Amazon Web Services decola sozinha
Divisão de computação em ‘nuvem’ se torna um dos negócios fundamentais da gigante
Existem negócios que aparecem de maneira inesperada, como consequência de outros negócios. A Amazon, gigante das vendas online, costumava adquirir uma enorme quantidade de computadores para poder enfrentar a alta na demanda na época do Natal. Não demorou muito para a empresa perceber que essa grande capacidade de processamento de dados não era aproveitada durante o resto do ano. Em 2006, decidiu comercializá-la. E o que até agora era um conceito praticamente desconhecido fora do mundo da informática – os produtos e serviços em nuvem – se tornou uma realidade vendável e, depois, em um boom global.
Quase 10 anos depois, a Amazon Web Services (AWS) é hoje uma das maiores áreas de negócios da empresa, junto com a comercialização de conteúdos e serviços multimídia e as vendas pela Internet. Tanto que o grupo presidido por Jeff Bezos, famoso por sua parcimônia em questões de informações financeiras, decidiu discriminar o resultado de sua divisão de serviços pela Internet a partir do informe anual que será divulgado neste mês de abril.
Até lá, silêncio. “Essa informação nós não compartilhamos”, afirma o espanhol Antonio Alonso, de 42 anos, responsável pelos negócios da AWS para praticamente toda a Europa, quando perguntado sobre o volume de negócios e de lucros da empresa. E limita-se a dizer: “Somos um negócio e somos rentáveis”. Os números exatos são um dos segredos mais bem guardados do setor. Em 2013, o fundo Macquarie Capital estimou que o faturamento da divisão seria em torno de 7 bilhões de dólares (22,6 bilhões de reais) para 2014.
Alonso adverte que os investidores não vão encontrar grandes lucros na AWS. “Temos uma filosofia de manter margens baixas, ao contrário de alguns de nossos concorrentes”, comenta. “É uma herança do varejo, com o qual começamos. Não buscamos grandes margens. Isso nos permite investir em crescimento, e com essas economias de escala podemos reduzir os preços ao consumidor, o que fizemos 48 vezes”. Por outro lado, os dados sobre a expansão da empresa são espetaculares. “No último trimestre registramos um crescimento ao ano de 90%”, aponta.
Até agora, os números exatos da empresa são um dos segredos mais bem guardados do setor
O suculento mercado da nuvem – cujo valor beira os 155 bilhões de dólares (mais de 500 bilhões de reais), segundo a consultoria Gartner – se baseia na necessidade das empresas de reagir cada vez mais rapidamente aos problemas e às variações do mercado. “Um grande grupo banqueiro ou uma grande rede de distribuição precisam se concentrar na parte fundamental de seus negócios”, explica Alonso. “A gestão de tecnologias da informação e a gestão dos centros de dados não interessam a essas empresas. Os clientes estão adotando nossos serviços porque oferecemos exatamente isso: gerenciar as operações para que eles possam se concentrar e desenvolver seus negócios”.
Depois de a Amazon enveredar pela nuvem, outras gigantes do setor, como o Google e a Microsoft, também fizeram o mesmo, assim como dezenas de pequenas empresas. Contra a concorrência, a AWS exibe seu tamanho de sua musculatura: um milhão de clientes em 190 países, através de 28 centros de processamento de dados distribuídos em 11 regiões geográficas, entre elas a América Latina (com base no Brasil).
“Não posso divulgar dados sobre servidores e capacidade de processamento”, explica Alonso. “Mas, para se ter uma ideia, a cada dia implementamos uma capacidade equivalente à que tínhamos há 10 anos, quando éramos um negócio de 7 bilhões de dólares”. E cita outro estudo da mesma Gartner: “Temos cinco vezes mais capacidade do que nossos 14 maiores concorrentes juntos”.
Mas, além de seu tamanho, a AWS conta com outros fatores. “O primeiro ponto é o do pagamento por uso”, afirma Alonso. “O cliente paga exatamente por aquilo que ele usa e pode decidir o que necessita usar e nem um dólar a mais, e isso dá a ele a vantagem da flexibilidade”. E cita um exemplo: “O [banco espanhol] Bankinter utiliza a AWS para o cálculo de riscos. Essa operação requer uma grande capacidade de processamento [em torno de 5 milhões de simulações, estima a empresa] e isso requer uma infraestrutura enorme que, na maior parte do tempo, não é utilizada. Desde que eles começaram a trabalhar conosco, eles fazem esses cálculos em 20 minutos, quando antes levavam 23 horas. E custa para eles cerca de 100 vezes menos do que antes”.
A AWS acredita que a crise levou as empresas a tentar economizar e isso beneficiou seu negócio
Além disso, insiste Alonso, a ênfase da empresa de Seattle em melhorar o produto em vez de aumentar os lucros lhe permitiu oferecer um leque maior de possibilidades que o de suas concorrentes. “Em 2011, incorporamos 80 novos produtos e funcionalidades à nossa plataforma”, conta. “Em 2012, foi o dobro: 160. Em 2013, 280; e em 2014, 516”.
Apesar de a Amazon também não discriminar o volume de seus negócios na Europa, Alonso acredita que a crise econômica não impediu o crescimento de sua empresa no continente. Pelo contrário: “Creio que oferecemos vantagens interessantes em tempos de crise”, argumenta. “Afinal, nos momentos de crise é preciso buscar soluções que sejam mais inovadoras e eficientes, que permitam reduzir custos e, ao mesmo tempo, inovar. Não diria em nenhum momento que a situação atual tenha sido uma dificuldade, mas sim uma oportunidade”.
A competição com as grandes empresas não desvia a AWS de seu consumidor com maior potencial: as start-ups. “Uma das dificuldades na hora de começar uma start-up é dimensionar as necessidades de capacidade informática, porque não se sabe como o mercado vai responder”, explica Alonso. “Nós oferecemos essa possibilidade, porque nosso modelo é de nos expandirmos com o negócio. A espanhola Social Point, que começou como uma start-up e agora tem 50 milhões de jogadores por mês no Facebook, foram nossos clientes desde a fase de criação e lançamento do primeiro game, e foram adaptando sua infraestrutura conforme necessitavam em cada momento”.
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