A empatia de Francisco
É positivo que o Papa Francisco proponha uma nova aproximação dos católicos às mulheres que fizeram um aborto
Mais uma vez o papa Francisco fez um anúncio que, apesar de não alterar a doutrina católica, apresenta um ponto de vista substancialmente diferente do tradicional da Igreja sobre um tema de amplo e forte debate social como é o aborto.
O anúncio de que a partir de dezembro de 2015 e até novembro de 2016 os sacerdotes – e não só os bispos, como até agora – poderão absolver as mulheres que fizeram abortos e quiserem confessar pode parecer, à primeira vista, uma questão do regime interno da Igreja católica. O aborto é uma prática legal – com mais ou menos restrições – na maioria dos países do mundo. Que o representante de uma religião decida variar um procedimento que não tem consequência legal como é o perdão dos pecados pode parecer um tema secundário sem maior transcendência; mas no caso da Igreja Católica não é assim. Trata-se de uma instituição de peso indiscutível nas discussões que aconteceram em muitos países a respeito da legalização ou alteração das leis relacionadas com a interrupção do aborto. Espanha, Irlanda, Polônia e Chile, para citar alguns casos, são bons exemplos.
Bergoglio convida os católicos a uma nova aproximação à mulher que decide abortar. O Papa foge da linguagem condenatória em um exercício de empatia que surpreende por sua novidade. E, nesse sentido, é uma boa notícia, porque em qualquer abordagem de uma questão tão polêmica sempre são bem-vindas as vozes autorizadas que fazem o convite para que nos coloquemos no lugar do outro, e não para condená-lo.
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