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Obama reforça sua presença contra o Estado Islâmico no Iraque

EUA planejam enviar outros 450 instrutores para formar o Exército e abrir uma nova base

Marc Bassets
Soldado iraquiano em uma operação militar nas proximidades de Ramadi, em 1 de junho.
Soldado iraquiano em uma operação militar nas proximidades de Ramadi, em 1 de junho.ALAA AL-SHEMAREE (EFE)

Os avanços do Estado Islâmico no Iraque obrigaram os Estados Unidos a reajustar sua estratégia. O presidente Barack Obama anunciou na quarta-feira o envio de mais 450 instrutores militares, que se somarão aos 3.100 já destacados. Os novos militares vão assessorar e treinar membros das forças de segurança iraquianas em uma base próximo a Ramadi, a capital de província que no mês passado caiu ante os jihadistas sunitas. Obama não prevê que os norte-americanos entrem em combate. O presidente confia o desenlace desta guerra à capacidade do Governo de Bagdá para derrotar os jihadistas em aliança com as tribos sunitas e os curdos.

Além dos militares, o Pentágono enviará material e equipamento para melhorar as capacidades contra o Estado Islâmico das forças de segurança do Governo do Iraque, das milícias peshmerga curdas e dos combatentes tribais sunitas.

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As medidas não supõem uma mudança substancial na política de Obama. O presidente renuncia a uma intervenção terrestre ao estilo da invasão de 2003. Os EUA se limitam a intervir com bombardeios aéreos —no Iraque e na vizinha Síria— e com militares no terreno dedicados a “treinar, aconselhar e ajudar” as forças iraquianas, segundo comunicado da Casa Branca.

Nada disto mudará. Mas as vitórias do EI no Iraque e na Síria, e a constatação de que a atual política é incapaz de frear aos jihadistas, levaram a Obama a impor os reajustes. A decisão chega após semanas de debates internos na Casa Branca e o Pentágono, e, segundo a Casa Branca, a petição do primeiro-ministro iraquiano, Haider ao Abadi. Obama e Ao Abadi se reuniram na segunda-feira em Elmau (Alemanha), em meio à cúpula do G-7.

O método é o mesmo —militares norte-americanos para assessorar as forças iraquianas— mas as prioridades mudam. Se há até algumas semanas o Pentágono se fixava no objetivo de retomar Mosul, outra capital de província ocupada pelo Estado Islâmico, agora o adiou para se centrar em Ramadi, a capital da província da o Anbar, perto de Bagdá.

Os 450 novos militares norte-americanos se instalarão na base militar iraquiana de Taqaddum, no leste da província de Anbar. Os três mil assessores que, no último ano, chegaram ao Iraque, se encontram em outras quatro bases, onde treinaram 9.000 soldados iraquianos e estão instruindo outros 3.000.

Os EUA confiam que, com uma melhor preparação e melhor equipamento, as forças iraquianas possam se equivaler em condições aos jihadistas. A queda de Ramadi surpreendeu a Administração Obama e pôs em questão suas mensagens otimistas. O secretário norte-americano de Defesa, Ashton Carter, atribuiu a derrota à escassa vontade de luta dos iraquianos.

O problema, para Washington, é que sua estratégia contra o EI depende da colaboração das forças do Governo iraquiano, dominado pelos xiitas. O EI é sunita. Para a Administração Obama, é chave conseguir a colaboração das forças iraquianas e das tribos sunitas.

Outro fator que complica o tabuleiro é o intervencionismo do Irã xiita. O Irã combate no mesmo grupo que os EUA frente aos jihadistas sunitas. Mas Washington teme que a presença de Teerã aumente as divisões religiosas entre sunitas e xiitas, e desconfia da influência iraniana no Governo de Bagdá.

O papel dos assessores norte-americanos é limitado. Sua missão não inclui avistar objetivos sobre o terreno para os aviões de EUA, como pediam alguns congressistas em Washington. Também não podem entrar em combate.

Sem estratégia

Os críticos do democrata Obama, sobretudo no Partido Republicano, lamentam que o presidente careça de uma estratégia não só no Iraque mas em todo Oriente Médio e no mundo árabe. Reclamam que, ao ordenar a retirada total do Iraque em 2011, depois de oito anos de ocupação e guerra, deixou caminho livre aos jihadistas.

Na Líbia, na Síria e no Iêmen, os EUA sofreram contratempos nos últimos anos. Obama subestimou o EI quando este irrompeu e superestimou a capacidade das forças armadas iraquianas para o derrotar. Em um ano após sua irrupção, Washington não acabou de formular uma estratégia.

Obama optou pelo caminho intermediário: nem deixar de todo o Iraque nem exibir tropas de combate. O envio de mais assessores é um passo modesto que não resolve a equação e segue deixando nas mãos dos iraquianos a derrota do EI.

A decisão desta quarta-feira é modesta, mas marca um passo a mais no envolvimento dos EUA no Iraque, no regresso a uma guerra que Obama prometeu terminar. A Casa Branca faz questão de que os 3.550 militares no Iraque não estejam ali para lutar, mas pondera que se moverão próximo de zonas de combate.

Os militares são assessores (advisers, em inglês), segundo a terminologia do Pentágono. É uma palavra com ecos históricos inquietantes. A guerra do Vietnã começou com umas centenas de advisers norte-americanas nos anos cinquenta, com o presidente Dwight Eisenhower. Com John Kennedy, que chegou à Casa Branca em 1961, subiram a 16.000. Cinco anos mais tarde eram meio milhão.

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