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Hillary Clinton apela para o voto da geração do milênio

‘Millennials’ são o grupo mais diversificado, mais conectado e com mais iniciativa

A candidata democrata posa para admiradores em Cleveland, Ohio.
A candidata democrata posa para admiradores em Cleveland, Ohio.David Richard (AP)

Os estudantes exibiam em cartazes as cifras de 25.000, 30.000 e 40.000 dólares (90.000 a 145.000 reais, aproximadamente). Cada valor corresponde à dívida pendente ao terminar uma faculdade. Junto deles, o senador Bernie Sanders, pré-candidato à presidência dos EUA pelo Partido Democrata, apresentava um plano para acabar com essa situação econômica que atrapalha o futuro de milhares de jovens norte-americanos. A dívida dos universitários chega a 1,2 trilhão de dólares e é um dos assuntos que mais preocupam a geração dos millennials, um grupo de eleitores com 18 a 34 anos, que entende a política de maneira diferente das gerações anteriores e já está influenciando a campanha eleitoral de 2016.

Os millennials são a geração mais diversificada: quatro em cada dez eleitores de 18 a 34 anos pertencem a alguma minoria, principalmente a hispânica. É também a mais ativa e que menos confia no processo eleitoral como promotor de mudanças. Sanders, o democrata que surpreendeu neste começo de campanha com uma grande presença de público em seus comícios, defende um novo sistema que facilite o acesso ao ensino superior. Sua rival Hillary Clinton oferece financiar os diplomas universitários com um fundo de 350 bilhões de dólares.

Facebook é a principal fonte de notícias políticas para 61% dos ‘millennials’, e só 37% deles se informam pela televisão

A mais de um ano das eleições, os democratas largaram com propostas relacionadas aos assuntos que mais preocupam os millennials. Tais propostas contrastam com outros ciclos eleitorais, em que guerras no Iraque e Afeganistão e a crise econômica protagonizaram as campanhas. Além da dívida estudantil, os pré-candidatos já abordaram questões sociais como a igualdade salarial, a justiça social, o ambiente, a imigração e a reforma do sistema carcerário.

Clinton parte como favorita – 47% dos jovens entre 18 e 29 anos votariam nela, segundo uma pesquisa do Instituto de Política da Universidade Harvard –, mas ela e os demais candidatos dependem de uma geração de eleitores totalmente diferente das anteriores. Para convencê-los, será preciso explorar a tecnologia e apostar em políticas sociais.

Michelle Diggles, analista do think tank progressista The Third Way (a terceira via), destaca que esta geração se caracteriza por ter crescido cercada de tecnologia e permanentemente conectada à Internet, sua fonte de informação. O Facebook é a principal fonte de notícias políticas para 61% dos millennials, e só 37% se informam pela televisão, segundo o Centro de Pesquisas Pew, ao passo que 60% dos baby boomers – nascidos entre 1946 e 1964 – continuam confiando na televisão, enquanto 39% destes preferem as redes sociais.

@HillaryClinton NO INSTAGRAM. Perfil da candidata criada para os ‘millennials’.
@HillaryClinton NO INSTAGRAM. Perfil da candidata criada para os ‘millennials’.

Tanto Sanders como Clinton tentam explorar esse terreno através das redes sociais. O senador tem cinco vezes mais seguidores no Facebook que Jeb Bush, pré-candidato pelo Partido Republicano. A ex-secretária de Estado exibe nas redes sociais fotos da época em que era estudante. “Ela está dizendo a eles que entende a sua realidade”, afirma Diggles.

Os candidatos precisarão superar o desafio de traduzir essas interações em votos, observa Kei Kawashima, diretora do Centro de Informação e Participação Cidadã da Universidade Tufts. Em 2008, 51% dos jovens de 18 a 34 anos votaram, um dos maiores níveis de comparecimento da história, mas a participação caiu para 45% na eleição presidencial de 2012 e para 19,9% nas legislativas de 2014.

“Esta geração confia menos nas instituições e no processo eleitoral, no Congresso e no Judiciário”, diz Kawashima. Apenas um em cada quatro millennials considera que o voto é uma forma efetiva de provocar mudanças sociais. Acostumados ao ativismo via Internet, “o que mais lhes interessa é que as propostas tenham impacto, não quem as propõe”, argumenta Kawashima.

Foi a geração do milênio que impulsionou a economia colaborativa de empresas como Uber e Kickstarter, perturbando os modelos de negócio tradicionais. Esse grupo cresceu na pior recessão econômica das últimas décadas, em meio a cifras históricas de desemprego. “Eles não se conformaram com a economia que herdaram, e em vez disso disseram: ‘Não gostamos, e temos a tecnologia e a capacidade de mudá-la’”, diz Kawashima. “Muitos estão desempregados ou subempregados, então preferiram criar seu próprio posto de trabalho”, acrescenta. Clinton aproveitou a deixa e já propôs medidas para proteger empregados de serviços como o Uber.

Apesar de tanto Sanders como Clinton tentarem desde já se adequar aos valores mais progressistas dos millennials, Diggles alerta que a maioria desses eleitores não se alinha aos conceitos de direita ou esquerda: 50% se declaram independentes, e até 48% se descrevem como moderados. Segundo as especialistas, os jovens decidirão seu voto em função do impacto das políticas, e não tanto do candidato que as defenda.

A pré-candidata democrata já tenta dominar esse equilíbrio. Suas propostas em questões imigratórias, armas, dívida estudantil e reforma do sistema judicial estão à esquerda do programa que ela apresentou na sua pré-candidatura de oito anos atrás. Mas, em questões de política externa, é mais conservadora e mais próxima do eleitorado da sua geração, os baby boomers. Como admitiu meses atrás o seu diretor de campanha, John Podesta, a verdadeira briga será para “fisgar a paixão dos eleitores mais jovens”.

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