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Hollande propõe um Governo e um Parlamento para a zona do euro

O presidente francês rejeita o termo "humilhação" para descrever o acordo com a Grécia

Carlos Yárnoz
O mandatário francês, François Hollande, durante o desfile militar do Dia da Bastilha, nesta terça-feira em Paris.
O mandatário francês, François Hollande, durante o desfile militar do Dia da Bastilha, nesta terça-feira em Paris.IAN LANGSDON (EFE)

A principal lição para a França a partir da grave crise desencadeada pela Grécia é que a zona do euro deve ser fortalecida e ir “mais longe”. O presidente francês, François Hollande, propôs nesta terça-feira que os países da moeda única contem com um Governo, um Parlamento e um orçamento próprios. Para conseguir isso, Paris vai trabalhar em estreita cooperação com Berlim, porque “só quando a França e a Alemanha estejam unidas a Europa poderá avançar”, como ocorreu na longa noite de domingo para segunda no fechamento do primeiro acordo com Atenas.

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Durante sua tradicional entrevista anual transmitida pela TV por causa da festa nacional francesa, Hollande destacou que a zona do euro precisa desse “Governo econômico” para ser “mais forte”, mas também de maiores doses de democracia em seu funcionamento. Por isso, afirmou que deve haver também uma assembleia de parlamentares dos países que compartilham a moeda europeia.

Apesar das drásticas medidas sem precedentes impostas a Atenas, Hollande rejeitou o emprego do termo “humilhação”. Disse que teria havido humilhação se a Grécia fosse “expulsa” da zona do euro —uma “tentação” demonstrada por “alguns sócios”, em clara referência à Alemanha. Para o líder francês, houve o contrário: “uma verdadeira solidariedade” para com a Grécia, pois a Europa vai emprestar novamente 85 bilhões de euros (cerca de 292 bilhões de reais) e investir outros 35 bilhões de euros (120 bilhões de reais).

Hollande contou que foi contra a realização do referendo organizado pelo primeiro-ministro grego, Alexis Tsipras. E que, após o triunfo do não, falou com Tsipras e disse que com esse resultado ele estava “mais forte” na Grécia, mas “mais fraco” na União Europeia. A Alemanha, de fato, “endureceu” sua posição devido à consulta. Na mesma conversa, Hollande perguntou se Tsipras queria manter a Grécia na zona do euro. Ante a resposta afirmativa, respondeu-lhe: “A França o ajudará”.

Nesse contexto, Hollande explicou a sua intermediação nas tensas negociações da semana passada: “Foi a Europa que ganhou, e a França ocupou seu espaço, desempenhou seu papel”. Se a Grécia tivesse saído do euro, diz ele, Paris teria perdido “metade” dos mais de 42 bilhões de euros (143 bilhões de reais) que emprestou à Grécia.

O presidente francês afirma que a Alemanha endureceu sua posição com Atenas devido ao referendo

Os atentados jihadistas e a permanente ameaça terrorista contra a França foram o segundo assunto mais mencionado por Hollande. “Toda semana, desativamos, impedimos ou prevenimos atos terroristas”, afirmou. Por isso, ele defendeu a utilização de mais meios pelos serviços de informação, inclusive os previstos pela polêmica lei que inclui o rastreamento e a coleta massiva de dados eletrônicos sem controle judicial. “Somos um povo que jamais deve ceder à ameaça nem demonstrar medo, ainda que ele possa existir”, afirmou.

A mobilização militar nas ruas, com 7.000 homens e outros 3.000 disponíveis, continuará pelo menos até o final deste ano. No total, são 31.000 policiais, gendarmes, agentes de inteligência e militares dedicados especialmente à vigilância e à luta contra o terrorismo.

O presidente francês reiterou que não será candidato nas eleições presidenciais de 2017 se não houver redução do desemprego, hoje na faixa dos 10,4%. A França está crescendo —ao redor de 1%—, mas de forma “muito lenta” e insuficiente para criar emprego.

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