_
_
_
_
_

Festival de Veneza traz filmes latinos em uma programação 'atrevida'

Argentino Pablo Trapero e venezuelano Lorenzo Vigas concorrerão ao Leão de Ouro Do Brasil, há um curta-metragem e dois longas em uma mostra paralela

Tommaso Koch
Cena do filme brasileiro 'Boi Neon', de Gabriel Mascaro.
Cena do filme brasileiro 'Boi Neon', de Gabriel Mascaro.Mateus Sá (Divulgação)

Revertendo a postura do ano passado, em que não havia nenhum rastro de América Latina em sua competição principal, o festival de cinema de Veneza anunciou dois filmes latino-americanos na disputa pelo Leão de Ouro de sua 72º edição: El Clan, do argentino Pablo Trapero – coproduzida com a espanhola El Deseo –, e Desde Allá, do venezuelano Lorenzo Vigas. Do Brasil, especificamente, participam um curta-metragem e dois longas em uma mostra paralela.

A seleção oficial do evento, um dos três mais importantes do mundo ao lado do Festival de Cannes e do Festival de Berlim, foi anunciada na manhã desta quinta-feira e, apesar da boa notícia da presença latina, produz uma impressão ambivalente. O grande público não encontrará nenhum diretor capaz de despertar seu entusiasmo. Ainda assim, os cinéfilos talvez esperem com certo interesse os novos filmes de autores como Tom Hooper (The Danish Girl), Alexandre Sokurov (Francofonia) e Charlie Kaufman (Anomalisa). Nas redes sociais, houve até críticos que aplaudiram o “grande atrevimento” do certame italiano, que ocorrerá entre 2 e 12 de setembro.

Mais informações
Hollywood e a Anistia se enfrentam em polêmica sobre a prostituição
O Neruda político chega ao cinema
O boato dos Minions nazistas
‘Divertida Mente’, última animação da Pixar, explica o valor da tristeza
Cine Belas Artes, o patrimônio afetivo dos paulistanos
Cinema brasileiro que fala ‘portunhol’

Seja como for, a competição pelo Leão de Ouro contará com 21 filmes. Só três deles, como alguns ressaltaram com alívio, superam duas horas de duração. A seleção está dominada por filmes italianos (com quatro, como não ocorria desde 2009) e norte-americanos (também quatro filmes) e há certa presença do cinema europeu, enquanto a Ásia e a África tiveram que se contentar respectivamente com o documentário Behemot, do diretor chinês Liang Zhao, eThe Endless River, do sul-africano Olivier Herm. Só há duas diretoras entre os 21 cineastas selecionados: a australiana Sue Brooks, com Looking for Grace, e a norte-americana Laurie Anderson, viúva de Lou Reed, que apresenta Hearth of a Dog.

Embora nos últimos anos tenha sido afetado pela concorrência de outros certames, sobretudo o festival de Toronto, que acontece quase ao mesmo tempo, o Lido terá seu habitual desfile de estrelas, de Kristen Stewart ao oscarizado Eddie Redmayne, de Dakota Johnson a Jake Gyllenhal, passando por Johnny Depp, que protagoniza o thriller Black Mass, apresentado fora de concurso. E ainda está para se definir quais astros do elenco do curta-metragemThe Audition, de Martin Scorsese, que passará também fora de competição, visitarão Veneza: Robert De Niro, Leonardo DiCaprio ou Brad Pitt.

Os outros diretores dos EUA que concorrem ao Leão de Ouro são Charlie Kaufman, que apresenta Anomalisa, sua primeira experiência na animação emstop-motion, Drake Doremus, com Equals, e Cary Fukunaga, que, depois de ganhar celebridade pela direção da primeira temporada de True Detective, apresenta agora Beasts of No Nation, que aborda o drama das crianças-soldado na África e tem como protagonista Idris Elba.

