O grito contra a desigualdade de gênero de Patricia Arquette no Oscar
Patricia Arquette pede às mulheres que lutem por seus direitos nos Estados Unidos Seu papel de mãe em 'Boyhood' rendeu o prêmio de Melhor Atriz Coadjuvante
Que as mulheres ganham menos do que os homens é uma verdade universal da qual nem a meca do cinema se livra. Patricia Arquette aproveitou os agradecimentos de seu Oscar de Melhor Atriz coadjuvante por seu papel de mãe em Boyhood para dizê-lo em alto e bom som. Em um discurso apaixonado, que ela levou por escrito, Arquette lembrou que as mulheres lutaram historicamente pelos direitos de todos os demais grupos, mas que chegou o momento de lutar pelos próprios. E que a igualdade, ainda que muitos neguem, só existe no papel.
Depois de uma tradicional lista de agradecimentos encabeçada pela própria Academia, seguida de sua família, de seu “fantástico diretor” Richard Linklater e de “toda a família de ‘Boyhood’”, a atriz, filha e irmã de atores, de 47 anos e mãe de dois filhos, aproveitou que estava sendo vista por milhões de espectadores de todo o mundo para dirigir-se especificamente à audiência feminina: “A todas as mulheres que deram à luz, que pagam seus impostos e que são cidadãs desta nação, lutamos pelos direitos de todos os demais. Já é hora de termos de uma vez por todas o mesmo salário (dos homens) e os mesmos direitos para as mulheres dos Estados Unidos da América”.
A diferença salarial em Hollywood é abismal. Segundo um relatório minucioso publicado há um ano por The Hollywood Reporter, que reúne literalmente o que ganha até o último zé ninguém, o ator mais bem pago foi Robert Downey Jr., que ganhou 75 milhões de dólares (mais de 210 milhões de reais) entre junho de 2013 e junho de 2014, enquanto sua correspondente feminina foi Jennifer Lawrence, que no mesmo período embolsou 35 milhões (cerca de 100 milhões), menos da metade.
A última lista da revista Forbes de atores homens com os salários mais altos também coloca Robert Downey Jr. na primeira posição, repetindo o posto pelo segundo ano consecutivo, enquanto a lista das mulheres é encabeçada por Sandra Bullock, que cobra 51 milhões de dólares (cerca de 142 milhões de reais). Se fosse mista, Bullock ocuparia a terceira posição da lista, mas no top ten haveria apenas mais uma mulher, Jennifer Lawrence, com 34 milhões de dólares (cerca de 97 milhões de reais). Em 2013, a atriz que ostentava o posto de mais bem paga foi Angelina Jolie, com 33 milhões de dólares (94 milhões de reais). Os 10 homens com melhores contracheques levaram um total de 419 milhões de dólares (cerca de 1,2 bilhão de reais), enquanto elas ficaram em 226 milhões de dólares (646 milhões de reais).
Já é hora de termos de uma vez por todas o mesmo salário e os mesmos direitos para as mulheres dos EUA
As palavras de Arquette, que recebeu seu primeiro Oscar e que já tinha levado o Globo de Ouro e o Bafta pelo mesmo papel, foram acolhidas por um aplauso caloroso da audiência, especialmente de colegas como Meryl Streep, também indicada na mesma categoria —cujos veementes gestos de yes oh yes encontraram eco rápido nas redes sociais— e Jennifer López, sentada ao seu lado. Também foi aplaudida com entusiasmo por muitos homens, como Ethan Hawke, colega de elenco de Arquette.
A atriz, na sala de imprensa, reiterou sua posição. “É indesculpável que continuemos pelo mundo falando de igualdade da mulher em outros países e não tenhamos os mesmos direitos nos Estados Unidos”, afirmou para os jornalistas, acrescentando que nos EUA há uma “sensação” de igualdade, mas que é superficial.
Para Arquette, o problema está no fato de que a Constituição do país não foi escrita pensando na igualdade de direitos da mulher e insistiu para que seja alterada. “Precisamos de leis federais amplas”, declarou.
Várias outras atrizes já se queixaram bastante no passado. É o caso de Gilliam Anderson, a agente Scully de Arquivo X, que revelou que seu salário era muito menor do que o de seu colega David Duchovny, “mas isso acontece o tempo todo em Hollywood”. No Festival de Cannes, Cate Blanchett afirmou: “Estamos em um mundo em que, em pleno ano de 2014, ainda não se paga o mesmo para homens e mulheres. Não entendo”. E isso para falar apenas de salários.
Tu suscripción se está usando en otro dispositivo
¿Quieres añadir otro usuario a tu suscripción?
Si continúas leyendo en este dispositivo, no se podrá leer en el otro.
FlechaTu suscripción se está usando en otro dispositivo y solo puedes acceder a EL PAÍS desde un dispositivo a la vez.
Si quieres compartir tu cuenta, cambia tu suscripción a la modalidad Premium, así podrás añadir otro usuario. Cada uno accederá con su propia cuenta de email, lo que os permitirá personalizar vuestra experiencia en EL PAÍS.
En el caso de no saber quién está usando tu cuenta, te recomendamos cambiar tu contraseña aquí.
Si decides continuar compartiendo tu cuenta, este mensaje se mostrará en tu dispositivo y en el de la otra persona que está usando tu cuenta de forma indefinida, afectando a tu experiencia de lectura. Puedes consultar aquí los términos y condiciones de la suscripción digital.