Tesoureiro do PT é denunciado por corrupção no escândalo da Petrobras

Ministério Público pede abertura de investigação criminal sobre João Vaccari Neto O ex-diretor da estatal Renato Duque foi detido em sua casa no Rio, em ação relacionada

Gil Alessi
São Paulo - 16 mar 2015 - 16:32
Renato Duque ao ser preso no Rio em 2014.
Renato Duque ao ser preso no Rio em 2014.Márcia Foletto (Ag. O Globo)

A 10ª fase da operação Lava Jato, desencadeada nesta segunda-feira (16) pela Polícia Federal, não trouxe boas notícias para o PT. Pela segunda vez em menos de cinco meses o ex-diretor de Serviços da Petrobras Renato Duque, acusado de ser o operador do partido no esquema de corrupção da estatal, foi preso pela PF. Ele e o tesoureiro do partido João Vaccari Neto foram denunciados nesta tarde pelo Ministério Público Federal por envolvimento no caso. No total, a procuradoria denunciou mais 21 pessoas.

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Segundo o procurador de Justiça Deltan Dallagnol, Vaccari arrecadou 200 milhões de dólares para o PT fruto de pagamento de propina. A quantia foi posteriormente repassada à legenda na forma de doações oficiais, o que constituiria lavagem de dinheiro. Segundo o promotor, o MPF tem provas de que o tesoureiro "tinha consciência de que os pagamentos eram feitos a títulos de propinas". Além disso, o ele foi citado em quatro depoimentos de delatores da Lava Jato: Pedro Barusco (ex-gerente da Petrobras), Paulo Roberto Costa (ex-diretor da estatal), Augusto Mendonça e o doleiro Alberto Youssef.

Barusco havia indicado a existência do esquema de lavagem durante a CPI da Petrobras, na semana passada. De acordo com ele, Duque solicitou à empresa holandesa SBM um “patrocínio de campanha” de 300.000 dólares que serviria de “reforço” para ajudar a eleger Rousseff: “foi ao PT [a doação], pelo João Vaccari Neto [tesoureiro do PT]”. O ex-diretor e o tesoureiro sempre negaram a participação em qualquer esquema ilegal envolvendo a estatal.

Duque foi detido em sua casa na Barra da Tijuca, Rio de Janeiro, na manhã desta segunda-feira (16), e não ofereceu resistência. Segundo a PF, a prisão temporária foi pedida pelo juiz Sérgio Moro durante a 10ª fase da Lava Jato. O magistrado justificou a medida alegando que Duque ainda estaria movimentando dinheiro não declarado à Receita Federal depositado em contas no exterior no segundo semestre de 2014, mesmo depois das investigações sobre a corrupção na Petrobras terem sido iniciadas: ele teria transferido 20 milhões de euros (cerca de R$ 68 milhões) de contas na Suíça para outras em bancos localizados no principado de Mônaco,

A quantia foi bloqueada pelas autoridades do principado. Em entrevista ao jornal Folha de S. Paulo, o advogado de Duque, Alexandre Lopes, negou que ele tenha movimentado a quantia.

Além do ex-diretor, que é acusado pela procuradoria de ser o principal operador do PT no esquema de corrupção envolvendo a estatal, a décima etapa da Lava Jato também prendeu o empresário Adir Assad e Lucélio Roberto von Lehsten Góes, filho de Mario Góes. Este último está preso em Curitiba e é investigado por seu papel como suposto operador do esquema de corrupção. No total, a PF cumpre 18 mandados, sendo dois de prisão preventiva, quatro de prisão temporária e 12 de busca e apreensão.

O ex-diretor Paulo Roberto Costa, que assinou um acordo de delação premiada, disse em depoimentos à PF que Duque repassava 3% dos contratos que assinava para o partido. O nome de Duque também aparece nos depoimentos de Pedro Barusco, que era subordinado ao ex-diretor preso, e do doleiro Alberto Yousseff.

Afastado da Petrobras em 2012 pela presidenta Dilma Rousseff (PT), Duque ocupou a diretoria de serviços de 2003 até o ano de seu desligamento. Ele havia sido indicado para o cargo pelo então ministro chefe da Casa Civil do Governo do ex-presidente Lula, José Dirceu.

Duque chegou a ser detido em novembro de 2014, mas foi solto em dezembro após uma decisão favorável do ministro Teori Zavascki no Supremo Tribunal Federal, que acatou o pedido de habeas corpus de seus advogados.

A CPI da Petrobras da Câmara dos Deputados deveria ouvir o depoimento de Duque nesta quinta-feira. Na semana passada o ex-gerente da estatal Pedro Barusco, e o ex-presidente da companhia Sergio Gabrielli compareceram à comissão.

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