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Os moradores de Buenos Aires denunciam os motoristas infratores por um aplicativo

Francisco Peregil
Imagem do aplicativo Vial.
Imagem do aplicativo Vial.

Flagrar o infrator e fazer com que ele pague pela infração. Há quatro meses, a prefeitura de Buenos Aires colocou em funcionamento um aplicativo de telefone celular que permite que o cidadão comum denuncie os motoristas que estacionam em lugares reservados a pedestres, ciclistas ou portadores de deficiência. Só é preciso tirar uma foto do automóvel, escrever o endereço da infração e o número da placa do automóvel e enviar os dados à prefeitura por meio do aplicativo BA Denuncia Vial.

A prefeitura já incentivou os cidadãos a fichar os infratores em 2011 por meio de um endereço de correio eletrônico. E naquela época a medida levantou polêmica porque houve quem reclamasse que estava havendo um incentivo para tornar o cidadão um buchón, ou seja, um dedo-duro. Mas, de três meses para cá, quando a prefeitura divulgou o aplicativo para celulares, o número de denúncias não para de crescer. No início havia quatro agentes tramitando as denúncias e agora serão mais dois. “O aplicativo nos serve, principalmente, para cobrir as regiões onde não temos guinchos”, explica um porta-voz da secretaria de Transportes.

Em menos de três meses os cidadãos enviaram 7.000 denúncias pelo celular. E quase a metade delas se converteu em multas. Mas também existe receio em uma parte da sociedade. No começo de março um jornalista perguntou na rádio ao subsecretário de Transporte, Guillermo Dietrich, se a prefeitura não deveria dizer algo do tipo ao cidadão: “Agradecemos que faça por nós o que nós não podemos fazer como Estado.”

Guillermo Dietrich explicou ao EL PAÍS que, precisamente, a intenção final do aplicativo é que seus usuários tomem consciência de que a rua é deles e se comprometam a cuidar dela. “Esse processo começou em 2011, com um endereço de correio eletrônico. Depois disso, fizemos 148 quilômetros de ciclovias e um dos principais grupos comprometidos com isso é o dos ciclistas”.

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A cidade de Buenos Aires é governada pelo PRO, partido de centro-direita liderado por Mauricio Macri. Mas a equipe de Transporte se inspirou em políticos como o colombiano Antanas Mockus, membro do Partido Verde até 2011 e prefeito de Bogotá entre 2001 e 2003. “Observamos o processo de cultura cidadã de Bogotá e Medellín”, reconhece Dietrich. “Para as coisas funcionarem bem também é preciso o compromisso cidadão. E na Colômbia foram feitas ótimas campanhas de respeito aos espaços dos pedestres e ao cuidado com a água. Lá já se fala de cultura cidadã, coisa que na Argentina não acontece”.

Dietrich lamenta que a famosa picardia portenha ainda jogue contra o espírito cívico. “Ninguém chamaria de buchón quem se vê agredido por outra pessoa e recorre à polícia. Entretanto, quando alguém estaciona em local proibido não interpretamos que há uma agressão contra todos. Então, nossa mentalidade nos leva a pensar: se o Estado te vê, que te multe, mas eu não sou nenhum buchón. Porém, na realidade, quem estaciona em local proibido agride todos os cidadãos”.

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