Papa evita citar dissidentes e exilados em missa em Havana
Arcebispo Ortega faz votos pela reconciliação entre os cubanos “de dentro e fora de Cuba”
A homilia do papa Francisco na praça da Revolução, em Havana, tão esperada por todos, cada um por suas razões, acabou sendo apenas isso, uma homilia, sem nenhuma referência –nem explícita nem nas entrelinhas– à situação política e social que Cuba atravessa. Nem o Governo, representado por Raúl Castro, nem a dissidência, da qual alguns expoentes foram presos ao tentar se aproximar de Jorge Mario Bergoglio, viram cumpridas suas expectativas de que o Papa pedisse menos embargo ao Governo de lá ou mais liberdade ao de cá. Foi apenas isso, uma homilia, um sermão no qual um pastor pede a seus fiéis, uma multidão muito alegre e muito vigiada, que sirvam às pessoas e não às ideologias. Muito pouco, por ora, para uma viagem tão longa.
"A importância de um povo, de uma nação, a importância de uma pessoa sempre se baseia em como serve à fragilidade de seus irmãos. O serviço nunca é ideológico, já que não se serve a ideias, mas se serve às pessoas”, explicou o Papa. E assim, 20 minutos cronometrados, com Raúl Castro e seus assessores em atitude de resguardo, tanto ou mais emotivo que o da presidenta argentina, Cristina Fernández de Kirchner, que se converteu em uma fã de Bergoglio e o segue aonde for.
Cristina, usando um grande chapéu, foi a única dama de branco a quem se permitiu aproximar-se de Francisco. “Fui presa com Ángel Moya pela Segurança do Estado, que impediu que chegássemos à Nunciatura Apostólica”, denunciou em sua conta do Twitter Berta Soler, líder do movimento oposicionista Damas de Branco. Outras ativistas contrárias ao regime também reclamaram que “as brigadas de resposta rápida” as impediram de chegar perto da residência do papa Francisco em Havana. O líder da chamada União Patriótica de Cuba, José Daniel Ferrer, também denunciou a detenção de 31 oposicionistas que pretendiam assistir à missa.
Durante a noite de sábado, alguns jornalistas perguntaram ao padre Federico Lombardi, porta-voz do Vaticano, se o Papa passaria toda sua estada em Cuba sem receber os dissidentes nem abordar a questão. O jesuíta respondeu que “nem tudo na visita do Papa são discursos públicos, também há assuntos que são tratados em privado”, dando a entender que Jorge Mario Bergoglio estaria, sim, mediando em favor da oposição, mas longe da mídia e da polêmica.
De concreto, ao concluir a missa, o cardeal Jaime Lucas Ortega, arcebispo de Havana, não só agradeceu ao Papa por seus gestos em favor da aproximação entre Cuba e Estados Unidos, como também seu incentivo para a superação das disputas internas. “Para alcançar um espírito cristão de perdão e misericórdia, a desejada reconciliação entre todos os cubanos, os que vivem em Cuba ou fora de Cuba”, disse.
O arcebispo Ortega se transformou no único dos presentes, incluindo Castro e Bergoglio, a referir-se, embora sem citar o nome, aos dissidentes e exilados. A famosa efígie de Che Guevara, à esquerda do altar, e o monumento ao prócer independentista José Martí, à direita, terminavam por compor a coreografia de uma manhã de domingo em Havana.
"Não temos o direito de nos permitir outro fracasso na Colômbia"
Ao final da missa na praça da Revolução, o Papa leu a mensagem que inicialmente planejara dirigir aos fiéis durante a oração do Angelus. “Neste momento eu me sinto no dever de dirigir meu pensamento à querida terra da Colômbia, consciente da importância crucial do momento presente, no qual, com esforço renovado e movidos pela esperança, seus filhos estão buscando construir uma sociedade em paz. Que o sangue vertido por milhares de inocentes durante tantas décadas de conflito armado, unido àquele do Senhor Jesus Cristo na Cruz, sustente todos os esforços que estão sendo feitos, incluindo nesta bela ilha, para uma conciliação definitiva. E assim, que a longa noite de dor e de violência, com a vontade de todos os colombianos, possa se transformar em um dia sem o ocaso da concórdia, justiça, fraternidade e amor, e com o respeito à institucionalidade e o direito nacional e internacional, para que a paz seja duradoura. Por favor, não temos o direito de nos permitir mais um fracasso neste caminho de paz e reconciliação.”
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