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FMI projeta queda de 3% do PIB do Brasil em 2015 e destaca crise política

Fundo Monetário vê cenário de deterioração “mais profunda do que se imaginava”

Antonio Jiménez Barca
Dilma Rousseff, em Brasília.
Dilma Rousseff, em Brasília.EVARISTO SA (AFP)

O Fundo Monetário Internacional (FMI) enxerga o Brasil, a economia mais potente de América Latina, tocando o fundo do poço ao longo de 2015. Durante este ano, segundo os analistas do Fundo, que celebra nesta semana em Lima sua Assembleia Anual, o PIB brasileiro vai retroceder 3%. Em abril, o Fundo projetava uma queda em torno de 1%. Em julho, porém, com a rápida deterioração do cenário político e econômico, os especialistas da organização reconsideraram e projetaram uma queda ainda mais preocupante, de 1,5%. Em outubro, essa projeção negativa dobrou, o que indica como o país segue ladeira abaixo, chegando a um ponto que ninguém podia vislumbrar no início do ano. “No Brasil, a queda é mais profunda do que se imaginava”, resume o relatório. Em 2013, a economia brasileira manteve-se firme com um avanço de 2,7%, embora já no ano passado tenha se contraído 0,1%.

Estas cifras constituem um revés para uma economia que chegou a crescer 7,5% na década passada, e para uma população que, durante esse tempo, pensou que seu país, por fim, se colocava junto às nações mais prósperas. Boa parte da crise econômica tem sua origem em uma incerteza política e na própria debilidade da presidenta, Dilma Rousseff. A mandataria, eleita para seu segundo mandato em janeiro por uma margem estreitíssima, padece com um índice de popularidade muito baixo, que não supera 10%, e suas desavenças com um Congresso hostil, que veta suas iniciativas e põe trava às suas medidas de ajuste, jogando-a contra as cordas um dia sim e outro também. “A confiança dos investidores e dos consumidores continua se retrair no país, em parte pela deterioração política”, corrobora o informe.

No início de setembro, o ministro da Fazenda, Joaquim Levy, disse ao EL PAÍS que o ajuste fiscal promovido pelo Governo representava um terço da desaceleração do PIB. O resto seria obra do nó político que se estabeleceu entre o Executivo e o Legislativo. “Quando tem uma turbulência política as pessoas se retraem. E decisões que você precisa tomar são adiadas”, disse Levy na ocasião.

Ao mesmo tempo, a inflação, verdadeiro calcanhar de Aquiles da economia brasileira, deve manter trajetória de alta, até um quase intolerável 8,9% ao longo deste ano duro, segundo os experts do fundo. Depois do tarifaço do início do ano, com a alta nos preços de tributos e da energia elétrica, o país encara as pressões inflacionárias das oscilações do câmbio e a recente alta dos combustíveis, anunciada pela Petrobras. Até agosto, a alta de preços chega a 7,06%, acima da meta de 6,5% estabelecida pelo Banco Central.

O FMI considera, por outro lado, que depois da alta de quase 9%, a inflação vai ceder até em função do quadro recessivo, onde as pessoas estão apertando o cinto e reduzindo gastos, com receio do desemprego. Para o fundo, a inflação acabará flutuando em torno de 6,3%. O desemprego, por outro lado, que em anos anteriores não superava os 5%, chegará a 6,6% em 2015 para alcançar, no ano que vem, 8,6%.

Os desencontros políticos e a pressão pela saída da presidenta Rousseff tem retraído o setor empresarial, que não aumenta investimentos, à espera de um cenário mais claro. Parte dos empresários estão em pé de guerra com o Governo com o projeto de recriar o imposto para a saúde e previdência, a CPMF, que deve passar pelo crivo do Congresso nas próximas semanas. Levy tem condicionado a melhora da economia à aprovação do ajuste. Na semana passada, a mandatária promoveu uma reforma ministerial dando mais espaço ao hostil PMDB para garantir apoio aos programas de austeridade proposto por Levy.

Lava Jato e estresse político

O “estresse político e financeiro”, resultado da deteriorante posição fiscal do Brasil e da investigação Lava Jato, será um fator de pressão para o país, segundo a agência de classificação de risco Moody's a seus clientes nesta terça. A agência coincide com o FMI na projeção de queda de 3% da economia nesta ano. A falta de consenso político “tem impedido a atual administração de entregar superávits fiscais de tamanho suficiente para conter o nível de endividamento do governo”, afirma Mauro Leos, vice-presidente e analista sênior da Moody´s. O quadro afeta a posição fiscal do Brasil e continuarão afetando negativamente a qualidade de crédito de emissores tanto do setor público quanto do privado ao longo de 2016, prevê a agência.

Brasil arrasta a Argentina

O desmoronamento da economia brasileira, muito mais acelerado e estrepitoso do que se esperava, com um retrocesso de 3% durante este ano, arrasta indevidamente em sua queda a vizinha Argentina. Aproximadamente 50% das exportações argentinas são destinadas ao Brasil. Por isso, o Relatório de Perspectivas do FMI apresentado nesta terça-feira em Lima prognostica para a Argentina neste ano uma exígua ascensão do PIB, de apenas 0,4%, e prevê, para o ano que vem, um retrocesso de 0,7%. A inflação, que neste ano flutuará em torno de 16,8%, disparará em 2016 até inquietantes 25,6%.

A desvalorização do real, além de afetar as exportações, já fez o turismo despencar 26%. Se há alguns anos eram os brasileiros, donos de uma moeda forte, que enchiam os restaurantes argentinos, agora ocorre o contrário. Enquanto isso, a Argentina, mergulhada em uma campanha eleitoral que acabará em 25 de outubro, à espera de escolher o sucessor do kirchnerismo, aguarda sem saber se depois das eleições o vencedor decidirá também desvalorizar o peso. Dada a crônica inflação argentina, trata-se de um passo delicado, e nenhum candidato revelou o que vai fazer a respeito.

O retrocesso chinês também fere as exportações argentinas. As épocas em que o gigante chinês crescia acima de 9% já são história. Com um crescimento que neste ano não chegará aos 7% e que o ano que vem retrocederá ainda mais, ficando em 6,3%, a China precisará, entre outras coisas, de menos minerais e menos soja procedentes da Argentina.

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