Depois de decolar com seu melhor trio de ases em Cannes (Moretti, Garrone, Sorrentino), a Itália traz a seu festival o veterano Marco Bellocchio, com Sangre de Mi Sangre, Luca Guadagnino, com A Bigger Splash, Giuseppe M. Gaudino, com Per Amor Vostro, e Piero Messina, com L’Attesa. Completam a competição o turco Emin Alper (Abluka), o canadense Atom Egoyan (Remember), o francês Xavier Giannoli (Marguerite), o israelense Amos Gitai (Rabin, the Last Day, sobre o assassinato do primeiro-ministro), o polonêo Jerzy Skolimowski (11 Minutes) e o francês Christian Vincent (L’Hermine). Todos terão que seduzir um júri presidido pelo cineasta mexicano Alfonso Cuarón.

O resto da programação

Uma olhada no resto da programação oferece elementos interessantes e aumenta a porcentagem da presença hispano-americana no festival. A 72ª Mostra será inaugurada por Everest, de Baltasar Kormakur, e encerrada por Lao Pao Er, de Hu Guan. Fora da competição oficial poderão ser vistos nos novos trabalhos de Thomas McCarthy, Spotlight, com Michael Keaton e Mark Ruffalo, e do mexicano Arturo Ripstein, La Calle de la Amargura.

Na Orizzonti, segunda e mais peculiar mostra paralela à seleção oficial, serão vistos Un Monstruo de Mil Cabezas, do mexicano Rodrigo Plá, Boi Neon, do brasileiro Gabriel Mascaro, e Mate-me por Favor, da também brasileira Anita Rocha da Silveira, com produção de Vânia Catani. E, entre os curtas-metragens, Tarântula, dos brasileiros Aly Muritiba e Maria Calafange, En Defensa Propia, da mexicana Mariana Arriaga, e 55 Pastillas, do argentino Sebastián Muro.

Para encontrar alguma presença espanhola em Veneza é preciso recorrer à seção paralela Venice Days, que mistura filmes de novos talento com obras de mestres consagrados. Assim, o thriller Retribution, de Dani de la Torre e com Luis Tosar, inaugurará a mostra, que também projetará Zonda: Folclore Argentino, de Carlos Saura, com o qual o cineasta rende homenagem à música nacional da Argentina. A Venice Days mostrará também o filme La Memoria del Agua, do chileno Matías Bize, com Elena Anaya. E o artista espanhol Antoni Muntadas foi convidado pelo certame a apresentar seu vídeoDérive Veneziane, dedicado à cidade e que será projetado ao ar livre durante todo o festival, no Movie Village do Jardim do Lido.

Homenagem a Tavernier

O cineasta francês Bertrand Tavernier será agraciado com o Leão de Ouro pela carreira na 72ª edição da Mostra de Cinema de Veneza, entre 2 e 12 de setembro. O anúncio foi feito na entrevista coletiva do presidente da Bienal veneziana, Paolo Baratta, e do diretor da Mostra, Alberto Barbera. "Tavernier é um autor completo, instintivamente inconformista, valentemente eclético. O conjunto de sua obra constitui um corpus em parte anômalo no panorama do cinema francês dos últimos 40 anos", destacaram os organizadores. Tavernier (Lyon, 1941) é um dos cineastas mais reconhecidos da cinematografia galesa e é considerado um dos herdeiros da Nouvelle Vague de Godard, Chabrol e Truffaut. Algumas de suas obras mais destacadas são A Morte ao Vivo (1979), Um Olhar para a Vida (1980) e A Isca (1995), Urso de Ouro no Festival de Berlim. Outros filmes seus são Des Enfants Gatés (1977), A Lei de Quem Tem o Poder (1981), Um Sonho de Domingo (1984) – prêmio de melhor diretor em Cannes – e La Passion Béatrice (1987). Participou de Veneza duas vezes: em 1986 com Por Volta da Meia-Noite, que ganhou o Oscar por sua trilha musical e a indicação a seu protagonista, o saxofonista norte-americano Dexter Gordon. A segunda ocasião foi em 1992, com L.627 – Corrupção Policial (1992).

Mais informações

Arquivado Em

Recomendaciones EL PAÍS
Recomendaciones EL PAÍS
_
_