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Desaceleração dos emergentes esfria o crescimento mundial

FMI prevê que PIB global avance 3,1% em 2015, o ritmo mais baixo em seis anos

Alejandro Bolaños
A diretora-gerente do FMI, Christine Lagarde, visita a cidade inca de Machu Picchu, antes da assembleia anual da entidade em Lima.
A diretora-gerente do FMI, Christine Lagarde, visita a cidade inca de Machu Picchu, antes da assembleia anual da entidade em Lima.S. Jaffe (EFE)

O título que o Fundo Monetário Internacional (FMI) dá a seu último relatório sobre a economia mundial já diz quase tudo: “Ajustando-se aos preços mais baixos das matérias-primas”. A China, a economia que marca o passo da demanda por produtos básicos, não está crescendo como antes. Os países exportadores de metais, petróleo e alimentos, em boa parte emergentes ou em vias de desenvolvimento, sofrem. E a recuperação das economias avançadas caminha a “um ritmo persistentemente modesto”. Portanto, o que se ajusta – para baixo – é o prognóstico de crescimento. Os especialistas do FMI revisaram outros dois décimos ao que eles acreditam que será o PIB mundial em 2015 para deixá-lo em 3,1%, a taxa mais baixa em seis anos.

"Para os mercados emergentes e os países em vias de desenvolvimento, nossa previsão é que 2015 será o quinto ano consecutivo de crescimento em declínio”, destaca o novo economista-chefe do FMI, Maurice Obstfeld, na introdução do relatório, apresentando nesta terça-feira em Lima. A capital peruana recebe, nesta semana, a assembleia anual da organização. Esses cinco anos de avanço enfraquecido se traduzirá em um aumento de 4% do PIB desse grupo de países amplo e heterogêneo, encabeçado pelo Brasil, Rússia, Índia e China. Uma taxa muito baixa para aquilo que foi o motor do crescimento mundial: nas últimas duas décadas, só em 2009 (3,1%), em meio à Grande Recessão nas economias desenvolvidas, e em 2001, quando estourou a bolha das empresas pontocom, esses países avançaram a um ritmo mais baixo. Em 2007, às vésperas da crise, as nações emergentes ou em desenvolvimento cresciam 9%. A China, 14%.

O que mais chama a atenção no novo prognóstico é que, apesar da “desaceleração do crescimento da China” ser o principal motivo para a piora das previsões para o resto das economias emergentes (e algumas desenvolvidas), o gigante asiático escapa dessas revisões para baixo. Nem as acentuadas quedas da Bolsa de Xangai neste verão nem os crescentes indícios de que o investimento imobiliário e a produção industrial deixaram de caminhar a um bom ritmo modificam a expectativa dos especialistas do FMI, que destacam o novo suporte do consumo privado. Como ocorria no início do ano, o Fundo estima que o PIB chinês crescerá 6,8% em 2015 e 6,3% em 2016.

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“As repercussões da desaceleração chinesa além das fronteiras do país são maiores do que foi estimado inicialmente”, justifica o Fundo. “Isso se reflete em uma queda nos preços das matérias-primas e nas exportações para a China, hoje mais fracas”, acrescenta.

A cotação do petróleo caiu 46% no último ano, segundo os números do FMI, enquanto o preço dos principais metais caiu 22% e o dos alimentos, 17%. O Fundo antecipa que este período de preços baixos dos produtos básicos se estenderá por pelo menos mais dois anos, e retirará entre 1 e 2,25 pontos percentuais do crescimento anual dos países exportadores entre 2015 e 2017.

Revisão para baixo na América Latina

América Latina é a região que sai na pior situação com esse novo cenário, protagonizado também pelo endurecimento das condições financeiras para os países emergentes – a iminente alta das taxas de juros nos Estados Unidos marca o fim da abundância de liquidez – ou a saída de capitais em direção aos refúgios tradicionais (Estados Unidos, Japão e a zona do euro). A nova previsão é que o PIB conjunto das economias latino-americanas e do Caribe retroceda 0,3% este ano, frente ao aumento de 0,5% que se antecipava em julho.

A Venezuela (-10%), o Brasil (-3%) e o Equador (-0,6%) são os que mostram a pior evolução, após um corte substancial em relação à última previsão. Mas também está se desacelerando o crescimento dos países integrantes da Aliança do Pacífico (Chile, México, Colômbia e Peru), mais flutuante, com avanços em torno de 2,5%. A Argentina aponta para uma ligeira melhor este ano, ainda que apenas para postergar a recessão (-0,7%) para 2016. Já a Bolívia mantém a taxa de 4,1%, beneficiada em parte porque os contratos de exploração de gás natural são negociados a longo prazo.

A Rússia, tão atingida pela queda no preço do petróleo como pelo conflito com a Ucrânia e as sanções econômicas, também enfrenta um prognóstico pior, com um retrocesso previsto em 3,8%, diante dos 3,4% que o FMI estimava em julho. A previsão sobre a economia da Índia também sofre uma pequena correção – mas ainda assim seu crescimento (7,3% em 2015) será maior que o da China desta vez.

A lenta recuperação dos países avançados

O impacto da queda dos preços das matérias-primas e das exportações à China também fica evidente na evolução dos países avançados, que ainda assim registrarão um crescimento maior (2%) que o de 2014 (1,8%). O FMI afirma que “as heranças da crise financeira em várias economias desenvolvidas”, incluindo “os altos níveis de dívida pública e privada, a fraqueza do setor financeiro e os baixos investimentos” se unem a outros problemas de médio prazo (envelhecimento, produtividade estancada). Assim, o que agora é um cenário vantajoso para muitos deles – importação mais barata de petróleo e as condições financeiras favoráveis pela intervenção de bancos centrais – não se traduz numa recuperação mais vigorosa.

O prognóstico piorou levemente para a Alemanha (crescimento de 1,5% em 2015) e o Japão (0,6%), países exportadores afetados pelas quedas nas compras da China. E também em algumas economias avançadas que vendem matérias-primas, como Canadá, Noruega e Austrália. Por outro lado, as previsões melhoram ligeiramente para os Estados Unidos (2,6%) e o Reino Unido (2,5%). No caso dos EUA, o FMI antecipa que a melhora das condições laborais, como a taxa de desemprego em 5,1%, pode levar o Federal Reserve (Banco Central norte-americano) a subir as taxas de juros no final deste ano, mas diz que nem a inflação nem os salários têm dado sinais claras de reativação.

A estimativa para a Espanha não muda (um avanço de 3,1%, dois décimos abaixo da previsão do Governo de Rajoy), mas o Fundo volta a destacar que o crescimento previsto “é especialmente intenso”, até dobrar a taxa estipulada para a zona do euro (1,5%).

O FMI acredita que a economia mundial terá algum impulso em 2016, apesar de também revisar para baixo sua previsão, que agora é de 3,6%. Os especialistas do organismo internacional apostam que a recessão do Brasil e da Rússia é passageira, assim como a freada de outros exportadores de matérias-primas. Isso, aliado a outro passo na lenta recuperação das economias avançadas, permitiria compensar a desaceleração chinesa. Agora só falta comprovar se a previsão será mantida ou se sofrerá outra queda nos próximos meses.

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