Menos publicidade nas ruas, menos fervor e menos expectativas: a torcida uruguaia chegou a essa Copa América consciente do vazio deixado por Luis Suárez (ainda suspenso pela famosa mordida da Copa do Brasil) e da aposentadoria de Diego Forlán, peça fundamental de uma seleção campeã da última edição e que agora tenta reinventar-se.
“É preciso esquecer Suárez”, disse o capitão Diego Godín antes do início da Copa América: os uruguaios chegaram ao Chile com essa precaução e por conta disso a derrota por 1-0 contra os eternos rivais argentinos na terça-feira não teve um sabor tão amargo. Tranquilos após o trágico final da Copa passada, quando a dura pena da FIFA a Suárez foi vista como uma injustiça, a torcida confia no processo de transição iniciado pelo treinador Washington Tabárez.
E na terça-feira, em La Serena, muitos ficaram conformados com a evolução de uma Celeste ainda em teste e isso foi expressado tanto pelos comentaristas esportivos como pelos torcedores no Twitter: “É uma equipe em transição, mas não perdeu sua cara e manteve a identidade. É importante para o futuro”; “Não tivemos sorte, mas mostramos muita garra. Cavani precisa de uma transfusão de sangue de Suárez!”, eram algumas das mensagens na rede social logo após a derrota.
O veterano Washington Tabárez iniciou um profundo processo de transição da Celeste com dois objetivos: por um lado, manter-se na elite sem Suárez e por outro, incorporar novos jogadores para voltar a recriar o espírito de equipe que tornou possível a chegada às quartas-de-final da Copa do Mundo da África do Sul.
As estatísticas voltaram a mostrar que o Uruguai dá trabalho aos poderosos quase sem tocar na bola
Os torcedores se reconheceram nessa nova Celeste que compete no Chile pensando nas eliminatórias da próxima Copa, quando a nova receita de Tabárez tiver fermentado e Luis Suárez estiver de volta à seleção. A “identidade” que tanto buscam consiste em continuar jogando o futebol duro de sempre, em manter a famosa “garra” que os leva a lutar até o último minuto, defendendo com unhas e dentes e confiando nas oportunidades, sempre no contra-ataque.
A identidade consiste também em dar risada das estatísticas de posse de bola, como fez Tabárez nos comentários sobre a partida: “Se fosse pela posse de bola, a Argentina teria vencido cinco vezes”, afirmou no Chile. As estatísticas voltaram a mostrar que o Uruguai dá trabalho aos poderosos quase sem tocar na bola: 69% da posse de bola para a Argentina, 31% para o Uruguai.
Os uruguaios lidaram bem com a derrota porque a partida de terça em La Serena teve os ingredientes que o clássico do Rio da Prata deve ter, a Celeste manteve sua hierarquia latino-americana e todo um país – rodeado de dois gigantes como a Argentina e o Brasil – pôde refugiar-se em uma arte aprendida a duros golpes durante décadas: o orgulho de saber perder.
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