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América Latina aguarda o efeito da vitória do ‘não’ na Grécia

Maduro dá como sua a vitória de Tsipras, um resultado analisado mais no âmbito político do que econômico na região

Javier Lafuente
Maduro conversa com Diosdado Cabello na Assembleia Nacional.
Maduro conversa com Diosdado Cabello na Assembleia Nacional.EFE

A vitória absoluta do não na Grécia aguarda sua chegada à América Latina, onde as consequências assumem um aspecto mais político do que econômico. O mandatário venezuelano, Nicolás Maduro, foi o primeiro a comemorar o triunfo do não durante um ato parlamentar em comemoração ao aniversário da independência da Venezuela: “Que viva a Grécia e que viva Alexis Tsipras! Felicitações à Grécia, por meio do embaixador aqui presente”, disse Maduro. A presidenta argentina, Cristina Kirchner, também destacou o resultado: “Vitória absoluta da Democracia e da Dignidade. O povo grego disse NÃO às condições impossíveis e humilhantes que se pretende impor para a reestruturação de sua dívida externa”.

Em termos econômicos, será necessário esperar os resultados das novas negociações entre Atenas e seus credores —Comissão Europeia, Banco Central Europeu e Fundo Monetário Internacional—, que serão retomadas na próxima terça-feira, para que se conheça as consequências na região. Além da instabilidade nos mercados financeiros internacionais, se o não expressado este domingo pelos gregos acabar se traduzindo em uma possível saída do país da zona do euro, isso afetaria diretamente o crescimento da Europa e aí sim começaria a ter repercussões de maior gravidade.

Na medida em que, mais uma vez, a economia europeia seja afetada pela decisão dos gregos, quem mais poderia sofrer seriam os países mais dependentes de matérias-primas. Nesse sentido, Argentina, Chile e Brasil podem ser os mais afetados em caso de uma contenção da demanda europeia, o que se somaria às dificuldades econômicas que já se arrastam.

Argentina, Chile e o Brasil podem ser os mais afetados em caso de uma contenção na demanda europeia

Uma nova contração no Velho Continente teria também consequências para o euro. À espera da abertura das Bolsas na Europa para verificar como a decisão do povo grego afetou o humor dos investidores, em terras asiáticas a moeda europeia registrou os primeiros golpes. O beneficiado está sendo o dólar, que há alguns meses renasceu. Esta nova época de dólar forte causou, por sua vez, uma depreciação nas moedas regionais diante da divisa do gigante no norte da América. Mais fragilidade cambial não ajudaria em nada o Brasil, já que elevaria a pressão sobre sua já alta inflação.

No plano político, Maduro, que costuma se vangloriar da ruptura do sistema tradicional de partidos na Europa como se fosse mérito próprio, também chamou para si o triunfo de Tsipras e garantiu que considera uma vitória “dos povos valentes da América Latina”, mesmo que nenhum outro alto dirigente da região tenha saído neste domingo fazendo referências ao resultado do referendo.

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Maduro não foi o único dirigente bolivariano a comemorar a vitória do não. O presidente da Assembleia Nacional e número dois do chavismo, Diosdado Cabello, assegurou que o que ocorreu na Grécia “será a fagulha na pradaria”. No início do ano, Cabello comemorou o triunfo do Syriza e o auge do Podemos, na Espanha, algo que considerava mérito próprio. “Isso é o chavismo, que anda dando voltas pelo mundo inteiro”, disse na época. “Os povos do mundo começarão a falar com a voz da Grécia, da valentia, da dignidade de um presidente e de um povo”, acrescentou, depois de instar “os ditadores da moeda a irem buscar outro negócio para fazer dinheiro”.

O Governo venezuelano voltou a buscar no exterior uma alegria diante da grave situação econômica vivida por seu país. As consequências que a decisão tomada no domingo terão para os gregos, com certeza, não serão notadas em curto prazo em um país que viu cair em 7,727 bilhões de dólares suas reservas internacionais durante 2015. De fato, a Venezuela se viu obrigada a pedir uma linha de crédito ao Irã, que lhe emprestará 500 milhões de dólares. Esse valor se somará aos 5 bilhões que a China oferecerá à Venezuela nos próximos meses.

Se há um caso na região que foi relembrado esta semana, ainda que guarde muitas diferenças com a Grécia, foi o do corralito argentino, em 2001, que trouxe também consequências políticas, não só para o país sul-americano como para toda a região. Além disso, a prolongada recessão acabou deixando as pessoas fartas e causou um descrédito da classe política.

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