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O Rio reage contra a intolerância

Agressão a uma menina de 11 anos revelou fragilidade da convivência entre credos

María Martín
Arzobispo do Rio e a menina que levou pedrada no Rio.
Arzobispo do Rio e a menina que levou pedrada no Rio.ArqRio

O Rio de Janeiro é o segundo Estado menos religioso do Brasil, mas também o que tem maior proporção de praticantes de religiões afro-brasileiras do país: 1,61% dos fieis, segundo um levantamento da Fundação Getúlio Vargas, enquanto no território nacional só 0,35% da população se declara como tal. Os rituais da Umbanda e o Candomblé, como as oferendas a deusa do mar Iemanjá, foram inclusive a origem de costumes hoje tão próprios dos cariocas como a festa do réveillon na praia de Copacabana, que atrai milhões de pessoas todos os anos para saudar a orixá na virada. Mas a convivência entre credos é frágil na cidade Maravilhosa.

O Rio liderou as denúncias de discriminação religiosa em 2014, segundo um levantamento da Secretaria de Direitos Humanos da Presidência da República. O último e mais violento exemplo foi a pedrada lançada em junho contra Kailane Campos, de 11 anos, quando saía de um culto vestida de branco junto com a avó, que é mãe no santo. “O que chamou a atenção foi que eles começaram a levantar a Bíblia e a chamar todo mundo de ‘diabo’, ‘vai para o inferno’, ‘Jesus está voltando", disse  a avó da menina, Káthia Marinho, após o ataque. O Rio é o quinto Estado do país em religiões evangélicas tradicionais e o 15º nas evangélicas pentecostais, como a Assembleia de Deus.

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Dias depois, uma passeata contra a intolerância religiosa ocupou a praia de Copacabana, na zona sul do Rio de Janeiro. Na marcha, o presidente da Comissão Estadual de Combate à Intolerância, Ivanir dos Santos, cobrou que os crimes motivados por intolerância religiosa sejam registrados e investigados como tal. “As delegacias não podem registrar esses casos como rixa de vizinho e desentendimento. É importante esses episódios chegarem até o Judiciário e ele tomar suas medidas. E o Governo federal tem de fazer o Plano Nacional de Combate à Intolerância Religiosa, porque enquanto Governo e sociedade civil não pactuarem uma forma de enfrentar a situação, o que está em risco é a democracia”, disse Santos à Agência Brasil.

Outra reivindicação, já contemplada em uma lei de 2011, é a implementação de uma delegacia específica. "É o grande desejo dos representantes das religiões diversas. Os crimes de ódio, que assistimos diariamente no Rio, merecem que essa demanda seja atendida", disse, em 18 de agosto, o presidente da Comissão de Defesa dos Direitos Humanos da Assembleia Legislativa do Rio, o deputado Marcelo Freixo (PSOL) durante uma audiência para debater a liberdade religiosa.

Nessa audiência foram apresentados mais dados e depoimentos que escancaram uma convivência delicada entre fieis. Entre julho de 2012 e dezembro de 2014, o Centro de Promoção da Liberdade Religiosa & Direitos Humanos registrou 948 queixas, 71% delas sobre intolerância a religiões. A professora de português Denise Bonfim, que é muçulmana, disse ao portal G1 que foi ameaçada de morte na mesma rua onde a menina Kayllane foi apedrejada. "Estava usando o hijab (véu islâmico) e disseram que iam me matar. Fiquei com muito medo e passei vários meses sem usar o véu e sem entender o motivo de tamanha intolerância", relatou. Átila Nunes, autor da lei de 2011 que cria a Delegacia de Crimes Raciais e Delitos de Intolerância, lamenta. "Temos um pequeno estado islâmico encravado no Rio de Janeiro", lamenta ele. A delegacia que ele tenta criar ainda no papel.

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