México e Estados Unidos começam “a caçada” ao narcotraficante 'El Chapo'
A busca de 'El Chapo' mobiliza 10.000 policiais federais e ativa os recursos da DEA
A procura por Joaquín El Chapo Guzmán já começou. Depois de uma reunião extraordinária do alto comando de segurança do Congresso, o ministro da área, Miguel Osorio Chong, anunciou que estão sendo rastreados “cidades, portos e aeroportos em uma mobilização que abrange todos os lugares em que o serviço de Inteligência acredita que possa estar”. Depois do duríssimo golpe que a fuga do narcotraficante representou para sua imagem, o Governo tenta retomar a iniciativa. “Vamos trazê-lo para a prisão e colocá-lo diante da justiça mexicana, que ninguém tenha dúvidas”, afirmou o Comissário Geral da Polícia Federal, Enrique Galindo Ceballos.
O México redobra assim a campanha depois de anunciar na quarta-feira o contingente de 10.000 policiais federais em 22 Estados da República, ao mesmo tempo em que autoridades dos Estados Unidos, onde o traficante acumula mais de uma dezena de processos abertos, garantiam que suas forças de segurança e inteligência também participarão da captura do narcotraficante. O chefe de operações da Drug Enforcement Administration (DEA), agência norte-americana dedicada à regulamentação das drogas e ao combate ao tráfico, Jack Riley, declarou ontem às redes CNN e Fox: “A caça começou. Vamos fazer todo o possível para ajudar [os mexicanos] a recapturá-lo, assim como fizemos da primeira vez [fevereiro de 2014] quando o rastreamos e o pegamos”. Riley desmentiu taxativamente que tenham havido problemas de colaboração entre os dois países depois da fuga de El Chapo. A Interpol também colaborará na operação de busca.
México redobra a campanha depois de anunciar o contingente de 10.000 policiais federais
A prisão de Guzmán em fevereiro de 2014 foi interpretada como um ponto de inflexão no ecossistema do crime organizado mexicano. O líder do cartel de Sinaloa se transformou então no último dos narcotraficantes históricos a ser capturado. O mapa das máfias da droga foi se fragmentando progressivamente e depois da queda do caudilho de La Federación, a organização das organizações, tudo apontava para uma atomização definitiva dos grupos mexicanos do crime. Mas El Chapo voltou a escapar e entre as maiores incógnitas que sua saída desperta estão se será capaz de reintegrar pequenos grupos sob seu comando ou se, ao contrário, isso detonará uma nova guerra entre facções.
Reorganização do mapa da droga
Pela segunda vez, Guzmán fugiu de uma prisão de segurança máxima. “Sua escapada demonstra que, apesar de estar na prisão, continuava administrando seu império. É a prova de que continuou no controle. Se não, é impossível ter a capacidade de agir assim e subornar um grupo de altos funcionários”, afirma Luis Ernesto Derbez Bautista, reitor da Universidade das Américas de Puebla.
O Cartel de Sinaloa, com mais de duas décadas de vida, é o grande exemplo do funcionamento transnacional do crime organizado. Sua estrutura e modo de operar supera por completo os de outros grupos que ganharam visibilidade recentemente, como Guerreiros Unidos —responsáveis pela matança dos alunos de magistério— ou Jalisco Nova Geração, considerado o mais ativo e violento da atualidade. Segundo a PGR (procuradoria) do México, há nove grandes cartéis, que ao mesmo tempo se subdividem em uma galáxia de 43 subgrupos, alguns deles com autonomia quase total.
Estas novas organizações têm presença em um pequeno número de Estados e, diante de sua menor infraestrutura, diversificaram sua atividade para o sequestro e a extorsão. O cartel sinaloense controla, no entanto, toda a faixa norte do Pacífico, opera em mais de 50 países e o coração de seu negócio continua sendo enviar imensas quantidades de droga como se fossem uma multinacional de transporte. São os principais atacadistas de cocaína sul-americana nos Estados Unidos e na Europa. Controlam as rotas terrestres na América Central. Traficam heroína do Oriente Médio e entraram também nos novos mercados pujantes com a importação de metanfetamina produzida em seus próprios laboratórios.
Há nove grandes cartéis, que por sua vez se subdividem em uma galáxia de 43 subgrupos, alguns deles com autonomia quase total
“Ao contrário de quem achava que estavam enfraquecidos, afirmo que continuam muito unidos e têm capacidade de tecer alianças”, afirma Javier Oliva Posada, especialista em segurança da Universidade Autônoma do México (UNAM). O impacto da saída de Guzmán e sua capacidade para reorganizar sob seu mandato o novo mapa da droga é colocado em cheque pelo think tank norte-americano Stratfor: “Sua imagem de negociador contrasta com as guerras que ele mesmo travou em Juárez, Tijuana e Novo Laredo”. Depois de sua primeira fuga em 2001, a batalha pelo controle dos passos de fronteira e dos territórios pelos quais as rotas de droga chegam aos EUA foram os piores episódios da enorme espiral de violência que o país viveu durante os seis anos de Felipe Calderón.
Novo surto de violência
“A volta de Guzmán à cena terá pouca incidência sobre o equilíbrio de forças do crime do México, que continuará fragmentado. A debilidade dos diferentes grupos desestimulará o início de grandes guerras entre facções, como há alguns anos”, acrescenta o informe recente de Stratfor. “Não é provável em curto prazo, exceto alguma represália contra os supostos inimigos que talvez tenham colaborado na prisão anterior. Mas estão quase todos na cadeia. Se há um lugar em que a violência pode ressurgir seria Jalisco, onde está o cartel mais forte no momento”, destaca Javier Oliva.
Jalisco, no oeste do México, um dos locais mais emblemáticos nas origens do Cartel de Sinaloa, é agora dominado pelo grupo Jalisco Nova Geração (CJNG). Essa cisão do próprio cartel sinaloense cresceu nos últimos anos à sombra das prisões do próprio Guzmán, e do líder dos Zetas, Omar Treviño Morales. Considerada uma das mais poderosas do México também segundo os EUA, em maio a facção bloqueou as principais avenidas de Guadalajara e derrubou um helicóptero militar no penúltimo desafio do narcotráfico ao Governo.
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