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Quando Andy Warhol conheceu o Velvet Underground

Exposição na França comemora o 50º aniversário desse "amor à primeira vista" Encontro entre músicos e artistas é mais um motivo que torna 1965 um ano especial

Álex Vicente
Andy Warhol (à direita) e o Velvet Underground, em uma imagem de 1966 realizada pelo fotógrafo Steve Schapiro.
Andy Warhol (à direita) e o Velvet Underground, em uma imagem de 1966 realizada pelo fotógrafo Steve Schapiro.

As distintas versões desta história variam em relação a seus detalhes, mas todas concordam com o ponto essencial: Andy Warhol apertou a mão dos integrantes do Velvet Underground pela primeira vez em dezembro de 1965, quando a banda era residente do Café Bizarre, um lugar do Village nova-iorquino do qual não demorariam a ser despedidos. O encontro se deveu a Barbara Rubin, figura central do cinema underground dos anos sessenta, que pouco depois abandonou os excessos da cidade para se juntar a uma seita chassídica, antes de morrer, aos 35 anos, de uma infecção contraída no parto.

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A banda, cujo nome se inspirava em um estudo psiquiátrico sobre os desvios sexuais, tinha sido fundada meses antes por John Cale, jovem discípulo do compositor vanguardista La Monte Young, e por Lou Reed, letrista e vocalista recém-saído da universidade com um boletim brilhante, apesar de seus problemas para acatar a autoridade.

Sua música elétrica e sombria, unida à poesia violenta de suas letras, seu interesse pelo barulho e uma performance gélida e radicalmente oposta aos swinging sixties, conseguiu fascinar Warhol. O artista não demorou em convidá-los para tocar na Factory, o estúdio que ele abriu em 1963 no quinto andar de um prédio de Manhattan. O mesmo Reed descreveu, na época, que o momento foi como uma flechada do cupido: “Fomos feitos um para o outro. As canções escritas antes de nosso encontro se relacionavam perfeitamente com os temas dos filmes de Andy. Ele nos deu a oportunidade de nos transformarmos no The Velvet Underground. Antes, não éramos nada e não interessávamos a ninguém”.

Fomos feitos um para o outro. Ele nos deu a oportunidade de nos transformarmos no The Velvet Underground Lou Reed

A sede do Centro Pompidou em Metz, um enclave industrial na região da Lorena, na França, comemora agora o 50º aniversário desta “paixão à primeira vista” com uma nova exposição intitulada Warhol Underground. Até 23 de novembro, a mostra percorre os vínculos do artista com a cena vanguardista de Nova York e tenta determinar até que ponto ela influenciou sua obra. “Na realidade, todas as rupturas estéticas são feitas em grupo. Warhol foi o oposto de um autista fechado em sua torre de marfim. Ele soube observar e escutar, nutrindo-se de todos os que o rodeavam”, afirma Emma Lavigne, diretora do museu e organizadora da exposição. “Ele se inspirou nessa constelação de artistas que sobrevivia no Lower East Side, a quem ele ajudou financeiramente, mas também nos herdeiros da Beat Generation, nas figuras do movimento Fluxe e nos deuses da contracultura, como Robert Rauschenberg, John Cage, Merce Cunningham e Jonas Mekas”, acrecenta. Sem esquecermos das chamadas superstars de Warhol, personagens da noite nova-iorquina, como Candy Darling, International Velvet e Ondine, a quem ele dedicava uma atenção flutuante. Todos passaram por esse refúgio das vanguardas, frequentado por artistas excêntricos, anjos caídos e toxicômanos de índole distinta.

Serigrafias e retratos

O percurso da mostra inclui as primeiras serigrafias executadas em seu ateliê, como as famosas latas de sopa Campbell e as caixas de esponjas de aço da marca Brillo, passando por seus retratos de Elizabeth Taylor (Ten Lizes) e a tétrica reflexão sobre a cadeira elétrica (Big Electric Chair). Ali também estão os filmes que Warhol rodou na Factory – cerca de 15 por ano -, entre eles Sleep, Kiss, Empire e Chelsea Girls.

Na primeira sala da exposição, diante de um sofá vermelho idêntico ao original da Factory, uma centena de fotografias confirmam o vibrante cotidiano do lugar. A modelo Edie Sedgwick aparece dançando em uma festa. O poeta Gerard Malanga, principal assistente de Warhol e responsável pelo casting de aspirantes, se apoia em uma parede prateada, a cor que envolvia toda a Factory. E a cantora Nico aprende os primeiros acordes de There she goes again entre visitantes ilustres como Dylan, Tennesse Williams e Truman Capote.

Entre os autores das imagens figuram nomes aclamados, como Nat Finkelstein, Steve Schapiro e Stephen Shore, recrutado por Warhol aos 18 anos. “Em 1965, rodei um curta-metragem que foi projetado no mesmo cinema nova-iorquino onde Andy exibia seus filmes. Ele me pediu para que o seguisse e foi o que eu fiz”, lembrou Shore pouco depois da inauguração. “Larguei os estudos e passava meus dias na Factory, me tornando mais um deles. O contato com os inquilinos da Factory, que se transformaram em amigos, resultou em centenas de fotografias com as quais aprendi a profissão”.

'Ten Lizes', serigrafia realizada por Warhol com retratos de Elizabeth Taylor.
'Ten Lizes', serigrafia realizada por Warhol com retratos de Elizabeth Taylor.The Andy Warhol Foundation for the Visual Arts

“Só pagava o aluguel”

Outro dos personagens assíduos era o fotógrafo David McCabe, contratado aos 25 anos para retratasse Warhol durante os doze meses de 1964. McCabe é contra a lenda de que o artista teria vampirizado seus jovens súditos em benefício próprio. “Sei que Edie (Sedgwick) se sentiu usada, mas na realidade foi ela mesma quem se autodestruiu. Warhol só deu a ela a fama”, afirma. “Ele às vezes era frio com as pessoas com as quais não ia com a cara, mas comigo sempre foi respeitoso e cooperativo. Percebeu meu talento na tenra idade de 25 anos e me dedicou uma atenção da qual continuo me beneficiando até hoje, cinquenta anos depois”, conclui.

O próprio Warhol negava ser o mais interessante do lugar: “As pessoas acreditavam que na Factory tudo girava à minha volta. Na verdade, eu só pagava o aluguel”, declarou certa vez.

Até que o barulho sumiu

Como era uma noite no estúdio de Andy Warhol? "Não havia saraus normais na Factory, apenas quando estava vazia", recorda Gerard Malanga, desde Nova York. Havia música tocando a toda hora. "Rock'n'roll a todo volume, gente dançando, fumando, se divertindo", evoca o fotógrafo David McCabe. Ouvia-se hits como Blue Velvet e Louie Louie, mas também as árias de Maria Callas, sem contar com o poderoso ruído natural de elevadores estridentes, obturadores fotográficos e sexo em grupo dentro dos quartos, segundo admitiu Warhol em seu livro POPism.

A aventura acabou em 1968, depois que Valerie Solanas tentou assassinar o artista, que se mudou para um espaço mais asséptico no Union Square e passou a se dedicar a serigrafias. “O tempo da experimentação terminou e começou o do comércio, como se a realidade tivesse se imposto diante da poesia”, conclui a organizadora.

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