_
_
_
_
Meu edifício favorito

Zaha Hadid: “Niemeyer tinha um talento inato para a sensualidade”

Arquiteta destaca, entre suas obras favoritas, a que o brasileiro construiu no Rio de Janeiro

Anatxu Zabalbeascoa
Hadid teve a oportunidade de visitar Niemeyer em sua casa no Rio.
Hadid teve a oportunidade de visitar Niemeyer em sua casa no Rio.Album

“Quando era criança e vivia em Bagdá tive a sorte de viajar com meus pais todos os verões”. O pai da arquiteta Zaha Hadid foi um político progressista – anterior a Saddam Hussein – que, depois de estudar Economia em Londres, levou para o Iraque as ideias do Partido Trabalhista como a reforma agrária e os direitos dos trabalhadores. Assim, nessas viagens em família, Mohammed Hadid foi traçando uma rota pelos museus e edifícios do mundo que ninguém deveria morrer sem conhecer, conta sua filha. Ela se lembra de ter visto com sete anos a Mesquita de Córdoba. Foi entrar e abrir a boca. “É claro que há muitos outros lugares extraordinários, mas o contraste entre a escuridão e a igreja central de mármore é algo que nunca esqueci. Está séculos à frente dos projetos híbridos que construímos hoje”, diz. Por isso, para encontrar um edifício inesquecível, é que esta arquiteta, que passou mais de metade da vida vivendo em Londres, usa suas viagens como adulta. E seu arquiteto favorito é o brasileiro Oscar Niemeyer.

Zaha Hadid

(Bagdá, 1950) é a primeira mulher que alcançou o reconhecimento em uma área, como a arquitetura, historicamente misógina. Autora do Maxxi de Roma ou do monumental Centro Heydar Aliyev, em Baku (Azerbaijão), foi quem projetou o Centro Aquático nos Jogos Olímpicos de Londres.

“Ele era um virtuoso do espaço. Tinha um talento inato para a sensualidade, por isso construiu uma arquitetura moderna crítica à modernidade. Muitos arquitetos experimentaram com as formas, mas ele foi o mais ambicioso: construiu com concreto formas aparentemente líquidas”. Para a autora da Ópera de Guangzhou, na China, ou do Centro Aquático de Londres, “a impressão que dão os projetos de Niemeyer é que saíram de um único traço, sem esforço, sem interrupção, sem necessidade de corrigir”. No entanto, logo aprendemos que algo que parece tão natural e simples tem, por trás, um imenso trabalho. Por isso, a primeira mulher que ganhou o Prêmio Pritzker (em 2004) escolheu a casa do arquiteto no Rio de Janeiro. “Tive a sorte de visitá-lo em sua Casa das Canoas, na Barra da Tijuca”.

Mais informações
Os poemas de concreto que Oscar Niemeyer não terminou
O legado de Niemeyer é revisitado em obra editada na Espanha
Niemeyer a partir de seus desenhos
Revolução na arquitetura chinesa: erguer um arranha-céu em 19 dias

Hadid acha que Niemeyer foi um gênio do século XX. “Mas seu talento nem sempre é reconhecido com generosidade. Seu estilo livre, sensual e extravagante foi julgado como um pouco ornamental”. Esta propriedade explica como as curvas não são caprichosas, ao contrário: obedecem à busca de sombras no interior ou à vontade de conviver em harmonia com a exuberante vegetação exterior. Também à necessidade de se adaptar aos desníveis do terreno. Assim, essa casa de concreto e vidro obedece a razões concretas e é o oposto da linda caixa que Mies van der Rohe levantou com sua famosa Farnsworth em Plano, Illinois, EUA. “A lição de Niemeyer é como a arquitetura moderna pode se dar ao luxo de ser próxima, chegar a pertencer ao lugar, em vez de se impor sobre ele”. Para Hadid, além disso, o arquiteto brasileiro foi um modelo. “Ele encorajou outros a buscarem maior exigência. A querer contribuir mais com os edifícios. Ele me deu muita força”, diz a autora do Maxxi de Roma.

Hadid admite que foi Le Corbusier que despertou Niemeyer quando chegou ao Brasil na década de trinta. “No entanto, Niemeyer tirou de Le Corbusier todo o talento escultural que a modernidade mantinha trancado em uma jaula cartesiana. O Le Corbusier mais livre, o de Ronchamp, foi aceito no Brasil”. Para Hadid, Niemeyer devolveu a lição aprendida fazendo com que arquitetura avançasse mais um passo.

Tu suscripción se está usando en otro dispositivo

¿Quieres añadir otro usuario a tu suscripción?

Si continúas leyendo en este dispositivo, no se podrá leer en el otro.

¿Por qué estás viendo esto?

Flecha

Tu suscripción se está usando en otro dispositivo y solo puedes acceder a EL PAÍS desde un dispositivo a la vez.

Si quieres compartir tu cuenta, cambia tu suscripción a la modalidad Premium, así podrás añadir otro usuario. Cada uno accederá con su propia cuenta de email, lo que os permitirá personalizar vuestra experiencia en EL PAÍS.

En el caso de no saber quién está usando tu cuenta, te recomendamos cambiar tu contraseña aquí.

Si decides continuar compartiendo tu cuenta, este mensaje se mostrará en tu dispositivo y en el de la otra persona que está usando tu cuenta de forma indefinida, afectando a tu experiencia de lectura. Puedes consultar aquí los términos y condiciones de la suscripción digital.

Mais informações

Arquivado Em

Recomendaciones EL PAÍS
Recomendaciones EL PAÍS
_
_