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O celular usado para construir a paz e a memória no País Basco

Governo convida cidadãos a enviarem vídeos com e depoimentos sobre história da região

Foto: AGENCIA_DESCONOCIDA | Vídeo: REUTERS-LIVE!
Pedro Gorospe

O relato dos afetados, das vítimas do ETA, é imprescindível e crucial, mas não basta. A construção do quebra-cabeça da memória basca é montado também com base nas histórias de milhares de pessoas que, talvez sem terem sofrido diretamente a violência terrorista, têm algo a dizer depois de passarem toda uma vida com medo de falar, de dar sua opinião, além de terem amigos ou conhecidos que sofreram ameaças ou que ameaçaram os seus semelhantes por pensarem de uma forma diferente, vestir a farda dos Corpos e Forças de Segurança do Estado, inclusive a Ertzaintza (polícia regional basca), e ser juiz, jornalista ou funcionário das prisões, entre vários outros grupos.

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Há alguns anos, os depoimentos de vítimas do ETA, dos GAL e inclusive de grupos de extrema direita já estavam presentes nas escolas bascas. Desde 2012 passaram a ser incorporados também os testemunhos de vítimas de abusos policiais, e agora é a vez dos demais cidadãos. O secretário de Paz e Convivência do Governo basco, Jonan Fernández, convidou todos os cidadãos dessa região do norte da Espanha a participarem da produção de vídeos e relatos com suas próprias experiências e lembranças, de modo a tornarem mais completa a “necessária” memória do que ocorreu no País Basco nos últimos cinquenta anos. “Só há uma limitação”, disse Fernández, “que nesse diálogo entre pessoas ninguém use os depoimentos para excluir ou para impor uma memória que legitime a violência ou a exclusão de qualquer pessoa”.

Nesse sentido, o celular se torna o melhor aliado dos cidadãos bascos, pois será o veículo para a sua participação. Eles poderão gravar vídeos de sete segundos com seu rosto imóvel, para demonstrar que “a expressão da sua face, cada ruga, também é o relato da sua própria memória”, segundo Luis Petrikorena, diretor do Governo Aberto basco. Outra forma de participação são os depoimentos de até dois minutos gravados com o telefone. “Não importa a idade, e pedimos aos jovens que ajudem os mais velhos a gravá-los, depoimentos relacionados à paz e à convivência, nos quais descrevam lembranças da sua casa, das suas aldeias e dos seus trabalhos, e que tenham significado alguma coisa nas suas vidas”, disse Petrikorena. A terceira possibilidade dos cidadãos é enviarem propostas em mil caracteres, como sugestões em questões de memória, convivência e direitos humanos. O material pode ser enviado por e-mail ou pelo site www.memoriaplaza.eus.

“Trata-se de construir uma memória participada e participativa", disse Fernández. A oferta de participação dos cidadãos ocorre apenas duas semanas depois de o lehendakari (governador regional basco) Iñigo Urkullu pedir perdão às vítimas do terrorismo durante um ato em San Sebastián, e apenas cinco dias depois de ter tido início a segunda fase do programa Gertu de atendimento a vítimas do terrorismo, com a gravação de depoimentos diretos. O Gertu é parte do Plano de Paz e Convivência, que busca “escutar e responder melhor” à realidade das vítimas e oferecer vias de participação para a construção da memória. Depois de uma primeira fase de diálogo direto com familiares das vítimas, abre-se agora um processo de gravação de depoimentos que poderão ser expostos no Instituto da Memória, Convivência e Direitos Humanos, com fins pedagógicos e de divulgação.

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