_
_
_
_
_
Editoriais
São da responsabilidade do editor e transmitem a visão do diário sobre assuntos atuais – tanto nacionais como internacionais

Terremoto brasileiro

Se não agir politicamente no “caso Petrobras”, Rousseff pode ser arrastada pelo escândalo

Dilma Rousseff enfrenta, sem dúvida, o que constitui o maior desafio de sua carreira com o escândalo político-financeiro na petroleira estatal Petrobras e a trama de corrupção criada ao redor da empresa durante anos, que envolve centenas de pessoas dos estratos mais importantes do país. A lista de 54 pessoas entregues pela Procuradoria ao Supremo Tribunal já deixa entrever  um verdadeiro terremoto na vida brasileira. Mas a mesma lista e a ação da Procuradoria são um bom indicativo de que a justiça está agindo. O alto tribunal decidirá agora, com as provas apresentadas, sobre perfis muito influentes no presente e no futuro do gigante sul-americano. De acordo com o que se conhece, é provável que dê luz verde a um processo sem precedentes na história recente brasileira.

Mais informações
Às vésperas da lista, “advogado de meio Congresso” celebra vitória
CPI da Petrobras usará espiões para rastrear dinheiro no exterior
Relação do PT e PMDB vive teste decisivo com operação Lava Jato
Caso Petrobras satura o mercado de advogados de primeira linha

Chegando a este ponto, Rousseff não pode lavar as mãos e permanecer à margem como outra cidadã qualquer. Na verdade, ela presidiu o Conselho de Administração da Petrobras entre 2003 e 2010. Os brasileiros exigem soluções políticas e o mais rápido possível. A presidenta foi reeleita em novembro passado para um segundo mandato por uma margem pequena e desde então sua aceitação popular só caiu. A manifestação convocada para o dia 15 pedindo sua destituição – e a crescente discussão sobre um (improvável) impeachment no Congresso – são sintomas de que se não for colocada, sem rodeios, em primeiro plano a denúncia e o combate ao sistema de corrupção encarnado pela Petrobras, a maré gerada pela exigência de limpeza pode arrastá-la.

Depois de mais de uma década de êxitos sociais, crescimento econômico e aumento da influência internacional como nunca antes, o Brasil enfrenta um momento delicado: seus líderes devem ser muito cuidadosos para não perder os avanços conseguidos com o esforço de toda a sociedade. A corrupção é o pior dos cartões de apresentação para um país que exerce a liderança regional. E a sensação que contaminou o sistema político e financeiro é um dos principais perigos para o funcionamento democrático do país. É a porta pela qual pode entrar um populismo ao qual até agora, felizmente, o Brasil esteve imune. Rousseff deve tomar medidas contra a corrupção e ajudar a esclarecer o escândalo. Tanto ela quanto o país estão apostando alto nisso.

Mais informações

Arquivado Em

Recomendaciones EL PAÍS
Recomendaciones EL PAÍS
_
_