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Armadilhas nas serras da Espanha ameaçam ciclistas e causam acidentes

Um homem fica paraplégico ao se chocar com uma pedra em um caminho

Virginia López Enano
A armadilha que o ciclista Alberto Rodríguez encontrou em Madri.
A armadilha que o ciclista Alberto Rodríguez encontrou em Madri.A. Rodríguez

Manuel Fernández, de 57 anos, saiu no começo do ano passado para andar de bicicleta com amigo pelas serras entre as localidades de Bueño e Palomar (região das Astúrias, Espanha). Ia na frente em uma descida não muito pronunciada com a vista fixa no chão. Não queria tropeçar em ramos ou pedras. Não olhou para a frente. Mesmo se tivesse olhado talvez não tivesse visto que se aproximava perigosamente de um pedaço de arame farpado, pendurado entre duas árvores.

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O golpe no rosto foi inevitável. Fernández caiu de costas. Abriu os olhos e então viu o pedaço de cabo balançando sobre sua cabeça. Havia topado com uma das várias armadilhas que nos últimos anos estão se proliferando nas serras espanholas, segundo vários coletivos de ciclistas e motociclistas consultados pelo EL PAÍS. Algumas, como o arame que desfigurou o rosto de Fernández, não são intencionais, apenas fruto de imprudência. Pastores, por exemplo que colocam divisórias improvisadas para que os rebanhos não se dispersem. Mas muitas outras são colocadas por caçadores, pecuaristas ou proprietários de terras para afugentar os incômodos ciclistas e motoqueiros dos caminhos.

Fernández esteve perto de perder meio lábio. O corte, do nariz até o canto da boca, foi grande e profundo. Teve sorte. Não chocou o pescoço. “Fiquei consciente o tempo todo. Não entendia por que tinha caído, mas notava um golpe no lábio. Pensei que tinha me arrancado a dentadura e o primeiro que fiz foi perguntar a um dos meus companheiros se ainda tinha com meus dentes”, lembra-se Fernández.

É incrível que existam pessoas capazes de colocar um arame, sabendo que isso pode matar

Ángel Viladoms

“Alguns dos obstáculos são acidentais, são colocados sem saber que podem ser perigosos, mas outros estão feitos com más intenções”, explica Víctor Tarodo, vice-presidente da Associação Internacional de Bicicleta de Montanha (Imba, na sigla em inglês). Fernández sentiu o arame farpado, mas Diego não teve tanta sorte. Há poucos meses uma enorme pedra colocada no meio do caminho, no alto de uma subida, o deixou paraplégico. O tribunal número 3 de Vigo abriu uma investigação para apurar o caso, com três pessoas acusadas.

“A pedra com a qual Diego se chocou não foi colocada por uma única pessoa, esse peso só pode ser movido por três homens”, assegura Tarodo, ao alertar que essa prática está aumentando sobretudo na Galícia. A Guarda Civil abriu uma investigação por várias armadilhas nas serras de Verducido (Pontevedra).

Manuel Fernández, depois do acidente.
Manuel Fernández, depois do acidente.Miki López (La Nueva España)

Diego e Manuel são as piores vítimas depois do encontro com uma dessas armadilhas, mas outros ciclistas viram como pregos enormes cravados em tábuas de madeira estouravam os pneus de suas bicicletas ao passarem, sem ver, por cima.

Os ciclistas não são o único coletivo que sofre com esta prática. Os motoqueiros também são vítimas desta prática que pode terminar sendo ainda mais mortal. “É incrível que existam pessoas capazes de colocar um arame, sabendo que isso pode matar”, exclama Ángel Viladoms, presidente da Real Federação de Motociclistas da Espanha. Viladoms afirma que os responsáveis são indivíduos isolados cujo objetivo é “fazer verdadeiros estragos”.

Enquanto os culpados escondem suas armadilhas debaixo das folhas da serra, Fernández tenta esquecer o acidente que quase leva à perda de seu lábio. Demorou 15 dias para voltar a subir em sua bicicleta, mas agora sempre olha para a frente.

Imagens fortes: vídeo mostra acidente.

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