Copiloto Andreas Lubitz já havia sido tratado por risco de suicídio
Não foram detectadas tendência suicida ou agressividade após ele obter licença de voo
Andreas Lubitz, o copiloto da companhia aérea Germanwings sob suspeita de ter derrubado na semana passada um A320 nos Alpes franceses e acabado com a vida de 149 pessoas, havia recebido tratamento por “tendências suicidas”, segundo revelado nesta segunda-feira pela Promotoria de Düsseldorf. “Vários anos antes de obter sua licença, o copiloto havia se submetido a um tratamento psiquiátrico durante um longo período de tempo com evidentes tendências suicidas”, afirmou a Promotoria.
As tendências suicidas mencionadas pela Promotoria são antigas. Desde que obteve sua licença de voo, os médicos que o avaliaram e receitaram atestados médicos não detectaram “nem tendências suicidas, nem agressividade contra terceiros”, afirmou em Düsseldorf Christoph Kumpa, porta-voz da Promotoria. Esse dado é importante porque reforça o debate surgido nos últimos dias na Alemanha, sobre a responsabilidade dos médicos e sua obrigação de manter silêncio quando um paciente possa representar um perigo à sociedade. Segundo a explicação do promotor, não quer dizer que o psiquiatra que tratou Lubitz — e que lhe deu um atestado médico por não considerar que o piloto estava em condições de voar no dia do acidente — não tivesse feito nada ao observar as tendências suicidas de seu paciente, mas que não as detectou.
A Promotoria assegura ainda que não encontrou nenhuma prova de que Lubitz sofresse de uma doença física. Tampouco encontraram documentos nos quais o piloto teria anunciado suas intenções ou uma carta de despedida. As investigações conduzidas no círculo familiar e pessoal do piloto e, no ambiente de trabalho, também não mostraram “indícios consistentes que ajudem a explicar os possíveis motivos” de seus atos.
Enquanto em Düsseldorf se esperava com grande atenção as novas informações da Promotoria, os detalhes sobre o estado de saúde de Lubitz — e que era de conhecimento da Lufthansa e do Escritório Federal de Aviação da Alemanha — continuam sendo revelados. O copiloto renovou no ano passado sua autorização médica para voar, segundo confirmaram fontes da companhia ao EL PAÍS. A Lufthansa insiste que nunca teve conhecimento dos problemas de saúde de Lubitz, e inclusive afirma agora que os documentos que tinha em mãos — a licença e sua idoneidade para voar — não continham a sigla SIC, indicando que o empregado em questão deve se submeter a um exame médico especial regularmente. Essa informação contradiz as afirmações de autoridades alemãs do setor de aviação durante o fim de semana.
A investigação sobre as circunstâncias da tragédia aérea nos Alpes franceses levou a polícia da cidade alemã de Düsseldorf a colocar em andamento uma das maiores operações das últimas décadas. Segundo informações publicadas nesta segunda-feira pelo jornal Rheinische Post, a comissão especial, batizada de Alpes, é formada por mais de 100 agentes encarregados de levantar dados sobre Lubitz, assim como coletar amostras que permitam identificar as mais de 70 vítimas alemãs da catástrofe.