Equador contra Brad Pitt
O Governo tenta impedir o ator de produzir um filme sobre o chamado 'caso Chevron'
O Governo do Equador está pedindo ao ator e produtor Brad Pitt que faça “o que é correto” e não crie um filme baseado no livro The Law of the Jungle (A lei da selva), do jornalista Paul Barrett, cujos direitos ele adquiriu. No livro é relatada a suposta fraude que estaria por trás da batalha judicial perdida pela empresa petrolífera norte-americana Texaco (hoje Chevron) para as comunidades da Amazônia equatoriana prejudicadas por derrames sistemáticos de petróleo entre 1964 e 1992. A campanha lançada pelo Equador pretende evitar que Brad Pitt produza o filme. Uma carta aberta foi dirigida ao ator com o hashtag #BradDoTheRightThing, na qual se lê: “Convidamos você a fazer o que é certo. Convidamos você a conservar os direitos sobre este livro —uma ficção que tem o potencial de causar muitos prejuízos devido às mentiras e à desinformação que propaga. Convidamos você a não fazer nada com esses direitos”.
O receio do Governo equatoriano é que o filme reproduza a versão de Barrett, a quem acusa de ter sido pago pela empresa petrolífera, e que isso prejudique o país e os afetados pela contaminação ambiental que ainda lutam para cobrar da Chevron nos países onde essa empresa possui ativos, como Canadá, Argentina e Brasil. Em seu livro, Barrett se concentra sobre a sentença ditada por um juiz de Nova York, em março de 2014, contra Steven Donziger e a equipe de advogados que durante duas décadas defendeu os equatorianos afetados pelas práticas da empresa. Essa sentença considera que os tribunais do Equador se basearam em provas fraudulentas para condenar a Chevron a pagar 9,5 bilhões de dólares (29 bilhões de reais) às comunidades afetadas.
Nesse processo, que a Chevron iniciou, foram reveladas manobras corruptas de todo tipo que o advogado Donzinger teria executado e que ficaram registradas nas horas de gravação de um documentário. Vieram à tona frases como “nunca teríamos conseguido isto do juiz se não o tivéssemos pressionado” e “os juízes equatorianos tomam decisões com base em de quem têm mais medo, não do que dizem as leis”. Barrett conta também que Donziger vendeu direitos sobre o processo, prejudicando os interesses dos afetados. Uma das análises citadas pelo autor diz que, por exemplo, se as partes chegassem a um acordo por 100 milhões de dólares (304 milhões de reais), apenas 1,5% desse valor acabaria chegando como reparação aos habitantes da zona afetada. O restante seria dividido entre investidores, custas judiciais (incluindo os honorários de Donziger) e administrativos.
O jornalista norte-americano explicou a este jornal: “O livro trata de uma irresponsabilidade corporativa, tanto da Texaco quanto da Petroecuador, que contribuíram para a contaminação. Em outro nível, relata a história de uma campanha legal para salvar a selva tropical. Os advogados solaparam o Estado de Direito em nome da reivindicação das vítimas da contaminação.”
O presidente Correa disse coisas inverídicas sobre meu livro. É terrível que o presidente de um país dê declarações falsas sobre um autor e sua obra O jornalista Paul Barret
Sobre a campanha do Governo de Rafael Correa para evitar que seu livro chegue a Hollywood, Barrett comenta: “O presidente Correia disse coisas inverídicas sobre meu livro. Disse que a Chevron me pagou para escrever o livro. É mentira. Disse que o livro descreve os equatorianos como selvagens. É mentira. É terrível que o presidente de um país dê declarações falsas sobre um autor e sua obra. Ele não poderá intimidar a quem possa usar meu livro como base para um filme.”
Brad Pitt percorreu a zona afetada em 2012. Seu guia foi Pablo Fajardo, a contraparte equatoriana da equipe de Donziger. Fajardo conta que o levou às piscinas de óleo cru que a Texaco deixou abertas e que o ator demonstrou interesse em apoiar as iniciativas de saneamento na região.
O caso Chevron converteu-se numa bandeira de luta do Governo de Correa a partir de 2013. O presidente lançou a campanha A Mão Suja da Chevron, e ele próprio viajou até um dos poços abertos pela Texaco e pôs a mão em uma piscina de petróleo. Depois chegaram celebridades, como Danny Glover e Mia Farrow, que imitaram seu gesto e evidenciaram os danos ambientais.
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