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Iraque acusa o Estado Islâmico de destruir outra cidade milenar

Bagdá diz que jihadistas destruíram Hatra, Patrimônio da Humanidade pela Unesco

A cidade do Império Parta de Hatra, em 2005.
A cidade do Império Parta de Hatra, em 2005.Antonio Castaneda (AP)

O grupo jihadista Estado Islâmico (EI) destruiu neste sábado Hatra, uma cidade milenar do Império Parta, declarada Patrimônio da Humanidade pela Unesco. Hatra já é o terceiro sítio arqueológico atacado pelos radicais no norte do Iraque desde o fim de fevereiro. As ruínas de Hatra, com mais de 2.000 anos, ficam na província setentrional de Nínive, nas mãos dos extremistas desde junho e cenário das outras agressões contra o patrimônio iraquiano.

O governador da zona de Hatra, onde se localiza a área arqueológica do mesmo nome, Ali Saleh, disse que “os jihadistas arrasaram com grandes tratores vários monumentos arqueológicos, como o palácio, o templo e a muralha interna de Hatra”, 80 quilômetros a sudoeste de Mossul. O Ministério de Turismo e Antiguidades do Iraque declarou, por sua vez, que a cidade foi saqueada e destruída. “Apesar das advertências de que os crimes do EI prosseguiriam em outros sítios arqueológicos, a resposta não esteve no nível exigido”, lamentaram em uma nota as autoridades iraquianas, que criticaram “a lentidão do apoio da comunidade internacional”.

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O ataque contra Hatra ocorreu depois que, na quinta-feira, os jihadistas arrasaram a cidade assíria de Nimrud, em Nínive. Uma semana antes, eles já haviam destruído o Museu da Civilização de Mossul, também em Nínive. Hatra, declarada Patrimônio da Humanidade pela Unesco em 1985, é uma grande cidade fortificada situada na zona de influência do Império Parta, que resistiu duas vezes a ataques romanos graças à sua muralha provida de torres.

Agora, porém, não resistiu ao ataque do EI, que controla a região de Hatra desde junho e transformou a área em uma zona de treinamento. Desde então, não se conhece o paradeiro da maioria das valiosas estátuas que adornavam as paredes dos templos, segundo o governador Saleh. Ele disse que os jihadistas podem tê-las roubado antes de destruir amplas áreas da cidade. Antes da chegada dos extremistas, o sítio histórico já havia sido saqueado e estava bastante descuidado pelas autoridades.

O investigador de arqueologia antiga Mahmud al Doleimi lembrou que no início dos anos 1970 foi roubado o busto do rei Senotroq. Esse monarca foi um dos mais famosos entre os governantes que deixaram uma clara marca na construção e prosperidade de Hatra (em árabe, Al Hadr). No início dos anos 1980, desconhecidos roubaram três estátuas importantes que representavam personalidades de Estado. Em 2003, durante a invasão norte-americana do Iraque, desapareceram outras peças.

Al Doleimi se queixou de que a zona não tinha câmeras de vigilância suficientes, enquanto um estudo feito pela Universidade de Mossul em 2010 alertara que Hatra corria o risco de ser sepultada pela areia por causa do avanço do deserto. Sob as dunas ainda há muitos tesouros. Segundo Al Doleimi, as escavações arqueológicas realizadas na zona entre os anos de 1951 e 1995 não cobriram nem 7% do total da superfície.

A Unesco destaca que os vestígios da cidade de Hatra, e mais concretamente os de seus templos de arquitetura greco-romana com ornamentos orientais, testemunham a grandeza dessa civilização. Hatra, que se acredita ter sido fundada no início do século II a.C., possuía um sofisticado sistema de banhos com mosaicos e relevos, além de uma arquitetura que a situava à altura, segundo alguns especialistas, da antiga Roma. Toda essa história não freia os extremistas do EI, que justificam seus atos de vandalismo afirmando que os povos da antiguidade adoravam ídolos, “em vez de Alá”.

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