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“Chorei muito para tomar essa decisão”, diz eleitora grega

A votação na Grécia converte-se em um drama pessoal para muitos cidadãos

María Antonia Sánchez-Vallejo
Partidário do não faz o gesto da vitória, hoje em Atenas.
Partidário do não faz o gesto da vitória, hoje em Atenas.YANNIS BEHRAKIS (REUTERS)

O drama existencial que para muitos gregos representou a convocação do referendo se traduzia neste domingo no choro de Petrula Diamantopulu, professora aposentada e moradora de Kipseli, bairro de classe média de Atenas, o mesmo em que reside —e vota— o primeiro-ministro, Alexis Tsipras. A escolha de Diamantopulu não foi entre o sim e o não, e sim entre a cabeça e o coração. Eleitora habitual do Syriza, partido no qual garante que continuará votando nas próximas eleições, inclinou-se para o sim após uma discussão de tom quase épico consigo mesma, com sua ideologia e sua trajetória “e a favor de uma ilusão”.

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“Tomar esta decisão me fez chorar, e votei sim com tristeza, porque além de tudo acho que as duas opções são igualmente ruins para o país, mas, na minha opinião, o sim pode nos dar um pouco de alento para superar esta catástrofe”, contava no pátio da escola número 15 de Atenas. “Votei sim ainda que sabendo perfeitamente que as medidas propostas pelos credores são muito duras e que este país não tem resistência nenhuma, nem econômica nem de alma, para suportar mais cortes... Mas votar não seria bater diretamente a porta na nossa própria cara. Contra o que me pedia o corpo, votei dessa maneira apenas para que haja alguma chance de lidar com a situação. E nas eleições gerais continuarei votando no Syriza”, acrescentava, visivelmente abatida, engolindo o sapo de seu voto.

No mesmo local de votação, Nina, outra aposentada, de 80 joviais anos, expunha suas razões para votar da mesma forma. “Na família somos todos da Nova Democracia [partido defensor do sim na consulta] há gerações... Por isso não ia votar sim, com esta situação tão desastrosa, em que o Governo nem sequer sabe tomar decisões... Tsipras tomou um lado e deixou o problema para nós”.

Mas a razão verdadeira de seu voto era o medo do futuro e o porvir dos seus. “Também votei sim porque tenho filhos e netos, e isso tudo me preocupa, parece muito ruim”, admitia. De improviso entra na conversa Eli, outra pensionista, de 82 anos. “E nós outros, não temos filhos ou netos? Só os votantes do sim têm direito a se preocupar com o futuro?”

A resposta de Nina não demora a se transformar numa intensa, mas polida, troca de opiniões entre as duas mulheres, no que parece várias vezes um conceito que marcou a campanha e, com toda chance, o futuro imediato da Grécia: a divisão, o corte do país em duas partes, a polarização, em resumo. “Vivi a guerra civil, por isso não tenho nenhum medo de uma nova divisão do país”, sustentava Eli, que admitia abertamente ter votado não. “Porque não quero, para mim nem para os meus, outros cinco anos, no mínimo, de novas medidas de austeridade e cortes, desse remédio do qual já tomamos bastante.”

As duas mulheres se engajam num apaixonado, mas cortês, debate, que termina quando Nina brande o fantasma de guerra civil que durante a campanha contagiou até algumas manchetes sérias de imprensa e programas televisivos. “Com esses argumentos é melhor não perder tempo, não vamos nos entender”, diz discretamente Eli.

A divisão do país em duas metades era também a maior preocupação, “até mais que a situação econômica”, de Georgía, de 39 anos, longamente desempregada, que ao meio-dia deste domingo votava numa escola do bairro de Exarjia. “Não decidi ainda meu voto, para dizer a verdade”, explicava no pátio. “Vou fazer isso com o coração, não com a cabeça, na frente da urna.” As duas opções lhe pareciam iguais, “nenhuma tem nada bom, somente uma nova fase de dificuldades, mas estamos acostumados a isso... O que mais me preocupa é a divisão do país, foi a primeira sensação que tive quando Tsipras convocou o referendo. Felizmente o povo grego está dando uma lição de serenidade, não houve nenhum incidente, apenas calma e sensatez. Mas vamos ver o que acontece...”

Em outra escola, dois eleitores da faixa dos vinte e poucos anos, Dimitris (arquiteto que ganha 8.000 euros, cerca de 30.000 reais, por ano, como autônomo) e Petros (estudante universitário na Escócia), que se confessam “ferrenhos partidários do euro e da Europa", revelavam seu voto, negativo. “Acreditamos na democracia, e a atitude dos parceiros não é, em absoluto, democrática. Acreditamos no valor do diálogo e da negociação, que sempre são algo positivo, e estamos seguros de que a partir de hoje se retomará o processo de forma mais decisiva e, pela primeira vez, em pé de igualdade”, dizia Dimitris. “Se o não ganhar, claro”, completava Petros.

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