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Direita mexicana inicia corrida para a eleição presidencial de 2018

Margarita Zavala, esposa de Felipe Calderón, apresenta-se como pré-candidata pelo PAN

Jan Martínez Ahrens
Felipe Calderón junto da sua esposa, Margarita Zavala, em 2012.
Felipe Calderón junto da sua esposa, Margarita Zavala, em 2012.STRINGER/MEXICO (REUTERS)

A batalha na direita mexicana começou. Estimulada pelos péssimos resultados do Partido Ação Nacional (PAN) na última eleição, Margarita Zavala, esposa do ex-presidente Felipe Calderón (2006-2012), surpreendeu aliados e rivais ao anunciar sua intenção de disputar a presidência do México. A inesperada decisão marca o início de uma luta interna que deve ser longa e dolorosa para a segunda maior força política mexicana, mas que também mostra como, superadas as eleições do meio de mandato, o país entrou em um novo ciclo – o da disputa pela presidência.

A postulação da Zavala, de 47 anos, é um efeito direto da crise que corrói o PAN. Ela não é deputada nem tem um poder orgânico dentro da formação. Suas aspirações foram dinamitadas até agora pelo presidente do partido, Gustavo Madero, um político moderado, que há um ano derrotou com 57% dos votos o setor calderonista nas eleições primárias. Uma vez instalado no poder partidário, Madero promoveu um expurgo implacável, o que incluiu humilhar publicamente Zavala e deixá-la fora das listas eleitorais. Ao mesmo tempo, o dirigente – acusado por críticos de fazer concessões demais ao rival PRI – adotou como meta principal uma melhora dos resultados eleitorais do seu partido.

Depois de chegar à presidência com Vicente Fox, que teve 42,5% dos votos em 2000, o PAN passou a enfrentar um longo declínio. Com Calderón, caiu para 35,8% dos votos, e na eleição presidencial de 2012 sua candidata Josefina Vázquez obteve apenas 25%. Madero vem dedicando suas forças a interromper essa tendência negativa. Mas as eleições legislativas de 7 de junho jogaram seu esforço por terra. O PAN, embora sem perder muitos deputados, obteve apenas 21% dos votos. Nada havia freado a queda.

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O tropeço eleitoral deixou o PAN em polvorosa. E Margarita Zavala aproveitou a brecha para atacar. Mas, para surpresa de seus correligionários, não mirou na presidência do partido, e sim no comando da nação. A aposta máxima. O anúncio foi feito num vídeo sóbrio, de produção apressada, com constantes e estranhos primeiros planos da sua boca e das suas mãos. Em seu discurso de dois minutos ela busca atrair forças além do círculo partidário. Depois de eleições que demonstraram o forte crescimento das candidaturas independentes, com terremotos políticos como a vitória de El Bronco em Nuevo León, Zavala propõe “construir um projeto nacional que congregue os panistas, mas também os que têm votado em outras opções e os que deixaram de acreditar nos partidos”. Essa ampliação da base eleitoral não será fácil.

De personalidade tranquila e benquista por seus adversários, Zavala já estava presente na arena política antes de se casar com Calderón. Nos últimos meses cultivou com esmero essa personalidade própria. Evitou em suas intervenções qualquer referência ao passado e esculpiu para si uma figura açucarada, com constantes aparições em revistas. Mas poucos duvidam de que, por maior que seja a distância atual, terá de pagar a fatura por sua união com o presidente que desatou a infernal guerra contra o crime organizado. O México ainda vive a perplexidade das 80.000 mortes e 23.000 desaparecimentos que o mandato de Calderón deixou. E essa carga a perseguirá em qualquer luta.

Mas não é só o passado que Zavala terá de enfrentar. Seu inimigo já deu o primeiro movimento para lhe barrar o caminho. Madero deverá abandonar a presidência do PAN, transferindo o cargo a um aliado mais jovem, o líder da bancada panista, Ricardo Anaya. A saída o pouparia de críticas, mas sem deixar de comandar as rédeas partidárias por intermédio do seu delfim. Anaya, seguindo essa linha, já pediu a antecipação da eleição interna para a presidência do PAN. Se com essa jogada Madero conseguir manter o aparato partidário sob seu controle, as chances de Zavala, segundo os especialistas, ficarão seriamente reduzidas.

Mas, qualquer que seja o resultado final da batalha, a pré-candidatura de Zavala mostra que o universo político mexicano entrou em um novo ciclo. Passadas as eleições legislativas de 2015, onde se media basicamente a presença local e estadual de cada força política, todos os grandes partidos voltam seus olhares para a eleição presidencial de 2018. Na esquerda já há um aspirante declarado: o carismático e incansável Andrés Manuel López Obrador. Duas vezes candidato presidencial pelo PRD, ele agora dispõe de sua própria sigla, o Morena. Mas sua base é exígua. A estreia eleitoral dessa formação, apesar de expressiva em áreas importantes, como a Cidade do México, não lhe permitiu passar dos 8% dos votos, além de ter causado uma fratura na esquerda.

No PRI, as manobras eleitorais ainda são incipientes. Os diferentes caciques, temerosos de caírem fulminados, mal começaram a mover suas peças. A grande interrogação, diante dos poliédricos equilíbrios de poder no país, vai demorar até ser resolvida, e certamente a decisão caberá a Peña Nieto antes do final do seu mandato. A batalha está só começando.

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