Deputados defendem Cunha na CPI da Petrobras e questionam lista de Janot
Em depoimento do presidente da Câmara, colegas sugerem quebra de sigilo do procurador
O interrogatório do presidente da Câmara, Eduardo Cunha (PMDB), durante a CPI da Petrobras na manhã desta quinta-feira, funcionou como um ato de defesa do parlamentar e, indiretamente, de todos os deputados que serão investigados pela Procuradoria-Geral da República por conta do esquema de corrupção na Petrobras. Ao todo, 54 políticos, a maior parte parlamentares, serão investigados pela Lava Jato.
As críticas à investigação partiram até mesmo de petistas. O tom geral foi de ataque ao critério de escolha dos que serão investigados pelo procurador, de uma suposta interferência política na lista e das delações premiadas, que basearam os pedidos de investigação autorizados pela Justiça. A oposição pediu a quebra de sigilo telefônico do ministro da Justiça José Eduardo Cardozo e do procurador-geral, Rodrigo Janot, e indicou a intenção de convocá-los para depor na CPI.
Na sexta-feira, o Supremo Tribunal Federal autorizou a investigação de Cunha por formação de quadrilha, corrupção passiva e lavagem de dinheiro. Ele negou os indícios apresentados por Janot para justificar a investigação.
Durante as quase cinco horas do depoimento, ele recebeu apoio irrestrito dos partidos, tanto da situação como da oposição. “Foram usadas regras distintas para assuntos que o procurador tratou como iguais. O caso de vossa excelência diverge de todos os que temos em mãos”, disse Carlos Sampaio, líder do PSDB, partido que já se mostrou alinhado com o PMDB na CPI.
O PT também partiu para a defesa de Cunha e aproveitou para questionar a inclusão de outros parlamentares na investigação, incluindo alguns de sua legenda. “O processo de delação premiada está por um fio”, disse o líder do partido na Câmara, Sibá Machado (PT-AC). “O que essa casa tem em mãos não nos leva a ver por que seu nome foi citado. Esperamos separar aqui na comissão disputas políticas de fatos concretos”, disse ele. A fala veio em contradição com o exposto pela deputada Maria do Rosário, também do PT, que refutou a insinuação de que houve escolha política. “Não acredito em politização do procurador. Não é razoável pensar que uma instituição autônoma esteja fazendo um jogo político”, disse ela, que manifestou, no entanto, o apoio do partido a Cunha.
Os questionamentos mais duros vieram do deputado Ivan Valente (PSOL), que perguntou ao presidente da Casa se ele estaria disposto a autorizar a quebra de seu sigilo financeiro e telefônico, e de Clarissa Garotinho (PR), que chegou a chamar o depoimento, ironicamente, de uma “reunião de confraternização”. Ela perguntou se ele tinha contas no exterior, o que ele negou. Ao pedido de Valente, Cunha afirmou que, caso a comissão acreditasse ser necessário, poderia pedir a quebra dos sigilos, mas ele não o faria para não “constranger” outros deputados a fazerem o mesmo.
Aproveitando o clima amistoso e a posição comum de desqualificação de alguns dos critérios usados por Janot, o Solidariedade aproveitou para apresentar um requerimento na comissão em que pede a quebra do sigilo telefônico tanto do procurador-geral quando do ministro da Justiça, que se reuniram dias antes da divulgação da lista. O Solidariedade tem o deputado Luis Argôlo (SDD-BA) na lista de políticos investigados da PGR que seguiu para o Supremo na semana passada. Cardozo afirmou que o encontro tratou de ameaças feitas a Janot. Para o deputado Paulo Pereira da Silva, o Paulinho da Força Sindical (sindicato opositor ao PT), a investigação é necessária para “compreender a possibilidade da manipulação do curso das investigações”. Também foi manifestada a intenção de convocar ambos para depor.
Ao final, Cunha afirmou à imprensa, quando questionado sobre a forma pouco incisiva como foi inquirido. “Não tem CPI leve, nem pesada. O que tem são os fatos. Se você achou que foi leve, é porque os fatos são leves.”
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