sempre é tocada pelos outros. Realmente, ao longo da vida, salvo alguns privilegiados, o comum dos mortais não faz outra coisa a não ser obedecer, lutar para sobreviver, enfrentar toda a sorte de adversidades e consolar-se, talvez, olhando as estrelas sem entender por que estão ali, e na hora da sobremesa, como presente, o acaso te reserva ainda a humilhação de uma agonia longa, implacável e aviltante. Como não se rebelar? Se ninguém te pediu permissão para te forçar a dançar esse ritmo, também ninguém tem o direito de decidir por você a maneira de abandonar a pista. A razão permitiu à ciência descobrir água em Marte e chegar até o fundo da matéria escura, mas não foi capaz de conquistar a última fronteira de uma morte digna sem dor, cuja chave ainda está em mãos de alguns fanáticos carniceiros moralistas.
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